O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou nesta quinta-feira (11) que “não haverá Estado palestino” e assinou um acordo para avançar com a expansão do assentamento de Ma’ale Adumim, na Cisjordânia ocupada.
O projeto conhecido como E1 prevê a construção de 3.412 casas e, segundo organizações de monitoramento, tornará impossível a criação de uma Palestina viável ao cortar a Cisjordânia em duas e isolar Jerusalém Oriental.
O acordo assinado por Netanyahu, apresentado como uma cerimônia simbólica, garante a continuidade de um projeto paralisado por anos diante da pressão internacional. A área do E1, com 12 km², conecta Jerusalém ao assentamento de Ma’ale Adumim e é considerada estratégica por defensores da colonização.
O ministério da Defesa israelense aprovou formalmente os planos, que envolvem investimento estimado em quase US$1 bilhão, incluindo abertura de estradas e modernização de infraestrutura. O governo anunciou que o objetivo é “dobrar a população da cidade” e consolidar a ligação entre dezenas de assentamentos já existentes na região.
Especialistas em direito internacional alertam que a medida viola a Quarta Convenção de Genebra e configura crime de guerra.
Para entidades como a Peace Now, que acompanha a atividade de colonos, o E1 é “letal para o futuro de Israel e para qualquer chance de alcançar uma solução pacífica de dois Estados”.
O projeto também tem dimensão política: governos ocidentais, como Reino Unido e França, anunciaram recentemente a intenção de reconhecer a Palestina na ONU, e ministros da direita israelense reagiram intensificando a defesa de anexação da Cisjordânia.
Smotrich prega anexação da Cisjordânia
Na cerimônia, Netanyahu foi acompanhado pelo ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, líder do sionismo religioso e responsável por pressionar pela aceleração do plano. Smotrich afirmou que o próximo passo será “celebrar a aplicação da soberania em toda a Judeia e Samaria”, nome bíblico utilizado pela direita israelense para se referir à Cisjordânia.
Segundo ele, a expansão do E1 não apenas inviabiliza um Estado palestino como “enterra” definitivamente qualquer possibilidade de negociação de paz. Em declarações anteriores, o ministro já havia defendido que a Autoridade Palestina “desapareça do mapa” e que os territórios ocupados sejam formalmente anexados a Israel.
Netanyahu, por sua vez, insistiu que a decisão é um “grande passo para realizar uma visão” de segurança e identidade nacional judaica. Ele repetiu que “este lugar nos pertence” e assegurou que Israel seguirá construindo novos assentamentos.
As declarações se inserem em uma trajetória política marcada pela oposição histórica de Netanyahu aos Acordos de Oslo, firmados nos anos 1990. Em vídeo de 2001, ele chegou a se vangloriar de ter “colocado fim” ao processo que previa um Estado palestino.
Reação palestina e apelo à comunidade internacional
O porta-voz presidencial da Autoridade Palestina, Nabil Abu Rudeineh, condenou o anúncio e afirmou que Netanyahu está “empurrando toda a região para o abismo”. Para ele, a criação de um Estado palestino com Jerusalém Oriental como capital é “inevitável” e representa a única chave para a paz.
Rudeineh recordou que 149 países-membros da ONU já reconheceram oficialmente a Palestina e apelou para que aqueles que ainda não o fizeram se somem à pressão diplomática. Ele também reforçou que todos os assentamentos israelenses são ilegais segundo o direito internacional.
O discurso palestino encontra respaldo em decisões recentes da comunidade internacional. Em 2024, a Corte Internacional de Justiça declarou que a presença israelense nos territórios ocupados é ilegal e exigiu a retirada de colonos. A Assembleia Geral da ONU aprovou resolução semelhante no mesmo ano, com apoio de mais de 100 países.
Agora, França, Bélgica, Malta e outros governos europeus se articulam para oficializar o reconhecimento da Palestina ainda nesta sessão da ONU, ampliando o isolamento de Israel. Alemanha, por sua vez, anunciou que apoiará a proposta franco-saudita pela solução de dois Estados.
Escalada de violência na Cisjordânia
O anúncio de expansão dos assentamentos ocorre em meio a uma nova onda de violência. No início da semana, dois palestinos armados realizaram um ataque em Jerusalém, deixando seis mortos e vários feridos em um ponto de ônibus.
As forças israelenses responderam com operações militares em cidades da Cisjordânia, incluindo a demolição das casas dos suspeitos e novas prisões. Esse ciclo de ação e represália reforça a instabilidade e amplia o risco de confrontos em larga escala.
A Cisjordânia, que abriga cerca de 3 milhões de palestinos e 500 mil colonos israelenses, vive sob crescente militarização. A cada novo projeto de assentamento, a população local se vê cercada por estradas exclusivas para colonos, postos de controle e restrições severas de circulação.
Para os palestinos, a política de expansão israelense equivale a um processo sistemático de anexação e limpeza étnica. Já para os aliados de Netanyahu, trata-se de consolidar uma hegemonia territorial que sepulta qualquer possibilidade de acordo com base na coexistência de dois Estados.