Vivemos em tempos cibernéticos nunca antes vistos! Ideias e ações ganham capilaridade sem muitas vezes nem nos darmos conta que eram apenas uma mera opinião externada em um grupo de conhecidos em algumas das variadas redes sociais que temos.

Apesar de facilitar nossa comunicação, as redes sociais nos trazem um novo desafio: como lidar com a falta de freios e limites que elas nos trazem pelo simples fato de existirem? E mais: como lidar com o fato de que existe vida fora da tela do celular ou do computador?

Este é um dilema que tenho cada vez mais lido e tentado me debruçar para entender. O motivo para tal, penso eu, é justamente ser esta uma das principais causas para o que avalio ser hoje uma das maiores dificuldade dos comunistas para atuarem e se organizarem: o voluntarismo ou espontaneísmo. Em especial no mundo virtual.

O grande diferencial entre as organizações verticalizadas leninistas, como a nossa, sempre foi o princípio da ação conjunta que se dá através do centralismo democrático. Esta, que sempre foi uma das maiores qualidades de tais organizações, passa a ser questionada por muitos. Mas não do ponto de vista teórico ou ideológico, longe disso! Passa a ser questionada, mesmo que sem querer, pela prática dentro das redes sociais justamente pelo problema que citei no parágrafo anterior: a ação espontânea à frente da ação coordenada e organizada.

A necessidade de “lacrar”, de ganhar “likes” e de se auto promover coloca em xeque a disciplina partidária de a direção ser informada das ações militantes. Não são poucas às vezes que um dirigente descobre uma ação de um camarada em desacordo com as orientações partidárias pelas redes sociais. Muitas vezes, inclusive, causando problemas políticos ou mesmo constrangimento para o próprio partido.

Outra situação ainda pior é quando uma opinião pessoal de algum membro da direção é partilhada de maneira irresponsável e coloca o próprio dirigente em saia justa para com os demais, como se este tivesse dado uma orientação contrária ao definido no âmbito da direção. O compartilhamento de mensagens sem contexto é outro problema recorrente…

Uma terceira situação que se repete cada vez mais é a ideia que muitas frentes de atuação insistem em dizer que agora as lutas se dão basicamente nas redes e que reuniões presenciais são coisas ultrapassadas, criando até mesmo algo que nem existe em nosso estatuto que são as deliberações virtuais. Obviamente que em casos extremos ou urgentes, são ações importantes, mas não podem ser vistas como substituição às reuniões e atividades presenciais.

Esses três exemplos que trago, em que com certeza qualquer dirigente partidário já vivenciou é justamente o que avalio ser um dos inimigos principais que devemos combater: as ações espontâneas, uma concepção de atuação liberal cada vez mais presente em nossas fileiras. Com destaque para o mundo virtual.

Para que tenhamos condições efetivas de enfrentar esse problema, é preciso que pensemos na necessidade, inclusive em nossos documentos e resoluções, de regulamentar ou orientar como deve se dar atuação virtual dos comunistas, em especial em grupos de debate que não são fóruns partidários e que muitas das vezes, acabam agindo, mesmo que de maneira involuntária, como uma espécie de direção partidária paralela, com orientações em desacordo com a linha partidária, ou ainda pior: constrangendo publicamente dirigentes e colocando os próprios comitês como alvo por conta de duas ou três pessoas que estão em desacordo com o direcionamento construído democraticamente. Isso precisa ser combatido.

Os tempos que se avizinham são cada vez mais desafiadores. Imaginar um partido comunista que foi pensado e gestado em um mundo onde nem o rádio existia, ter que lidar com os desafios que a era da comunicação em tempo real passa a trazer é realmente um desafio sem precedentes. Se pensarmos nas necessárias atualizações estatutárias e organizativas que os comunistas do século XXI vêm fazendo pela necessidade do próprio tempo, avalio que uma espécie de normativa virtual de atuação precisa ser criada, mesmo que a título de orientação de atuação.

Enquanto não enfrentarmos de frente o desafio que a dispersão causada pelo voluntarismo nos trás, seguiremos tendo problemas para lidar com os infinitos grupos virtuais que todo dia se criam e tiram o foco de nossa ação.

Se é necessária nossa atuação virtual (e tem que ser), também precisa ser nossa atuação organizada nesses espaços, inclusive internos, garantindo a democracia partidária e o respeito aos preceitos leninistas do centralismo democrático.

Não penso que seja simples resolver essa equação, mas avalio ser uma importante batalha a ser travada para que, pelo menos, tentemos organizar nossa atuação onde hoje ainda é, infelizmente, terra de ninguém!

*Secretário de Organização do PCdoB em Ouro Preto/MG.

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Last Update: 11/09/2025