
Felipe Borges
Pragmatismo Político
A revelação da identidade do jovem acusado de matar o influenciador de extrema-direita Charlie Kirk provocou um silêncio constrangedor nos círculos conservadores nos Estados Unidos e no Brasil. Durante um programa ao vivo, apresentadores da Fox News ficaram visivelmente desconcertados com a divulgação feita pelo FBI: o suspeito não corresponde ao perfil que a direita esperava apontar.
Trata-se de Tyler Robinson, 22 anos, estudante do Estado de Utah, branco, proveniente de uma família conservadora e republicana. Seu pai é policial. O governador de Utah, Spencer Cox, confirmou a identidade em coletiva de imprensa nesta sexta-feira, 12, descrevendo-o como um “atirador solitário”, ainda que as investigações continuem em andamento.
Antes da divulgação da identidade do atirador, diversos influenciadores e grupos de extrema-direita fizeram diversas especulações, inclusive a de que o autor do atentado poderia ser uma ‘pessoa trans’.
A verdade, porém, é que o assassino de um de seus mais proeminentes ativistas provém justamente do mesmo ambiente conservador que alimenta a retórica de armas e radicalização.
Evidências e mensagens gravadas nas balas
Segundo o governador, a polícia reuniu um conjunto de provas que sustentam a acusação. Entre elas estão gravuras deixadas em balas encontradas no rifle que teria sido usado no ataque. Em uma delas, lia-se: “Ei, fascista! Pegue!”. Outra trazia uma inscrição debochada: “Se você ler isso, você é gay, kkkk”.
As cápsulas também exibiam referências ao universo digital. Uma delas apresentava símbolos de seta — “para cima, para a direita e três vezes para baixo” — que, segundo investigadores, remetem a uma sequência de movimentos em jogos como Helldivers. Outra exibia a frase “Observa protuberâncias OWO, o que é isso?”, expressão recorrente em comunidades de RPG online.
Uma munição intacta trazia ainda a inscrição “Bella ciao”, referência à canção italiana associada à resistência antifascista durante a Segunda Guerra Mundial.
Prisão e arma apreendida
O diretor do FBI, Kash Patel, informou que Robinson foi preso na noite de quinta-feira, 11, em St. George, cidade a cerca de 400 quilômetros do campus universitário onde estudava. A captura ocorreu após a divulgação de imagens e vídeos do suspeito, nas quais aparecia usando boné, camisa preta de manga longa e mochila.
Próximo à Universidade do Vale de Utah, investigadores encontraram o armamento supostamente utilizado: um rifle Mauser calibre .30, de ação por ferrolho, enrolado em uma toalha. A arma apresentava um cartucho deflagrado na câmara e outras três munições carregadas no pente. Todo o material foi encaminhado para análise em um laboratório federal.
O pai entregou o filho
Um detalhe decisivo no desfecho das buscas foi o papel da família. O pai de Robinson reconheceu o filho nas imagens divulgadas pela imprensa e, segundo a polícia, procurou um líder religioso para mediar a entrega. “Quero agradecer aos familiares, que fizeram a coisa certa”, declarou o governador Cox.
Reações políticas e silêncio da direita
A confirmação da identidade do atirador deixou aliados de Charlie Kirk em posição delicada. Figuras conservadoras aguardavam ansiosamente pela revelação para reforçar o discurso de que o crime seria fruto de uma suposta conspiração da esquerda radical. Ao constatarem que o acusado é branco, republicano e filho de policial, a reação foi de embaraço.
O episódio teve repercussão imediata nos Estados Unidos. O ex-presidente Donald Trump defendeu a aplicação da pena capital: “Eles têm pena de morte em Utah e há um ótimo governador lá. Ele é bem favorável à pena de morte neste caso.”
A fala gerou incômodo nos bastidores, já que o governador Cox também é republicano, assim como a família do acusado.
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