
O voto de Luiz Fux no julgamento da trama golpista deve trazer consequências duras para o ministro dentro do Supremo Tribunal Federal (STF). A avaliação entre magistrados é que, após defender a absolvição de Jair Bolsonaro (PL) e de outros réus, contradizendo centenas de decisões anteriores, Fux tende a ficar “isolado” e com menos capacidade de articulação no tribunal, conforme informações da colunista Bela Megale, do Globo.
Segundo pelo menos três ministros, o magistrado ficará “esvaziado” e “sem poder de construir articulações e consensos” com os colegas, em uma situação ainda mais delicada que a de Kassio Nunes Marques e André Mendonça, indicados por Bolsonaro. Para eles, o voto de Fux tem potencial de reacender o clima de tensão nas sessões, que vinham sendo marcadas por mais harmonia desde os ataques da extrema-direita ao STF.
Durante as mais de dez horas de exposição, integrantes da Primeira Turma classificaram a manifestação de Fux como “confusa”, “com idas e vindas” e “contraditória”. Ministros apontaram que ele foi além das teses apresentadas pelas defesas, que admitiam a tentativa de golpe, mas negavam a autoria de seus clientes.
Fux, por sua vez, sequer reconheceu a existência da tentativa golpista, mas acabou se contradizendo ao condenar o tenente-coronel Mauro Cid por tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.
A decisão surpreendeu até os bolsonaristas. A expectativa era de que Fux apenas divergisse do relator Alexandre de Moraes na dosimetria das penas, unificando crimes pelo princípio da consunção. No entanto, ele foi além: votou pela nulidade do processo e questionou a competência do STF para julgar o caso, posição contrária à que havia defendido anteriormente.
O voto acabou se tornando um verdadeiro bálsamo para Jair Bolsonaro. Ao negar a tentativa de golpe e a atuação do ex-presidente contra a democracia, Fux reforçou o discurso bolsonarista de que o processo é ilegal por tramitar na Primeira Turma do Supremo.
