O ministro da Defesa, Sébastien Lecornu, 39, assumiu nesta quarta-feira (10) como novo primeiro-ministro da França em meio a uma onda nacional de protestos contra a política econômica do governo. 

Nomeado pelo presidente Emmanuel Macron para substituir François Bayrou, que caiu após derrota em voto de confiança na Assembleia Nacional, o militar inicia o cargo cercado por críticas e mobilizações de rua que irromperam nesta quarta no movimento batizado como “Bloqueiam Tudo”.

Segundo o ministério do Interior, 473 pessoas foram presas e 80 mil policiais foram mobilizados em todo o país, incluindo 6 mil em Paris. 

Cerca de 200 mil manifestantes participaram dos atos, segundo estimativas da imprensa francesa. O ministério da Educação informou que cem escolas foram afetadas, 27 delas totalmente bloqueadas, estações de trem foram paralisadas e bares e restaurantes permaneceram fechados no país.

Os protestos espalharam-se por cidades como Paris, Nantes, Rennes e Montpellier. Houve bloqueios de rodovias, ônibus incendiados e barricadas em chamas. Em Paris, estudantes e trabalhadores ergueram barreiras perto da estação Gare du Nord, a principal do país, e do centro de Châtelet. Um restaurante no 1º arrondissement foi atingido pelo fogo.

As ruas expuseram a insatisfação com a continuidade da política de austeridade. “O orçamento de 2026 é um orçamento de destruição social. Mesmo com Bayrou fora, os pobres continuam sendo alvo”, disse Elodie, 34, professora de educação infantil, em entrevista à CNN. 

“Queremos outro tipo de governo”, afirmou Emma, 17, estudante da Sorbonne, à Reuters. “O problema é Macron, não os ministros. Ele tem que sair”, declarou Fred, dirigente da CGT na RATP.

A França Insubmissa classificou a nomeação de Lecornu como uma provocação. O coordenador do movimento, Manuel Bompard, anunciou que apresentará uma moção de censura se o novo primeiro-ministro não pedir um voto de confiança à Assembleia. Jean-Luc Mélenchon também chamou a escolha de “triste comédia de desprezo pelo Parlamento”.

Lecornu, aliado próximo do presidente, é o único ministro presente em todos os governos de Macron desde 2017. Começou no partido conservador Les Républicains e se projetou como rosto do rearmamento francês, conduzindo em 2023 a lei que prevê € 413 bilhões em gastos com defesa até 2030. 

Ele também é próximo de figuras como Marine Le Pen, com quem manteve jantares controversos, o que reforçou críticas à sua nomeação.

O novo premiê terá como desafio imediato negociar o orçamento de 2026 em um Parlamento dividido, onde os dois antecessores já foram derrubados por causa desta pauta. 

Macron pressiona por um acordo com socialistas e republicanos, mas ambos resistem a sustentar o governo. O líder do Partido Socialista, Olivier Faure sinalizou abertura para discutir cortes menos drásticos, mas alertou: “se estivermos sendo enrolados, derrubaremos o governo”.

O PS rompeu com a França Insubmissa, de Melenchon e Bompard, e corre o risco de ficar de fora do Parlamento nas próximas eleições, segundo pesquisas recentes. Por isso, os socialistas tentam uma aproximação com a direita liderada por Macron como forma de sobrevivência política, ainda que traiam seus princípios.

As manifestações lembram o movimento dos Coletes Amarelos de 2018 e 2019, mas com outra base social. 

A imprensa aponta que os atuais protestos têm forte participação de jovens estudantes, com discursos voltados para justiça social e combate às desigualdades. Uma nova jornada nacional de greves e paralisações foi convocada para o dia 18 de setembro, com adesão de centrais sindicais.

Em artigo publicado no Libération, o colunista Jonathan Bouchet-Petersen afirmou que o governo erra ao medir a mobilização apenas pelo número de manifestantes. Para ele, a escolha de Lecornu é “óleo no fogo social” e evidencia o descompasso entre a calma em Matignon e o barulho das ruas. Segundo pesquisas citadas, dois terços dos franceses desejam a saída de Macron, e 25% dizem sentir “desgosto” pelo presidente.

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Last Update: 11/09/2025