Nesta semana, o Itaú anunciou a demissão de mil funcionários em regime de trabalho híbrido ou remoto. Em 2023, o lucro do Itaú foi de R$ 40,2 bilhões; em 2024, R$ 41,4 bilhões; e só no primeiro semestre de 2025, R$ 26,6 bilhões. Esses funcionários ajudaram a construir esse lucro bilionário. Mas, se não havia crise financeira, qual foi o argumento para as demissões? O Itaú declarou que o motivo foi a baixa produtividade no trabalho remoto. Será verdade?
Com o advento do home office, discutiu-se o que é ser produtivo no trabalho remoto. Aumentaram os casos de assédio moral, microgerenciamento e metas maiores; por outro lado, surgiram formas de gestão que concedem mais autonomia aos funcionários, baseadas em entregas periódicas. Esse último modelo foi jogado na lata de lixo pelo Itaú: funcionários premiados e recentemente promovidos foram demitidos pelo número de cliques. Esses funcionários podem ser estigmatizados como “pouco produtivos” ao buscar recolocação no mercado.
As demissões no Itaú foram, na verdade, um corte de gastos operacional, com um véu de “defesa da ética e cultura” do banco. Em 2023, por exemplo, apesar do lucro gigantesco, o Itaú demitiu 3.292 funcionários, não repostos, com diversas justificativas.
Movimento sindical bancário precisa fazer forte campanha!
As demissões em massa são uma chaga no setor bancário. O Santander, por exemplo, reduziu o número de bancários de 50 mil para 17 mil, principalmente por meio de terceirizações. Frente a essa situação, é preciso reagir, aproveitando a indignação geral na sociedade. O Sindicato dos Bancários de São Paulo (SEEB/SP) convocou uma reunião com mais de 400 bancários do Itaú, decidindo por ações coletivas por danos morais e reintegração.
Porém, é necessário ir além. Os funcionários da Caixa Econômica Federal (CEF) também estão lutando pela manutenção do plano de saúde, o Saúde Caixa. É necessário unificar esses processos para obrigar os bancos a recuarem. A CONTRAF/CUT, à qual o SEEB/SP é filiado, deve convocar um encontro nacional do setor, visando construir uma campanha contra as demissões e pelo Saúde Caixa, rumo a uma greve unificada da categoria. Ou se reage à altura, ou os demais bancos se sentirão à vontade para demitir em massa como o Itaú ou acabar com os planos de saúde, como a Caixa.
O Governo Federal deve intervir no Itaú e criar leis para proteger contra demissões em massa
O governo Lula poderia intervir no Itaú e, por meio de Medida Provisória (MP), exigir a reversão dessas demissões, afinal o governo concede a licença para os bancos operarem. Mas é necessário ir além. Assim como a Taurus ameaçou demitir trabalhadores durante o anúncio do tarifaço de Trump, as empresas hoje são livres para demitir em massa. Considerando o impacto das novas tecnologias na redução de postos de trabalho, é necessário instaurar um arcabouço legal que proíba demissões em massa e que estatize as empresas, sob controle social, caso isso ocorra. A redução da jornada de trabalho, com a semana de 4 dias, também ajudaria a criar empregos e evitar demissões em massa.
Isso exige um enfrentamento com o empresariado nacional e imperialista que o governo Lula não fez até agora. A CONTRAF/CUT vai continuar defendendo o governo ou vai pressioná-lo para defender essas propostas?
A saída para os trabalhadores é a estatização do sistema financeiro
Outra medida importante seria a estatização do sistema financeiro, unificando todos os bancos e fintechs em um único Banco Público e Estatal, sob controle social, ou seja, sob controle das organizações dos trabalhadores e por comitês de clientes do Banco. Isso resolveria a causa raiz das demissões no Itaú, pois o banco estaria a serviço das necessidades da população e não de lucros cada vez maiores.
Além disso, resolveria o estrangulamento das finanças estatais por conta dos títulos da dívida pública, que consomem metade do Orçamento. Com a estatização dos bancos, a dívida seria incorporada no Tesouro, permitindo baixar as taxas de juros, evitando a quebradeira do Estado e dos próprios bancos.
Por fim, seria possível ter um controle maior sobre a circulação do dinheiro, permitindo acompanhar a movimentação financeira das empresas, propiciando uma fiscalização rigorosa e evitando casos como o escândalo do PCC na Faria Lima. A centralização também impediria fugas de capitais e maior controle a ataques cambiais de potências hostis, como os Estados Unidos.
Quem vai resolver essas questões? A ultradireita não é alternativa, pois só lambe as botas dos Estados Unidos e da Faria Lima. O PT também não vai resolver, pois não se enfrenta com o capital financeiro, que, aliás, financia as suas campanhas. Por isso, só a mobilização independente dos trabalhadores pode empurrar a CONTRAF/CUT a sair do imobilismo e exigir do governo a implementação dessas propostas.