As análises políticas sobre os Estados Unidos têm sido contaminadas pelo reducionismo em torno da figura do presidente Donald Trump, mas uma avaliação mais detalhada revela um quadro bem diferente daquele proposto pela mídia mainstream.
“O que me incomoda muito nas análises sobre a questão do trumpismo é o reducionismo, é reduzir a hecatombe que os EUA estão vivendo à figura do Trump, ao individualismo do Trump (…)”, pontua o cientista político e pesquisador Pedro Costa Junior em entrevista à TV GGN.
Na visão do analista, essa é uma saída muito fácil e que tem sido adotada inclusive pelos democratas – “se você pegar o que os analistas democratas fazem, eles estão fazendo isso. E os analistas aqui no Brasil, que são influenciados pelos democratas (que são a esmagadora maioria, sobretudo no mainstream), eles vão repetir isso”.
Pedro Costa Junior lembra que Trump é um sintoma, um “desdobramento do declínio”.
“O declínio não começou no governo Trump. O (governo) Biden já era o declínio. O que o Biden vinha fazendo no mundo já era o declínio. Ele já era o declínio. A mesma coisa o Obama, a mesma coisa o (George W.) Bush – a doutrina Bush, o declínio vem de lá”, afirma Pedro Costa Junior ao ressaltar que Trump é um “desdobramento do declínio”.
“Quem desrespeitou a ONU, quem desrespeitou e humilhou o Conselho de Segurança da ONU foi George W. Bush em 2003. Já faz mais de duas décadas. Foi ele quem desrespeitou (…)”.
Os EUA e a sabotagem contra OMC
Costa Junior lembra que foi no governo do então presidente Barack Obama que os EUA começaram a sabotar o andamento dos trabalhos da Organização Mundial do Comércio (OMC).
“Quem sabotou a Organização Mundial do Comércio, quando nós tínhamos um secretário-geral brasileiro, o diplomata Roberto Azevedo (…) Quem começou a sabotar a OMC foi o Obama, foi um dos democratas”, afirma.
Pedro Costa explica que os norte-americanos enviavam representantes não para fazer negociações, mas para travar as conversas. “Eles começaram a ver que o grande erro foi ter aceitado a China entrar em 2001, e que depois que a China entra na OMC em 2001, explode a questão. O comércio chinês se torna incontrolável, então eles precisam parar a China – então, eles começam a parar a própria organização, e depois o Trump dá um passo mais além, o Biden continua (…)”.
Na visão do cientista político, o declínio dos Estados Unidos vem de longe. “O Trump não é o declínio em si, ele é uma resposta da sociedade americana. A questão é muito mais profunda (…)”
Veja mais a respeito do tema na íntegra do programa TV GGN 20 horas, que pode ser acompanhado no link abaixo.