A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) voltou a desempenhar o papel de porta-voz informal do bolsonarismo nas redes sociais. Na madrugada desta quinta-feira (11), poucas horas após o ministro Luiz Fux divergir de seus colegas no Supremo Tribunal Federal (STF) e absolver Jair Bolsonaro no julgamento da trama golpista, Michelle publicou uma mensagem em tom de celebração, exaltando “coerência” e “senso de justiça” e insinuando que o processo seria marcado por “vingança” e “mentira”.
O discurso segue a cartilha já conhecida do bolsonarismo: transformar decisões judiciais em provas de perseguição e alimentar a narrativa de que o ex-presidente e seus aliados são vítimas de um complô. Michelle, que sequer citou Fux ou Bolsonaro diretamente, usou a ambiguidade calculada para reforçar a ideia de que há um “sistema” disposto a punir injustamente o marido — uma estratégia que mantém sua base mobilizada, mas pouco dialoga com a realidade das provas levantadas pela Procuradoria-Geral da República.
Na prática, a ex-primeira-dama busca ocupar espaço político próprio, projetando-se como voz da resistência bolsonarista enquanto o futuro eleitoral de Jair Bolsonaro permanece em suspenso. Ao compartilhar trechos do voto de Fux, ela tenta legitimar a tese de nulidade do processo, ignorando que outros ministros, como Alexandre de Moraes e Flávio Dino, apontaram de forma detalhada a participação de Bolsonaro e de seus aliados na trama que resultou nos ataques de 8 de janeiro.
Não se trata apenas de solidariedade conjugal. Michelle tem aproveitado cada brecha no julgamento para reforçar o discurso de vitimização e fortalecer sua própria imagem política dentro da extrema direita, que já a enxerga como alternativa eleitoral diante das incertezas jurídicas do marido. Sua manifestação, longe de defender valores democráticos, ecoa o mesmo revisionismo que tenta minimizar a gravidade da tentativa de golpe de Estado.
Com o julgamento prestes a ser retomado pelo voto da ministra Cármen Lúcia, que pode consolidar a condenação de Bolsonaro, as falas de Michelle funcionam mais como instrumento de pressão política e propaganda interna do que como análise do processo judicial. O bolsonarismo, mais uma vez, prefere apostar na retórica da perseguição a encarar as responsabilidades de seus atos.