O governo brasileiro reagiu na noite desta terça-feira (9) à declaração da Casa Branca de que os Estados Unidos “não terão medo de usar meios militares” contra o Brasil. Em nota oficial, o Itamaraty condenou “o uso de sanções econômicas ou ameaças de uso da força contra a nossa democracia” e vinculou a defesa da liberdade de expressão ao respeito ao resultado das urnas.
O comunicado afirma que “os três Poderes da República não se intimidarão por qualquer forma de atentado à nossa soberania” e acusa “forças antidemocráticas” de tentar instrumentalizar governos estrangeiros para pressionar as instituições nacionais.
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A resposta foi publicada horas depois de a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, dizer que Donald Trump não tem medo de usar “o poder econômico e o poder militar dos Estados Unidos” em nome da liberdade de expressão.
A declaração foi dada durante coletiva de imprensa em Washington, ao ser questionada sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal. A ameaça norte-americana foi recebida como ingerência direta em um processo judicial que envolve a tentativa de golpe de Estado de 2022, reforçando a escalada de tensões diplomáticas entre os dois países.
Em discurso em Manaus, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva endossou a posição do Itamaraty e acusou a família Bolsonaro de conspirar contra o Brasil em articulação com Washington.
“Esses caras tiveram a pachorra de mandar gente para os Estados Unidos para falar mal do Brasil e para condenar o Brasil”, disse.
Lula classificou o momento como delicado e criticou a utilização de canais externos para pressionar a Justiça brasileira. Para o presidente, o episódio revela não apenas a hostilidade do governo Trump, mas também a disposição de setores da extrema direita nacional de apoiar sanções estrangeiras contra o país.
A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, também reagiu nas redes sociais. Ela classificou como “cúmulo” a conspiração da família Bolsonaro e denunciou a tentativa de Eduardo Bolsonaro de articular sanções contra o Brasil em diálogo com o governo Trump.
“Não bastam as tarifas contra nossas exportações, as sanções ilegais contra ministros do governo, do STF e suas famílias, agora ameaçam invadir o Brasil para livrar Jair Bolsonaro da cadeia. Isso é totalmente inadmissível”, afirmou.
A declaração reforça o tom político da resposta brasileira, que busca associar a ameaça externa à atuação da oposição interna, projetando um eixo comum entre a extrema direita nacional e a Casa Branca.
A ofensiva diplomática dos Estados Unidos ocorre no mesmo momento em que o Supremo julga o núcleo do golpe de 2022. No entanto, a crise não se limita ao plano judicial. Em coletiva realizada em Washington, Trump chamou o governo brasileiro de “radicalmente de esquerda” e disse estar “muito chateado” com os rumos do país.
O presidente norte-americano afirmou “amar o povo do Brasil”, mas justificou tarifas impostas a produtos brasileiros pelo que chamou de mudança “muito infeliz” da política nacional. A fala, feita a poucos dias da Assembleia Geral da ONU, onde Lula abrirá os trabalhos, reforça o desgaste nas relações entre Brasília e Washington e sinaliza que a disputa pode ganhar contornos ainda mais duros no cenário internacional.
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