Duas pesquisas divulgadas nesta semana reforçam um mesmo diagnóstico: a avaliação do governo Lula 3 começa a dar sinais consistentes de recuperação. A tendência positiva para o governo se acentua na semana em que o ex-presidente Jair Bolsonaro foi julgado e condenado, um ano antes do pleito eleitoral em que Lula deve buscar a reeleição.
Na quarta-feira (10), o Datafolha apontou crescimento da aprovação para 33% — o melhor índice de 2025 — contra 38% de reprovação. Já nesta quinta (11), o Ipsos-Ipec confirmou o movimento: a parcela que avalia o governo como ótimo ou bom subiu de 25% para 30%, enquanto a negativa caiu de 43% para 38%.
O dado chama atenção porque, pela terceira vez no atual mandato, a avaliação ruim/péssima ainda supera a positiva. Mas a tendência mostra inflexão: a percepção negativa parece ter atingido seu pico em junho, quando a desaprovação alcançou 43% no Ipsos-Ipec e 41% no Datafolha.
O que mudou no cenário
O “respiro” vem após um primeiro semestre marcado por desgaste político e econômico — desde a artificial “crise do Pix”, estimulada por fakenews bolsonaristas até o impacto da alta de preços dos alimentos. Agora, três fatores ajudam a explicar a recuperação:
Crise da direita – O julgamento de Jair Bolsonaro no STF por tentativa de golpe e os ataques de Donald Trump em defesa do aliado expuseram contradições no campo oposicionista.
Estratégia nacionalista – O Planalto aproveitou o 7 de Setembro para reforçar a defesa da soberania nacional, em resposta à pressão norte-americana. A narrativa dialogou com a base popular do governo, mas também com setores das classes médias.
Manutenção de programas sociais – Apesar das dificuldades fiscais, Lula preservou a ampliação do Bolsa Família e buscou sinalizar compromisso com emprego e renda.
Quem aprova e quem critica
Os levantamentos revelam padrões já conhecidos:
Apoio mais forte no Nordeste (45% no Datafolha, 46% no Ipsos-Ipec), entre os mais pobres e menos escolarizados, além de católicos.
Rejeição maior no Sul, entre evangélicos, brancos e famílias de renda acima de cinco salários mínimos.
Mas há sinais de avanço em grupos estratégicos. Entre evangélicos, a aprovação subiu de 18% para 27% no Datafolha. No Nordeste, bastião lulista, houve salto de sete pontos percentuais, consolidando o papel da região como contrapeso à rejeição em outros centros urbanos.
Aprovação pessoal de Lula
Além da avaliação do governo, o Ipsos-Ipec mostrou melhora na aprovação pessoal do presidente: passou de 39% para 44%. A desaprovação recuou de 55% para 51%. Já no Datafolha, o movimento foi semelhante: 48% aprovam o trabalho de Lula, contra 46% em julho, e a desaprovação caiu de 50% para 48%.
“O governo recupera fôlego ao reverter a queda nos índices de aprovação, mas esse movimento ainda está concentrado na base mais fiel. O desafio é conquistar outros segmentos da sociedade”, analisou Márcia Cavallari, diretora da Ipsos-Ipec.
Comparações históricas
Apesar do desgaste, Lula mantém posição mais favorável que a de Jair Bolsonaro no mesmo período de mandato. Em 2019, o então presidente tinha apenas 22% de aprovação e 53% de reprovação.
Essa diferença ajuda o Planalto a sustentar o discurso de que a recuperação é viável, especialmente se conseguir traduzir a retórica de soberania nacional em resultados concretos na economia e no cotidiano da população.
Cenário em aberto
Os números apontam para uma recuperação incipiente, mas relevante. A diferença entre aprovação e reprovação ainda é pequena — cinco a oito pontos percentuais, dependendo do instituto — e pode oscilar diante de novos choques.
A relação com os EUA, os efeitos do tarifaço de Trump, o ritmo da economia e a condução das reformas no Congresso estão entre os fatores que podem determinar se Lula consolidará essa recuperação.
Por ora, o dado essencial é que, após meses de crise, o governo Lula parece ter interrompido a tendência de queda e começa a reocupar espaço no debate político.