charlie kirk trump

Felipe Borges
Pragmatismo Político

O influenciador trumpista Charlie Kirk, 31 anos, foi morto a tiros na tarde de ontem enquanto discursava na Utah Valley University, no estado de Utah. Figura central da extrema-direita norte-americana e um dos nomes mais influentes do movimento “Make America Great Again” (MAGA), Kirk era considerado o maior organizador e mobilizador jovem da base de Donald Trump.

A Casa Branca decretou luto oficial até o dia 14 em homenagem ao influenciador.

O ataque em Utah

O episódio ocorreu em plena palestra universitária. Um atirador, armado com fuzil, abriu fogo contra o auditório. O disparo atravessou o pescoço de Kirk, provocando forte sangramento. Socorrido imediatamente, ele não resistiu e foi declarado morto poucos minutos depois.

O diretor do FBI, Kash Patel, informou inicialmente que um suspeito havia sido detido. Pouco mais de uma hora depois, anunciou que o homem — cuja identidade não foi revelada — foi liberado após interrogatório. “Nossa investigação continua e continuaremos divulgando informações em nome da transparência”, disse Patel em comunicado no X (ex-Twitter).

Uma porta-voz da universidade, Ellen Treanor, chegou a anunciar que o atirador estaria em uma construção a cerca de 180 metros do auditório, mas voltou atrás após a liberação do suspeito.

Críticas ao Brasil e pedido de sanções

Menos de seis meses antes do ataque, Kirk se destacou no debate internacional ao criticar o Supremo Tribunal Federal (STF) e defender retaliações dos Estados Unidos ao Brasil. Em 27 de março, em seu programa The Charlie Kirk Show, pediu que Trump impusesse tarifas e até sanções ao país, após o STF aceitar denúncia contra Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.

“Isso acontece em um país, o Brasil, que supostamente chamamos de aliado. Se a Rússia fizesse isso, nós a sancionaríamos. Se o Brasil faz isso, por que estamos tolerando? E a resposta é que não deveríamos”, disse Kirk. “O Departamento de Estado, Marco Rubio e o presidente Trump deveriam impor tarifas e, se necessário, sanções ao Brasil por esse tipo de comportamento imprudente e imoral.”

Kirk argumentava que o STF e a Procuradoria-Geral da República no Brasil haviam imposto “controles abrangentes de liberdade de expressão” em plataformas como o X (ex-Twitter), ecoando a retórica de Trump contra decisões de cortes norte-americanas.

Trump adota a pauta de Kirk

Em 9 de julho, pouco mais de três meses depois das declarações do influenciador, Donald Trump anunciou um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros. A justificativa foi o julgamento de Bolsonaro, descrito pelo republicano como “caça às bruxas”, além de medidas do STF para moderar conteúdos e impor regulação sobre big techs.

As tarifas entraram em vigor no dia 6 de agosto. Além delas, Trump impôs punições pessoais contra ministros do STF, com restrições de vistos e aplicação da Lei Global Magnitsky contra Alexandre de Moraes, relator do processo contra Bolsonaro.

A ligação entre as falas de Kirk e a decisão da Casa Branca foi vista por analistas como mais do que coincidência: tratava-se de um alinhamento explícito entre a retórica do influenciador e a política externa de Trump.

Aproximação com Bolsonaro e a direita brasileira

O interesse de Kirk no Brasil não se restringia a declarações públicas. Em março de 2023, ele entrevistou Jair Bolsonaro em Miami, no hotel de Trump, quando o ex-presidente brasileiro se encontrava temporariamente na Flórida após deixar o Planalto. Na ocasião, Bolsonaro negou qualquer envolvimento em tentativa de golpe e ouviu de Kirk que as direitas “ao redor do mundo deveriam se unir”.

Em setembro de 2024, o influenciador voltou a abordar a política brasileira em entrevista com o comentarista Paulo Figueiredo, com quem discutiu o embate entre Elon Musk, dono do X, e o ministro Alexandre de Moraes. Kirk abraçou o discurso de Figueiredo, que já afirmava que a atuação do STF representava uma violação às liberdades individuais.

Meses mais tarde, Figueiredo e o deputado Eduardo Bolsonaro estariam entre os principais articuladores da campanha por sanções contra ministros do Supremo.

Ao saber da morte do influenciador, Figueiredo compartilhou imagens do ataque com a mensagem: “Meu Deus, meu Deus”. Em seguida, escreveu uma longa homenagem:

“Foi ele um dos primeiros que abriu espaço em seu respeitado programa para que eu pudesse denunciar o que estava acontecendo. Foi ele quem deu voz ao Brasil quando quase ninguém se importava. Posso dizer sem medo: sem esse guerreiro, jamais teríamos chegado ao ponto de conquistar sanções contra Alexandre de Moraes e outros ministros do STF. Todos os que amam a liberdade, inclusive no Brasil, devemos muito a ele.”

O paralelo entre Brasília e Washington

Kirk também estabelecia paralelos frequentes entre o Brasil e os Estados Unidos. Comparou o ataque de bolsonaristas aos prédios dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, com a invasão trumpista ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

Para ele, tanto em Brasília quanto em Washington, o “despotismo judicial” seria um obstáculo à liberdade política da direita.

Essa visão o alinhava ainda mais a Trump, que em seu segundo mandato transformou os tribunais em seu principal adversário. O tarifaço contra o Brasil foi anunciado justamente em meio a derrotas judiciais enfrentadas pelo republicano, que passou a identificar no Judiciário o principal limite a suas iniciativas.

Figura central da extrema-direita americana

Charlie Kirk ganhou projeção nacional como fundador da organização Turning Point USA, voltada a mobilizar jovens em universidades com pautas conservadoras. A organização funcionava como porta de entrada do movimento trumpista entre estudantes, com eventos de grande visibilidade, palestras lotadas e forte presença digital.

Descrito por analistas como uma espécie de “Nikolas Ferreira sem mandato”, Kirk tinha estilo provocador e discurso direto, características que lhe garantiram grande audiência e influência política, mesmo sem ocupar cargos públicos.

Sua relação próxima com Trump, além de seu ativismo contra cortes judiciais nos EUA e no exterior, transformaram-no em uma das figuras mais ouvidas pela Casa Branca nos últimos meses.

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Last Update: 11/09/2025