A reaproximação financeira revela o peso da aliança entre Putin e Xi, que desafia abertamente a pressão de EUA e União Europeia


Enquanto o Ocidente insiste em repetir o mantra de que “o isolamento da Rússia é total” e que “a China está cercada por sanções e pressões”, Pequim e Moscou seguem, com passos firmes e calculados, construindo uma nova arquitetura financeira, energética e geopolítica — longe dos holofotes de Bruxelas e Washington, mas sob os olhos atentos de um mundo que começa a perceber: a ordem unipolar está morta. E quem a enterrou foram justamente aqueles que o sistema ocidental tentou marginalizar.

A notícia de que a China está abrindo caminho para que gigantes energéticos russos emitam “títulos panda” — dívidas em renminbi no mercado financeiro chinês — não é apenas um movimento técnico. É um ato de soberania. É uma declaração de independência financeira. É um tapa na cara de um sistema que, há décadas, impôs ao mundo a tirania do dólar, do FMI, do SWIFT e das agências de risco ocidentais que ditam, como oráculos infalíveis, quem merece crédito e quem deve ser banido.

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Desde 2017, nenhuma empresa russa havia conseguido acessar o mercado onshore chinês. Desde 2022, quando a Rússia foi expulsa dos mercados de capitais ocidentais por ousar desafiar a hegemonia da OTAN na Ucrânia, o cerco financeiro parecia intransponível. Mas o que o Ocidente não entendeu — ou fingiu não entender — é que, para Moscou e Pequim, sanções não são derrota. São convites à inovação. São catalisadores da autonomia.

SOBERANIA NÃO SE NEGOCIA — SE CONSTRÓI

A reunião entre Xi Jinping e Vladimir Putin em Pequim, descrita como o marco de uma parceria em “nível sem precedentes”, não foi mero protocolo diplomático. Foi o selo de um novo contrato histórico: enquanto o Ocidente tenta estrangular a Rússia com sanções e boicotes, a China oferece não apenas mercado, mas moeda, infraestrutura, crédito e confiança. Enquanto Washington ameaça bancos chineses com sanções secundárias, Pequim responde com ações concretas: abrindo seu mercado de títulos, fortalecendo o renminbi como moeda de comércio e financiamento, e desafiando abertamente a jurisdição extraterritorial do Tesouro americano.

O gasoduto Power of Siberia 2, anunciado após o encontro dos líderes, não é apenas um cano de gás. É um canal de soberania. É a materialização de uma nova rota energética que escapa ao controle do dólar e das sanções. É a prova de que, quando dois países decidem cooperar fora do eixo ocidental, eles não apenas sobrevivem — prosperam.

O RENMINBI COMO ARMA DE LIBERTAÇÃO FINANCEIRA

A ascensão do renminbi no comércio exterior russo é um dos capítulos mais simbólicos dessa nova era. Enquanto o Ocidente tenta impor a “desdolarização forçada” como punição, China e Rússia transformam-na em estratégia de libertação. O renminbi não é apenas uma moeda alternativa — é um instrumento de descolonização financeira. É a prova de que é possível existir fora do sistema que Washington construiu para manter o mundo sob seu jugo.

E as emissões de títulos panda? São a cereja do bolo. São o reconhecimento prático de que a China não apenas aceita, mas abraça, a Rússia como parceira estratégica — mesmo sob ameaça de sanções secundárias. Enquanto bancos ocidentais se curvam ao OFAC, bancos chineses começam a calcular riscos políticos com outra lógica: a da soberania, da multipolaridade, da resistência.

“LIXO” PARA UNS, TESOURO PARA OUTROS

A metáfora dita por um gerente de risco chinês — “o lixo de uma pessoa pode ser o tesouro de outra” — é mais do que uma provocação. É uma crítica devastadora ao sistema financeiro ocidental. Enquanto a Fitch Ratings, obedecendo ordens de Bruxelas, rebaixa a Gazprom a “duplo C” e a trata como caloteira em potencial, agências chinesas concedem à mesma empresa a nota máxima: AAA. Por quê? Porque, na China, avalia-se a solidez de uma empresa com base em sua relevância estratégica, em sua capacidade de gerar fluxo de caixa real, em sua posição no mercado energético global — e não com base em sanções políticas impostas por potências em decadência.

Para investidores chineses e asiáticos, os ativos russos não são “arriscados”. São oportunidades raras. São papéis lastreados em recursos naturais reais, em infraestrutura sólida, em parcerias de longo prazo. Enquanto o Ocidente trata a Rússia como pária, a Ásia a vê como parceira. Enquanto Wall Street fecha as portas, Shenzhen as abre.

O OCIDENTE PERDEU O MONOPÓLIO DA “CREDIBILIDADE”

O Ocidente sempre se apresentou como o guardião da “ordem internacional baseada em regras”. Mas quais regras? As que permitem bombardear países sob falsos pretextos? As que impõem sanções coletivas que matam civis? As que criminalizam nações inteiras por ousarem pensar diferente? As que transformam agências de risco em braços do Departamento de Estado?

China e Rússia não estão construindo um “mundo paralelo”. Estão construindo o mundo real — onde a cooperação substitui a coerção, onde a moeda serve ao comércio e não à dominação, onde a soberania dos povos não é negociável. O mercado de títulos panda é só o começo. Virão acordos bilaterais em moeda local, novas plataformas de pagamento, novas câmaras de compensação, novas agências de classificação de risco — todas fora do controle de Nova York e Londres.

UM NOVO TABULEIRO, ONDE O OCIDENTE NÃO É O CENTRO

O avanço das emissões de títulos russos na China é um sinal inequívoco: a multipolaridade não é um discurso. É uma realidade em construção. E ela está sendo erguida por países que recusam a subserviência, que não aceitam ser punidos por defenderem seus interesses nacionais, que não se curvam diante de ameaças econômicas.

Sim, há riscos. Sim, há obstáculos. Bancos chineses ainda hesitam, temendo as garras do OFAC. Advogados alertam para sanções secundárias. Mas o que importa é a direção do movimento: é para frente. É para longe do Ocidente. É para perto de um novo eixo de poder, baseado em parcerias reais, em interesses concretos, em soberania inegociável.

Enquanto isso, o Ocidente se afoga em sua própria arrogância. Acredita que sanções são suficientes para quebrar nações. Acredita que o dólar é eterno. Acredita que o mundo ainda gira em torno de Washington. Mas a realidade é outra: Pequim e Moscou estão escrevendo, juntas, um novo capítulo da história — e não precisam da aprovação de ninguém para fazê-lo.

O FUTURO NÃO É OCIDENTAL — É SOBERANO

A retomada dos títulos panda russos na China é mais do que uma manchete econômica. É um símbolo político. É a prova de que, mesmo sob pressão máxima, países soberanos podem se unir, criar alternativas, resistir e vencer. É a demonstração de que o poder não reside mais apenas em Wall Street ou na City de Londres — reside também em Shenzhen, em Moscou, em Xangai, em São Petersburgo.

O Ocidente pode continuar impondo sanções. Pode continuar ameaçando. Pode continuar tentando isolar. Mas o mundo já mudou. E quem não perceber isso — ou pior, quem se recusar a aceitar — será engolido pela própria obsolescência.

A China e a Rússia não estão pedindo permissão. Estão construindo o futuro. E esse futuro será multipolar, diversificado, soberano — e, acima de tudo, livre do jugo ocidental.

Bem-vindos à nova era. O centro do mundo não está mais no Ocidente. Está onde os povos decidem seu próprio destino.

Com informações de Financial Times*

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Last Update: 10/09/2025