
O voto do ministro Luiz Fux a favor da absolvição de Jair Bolsonaro no julgamento da trama golpista foi recebido como um alívio pelo bolsonarismo. No entanto, essa esperança tem prazo de validade. Fux será o primeiro ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) a se aposentar compulsoriamente na próxima gestão presidencial, em abril de 2028, e seu substituto deverá ser indicado pelo futuro presidente da República.
A oposição trabalha com o cenário de eleger Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) para o Planalto em 2026. O governador já declarou que concederia indulto a Bolsonaro como sua primeira medida caso chegue à Presidência. Além disso, ele poderia nomear ministros ao STF mais alinhados com essa pauta. Ainda assim, os cálculos não consideram a saída de Fux, vista como um revés para os planos bolsonaristas.
Além de Fux, outras duas aposentadorias estão no horizonte: Cármen Lúcia em abril de 2029 e Gilmar Mendes em dezembro de 2030. Ou seja, até o fim da próxima década, três cadeiras do Supremo estarão em aberto, abrindo espaço para forte disputa política na definição dos novos nomes.
Nos bastidores, líderes do Centrão têm usado o voto de Fux como argumento para esvaziar as pretensões presidenciais de Eduardo Bolsonaro (PL-SP). A avaliação é que apenas Tarcísio teria condições de dialogar com o Judiciário para tentar medidas que beneficiem o ex-presidente condenado, enquanto qualquer candidato do clã Bolsonaro teria portas fechadas no STF.

O desgaste recente de Tarcísio com ministros da Corte, após falas em que classificou o Supremo como “tirano” e “ditador”, ainda preocupa, mas a leitura política é que sua imagem poderia ser recuperada em um cenário nacional. Já Eduardo Bolsonaro é considerado um nome inviável para recompor pontes com o Judiciário.
O cálculo da oposição, portanto, envolve não apenas a eleição de Tarcísio, mas também o poder de indicar até três ministros ao STF. Para os aliados, essa seria a única forma de sonhar com uma mudança de ventos que permita aliviar a situação de Bolsonaro, já condenado a 27 anos de prisão por crimes contra a democracia.