Tarcísio de Freitas de roupa de frio azul, sério, segurando microfone
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo – Reprodução

A radicalização de Tarcísio de Freitas, na tentativa de calibrar retórica e ação política, provoca uma série de dúvidas, que conduzem a uma resposta bem singela, com desdobramentos previsíveis. Vejam as perguntas.

Se a mais recente pesquisa CNT/MDA confirmou que a maioria (49,6%) quer Bolsonaro condenado e preso, por que Tarcísio se arriscou a defender que seu líder fique solto, como desejam apenas 36,9%? Livre, solto e anistiado para concorrer em 2026.

E se pesquisas anteriores mostraram que o brasileiro não quer saber de anistia e que também deseja ver Bolsonaro aposentado e fora de política, que história é essa de Tarcísio assumir a liderança do indulto e da afronta ao Supremo?

Se a maioria também já avisou que não vota em candidato indicado por Bolsonaro, por que Tarcísio busca, com a defesa de Bolsonaro e da anistia, a bênção do chefe do golpe? Que história essa?

Por que Tarcísio correu o risco de radicalizar, como fez na Paulista ao chamar Moraes de tirano e ditador, podendo desperdiçar a imagem de extremista moderado do bolsonarismo?

Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas em pé, lado a lado, sérios, o primeiro com a mão no peito
Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas – Divulgação

Uma tentativa de resposta em apenas uma frase: Tarcísio entrou no modo Malafaia por ter certeza de que, depois de fidelizar a base do fascismo, que representaria pelo menos um terço do eleitorado, o resto virá atrás.

Tarcísio não está interessado na maioria. O que ele quer agora é a minoria inflexível, mas confiável. Precisa da base raiz de Bolsonaro, para se apresentar como candidato capaz de enfrentar Lula.

Essa é a primeira etapa, por mais arriscada que seja. E, a partir daí, com esse alicerce, Tarcísio sai em busca da confiança do eleitorado da velha direita e do que resta de centro.

Sabe que não há outra saída. Funcionou assim com o próprio Bolsonaro em 2018, quando diziam, pelo que indicavam as pesquisas, que o teto do sujeito era de 18%. Repetiam que ele não conseguia passar dos 18%.

Pois Bolsonaro fidelizou um contingente que estava à espera de um líder ‘disruptivo’, mesmo que sem valores e assumidamente fascista. E, a partir dali, habilitou-se a ser o cara que derrotaria o PT, com Lula preso, e foi o que aconteceu.

A direita que não pretendia ser bolsonarista fechou o nariz e engoliu Bolsonaro, sabendo que consumia coisa estragada. O importante é que havia uma gambiarra.

Assim como hoje a direita toda, incluindo os jornalões, sabe que Tarcísio é um combo, que vem com Jair, os filhos, Malafaia e toda a estrutura da extrema direita que governou e depois tentou o golpe.

Nessa terça-feira, Folha, Globo e Estadão publicaram editoriais no mesmo tom, lamentando que Tarcísio tenha radicalizado seu discurso. Mas todos se referem ao sujeito como um moderado.

O que significa apenas que todos preferem o autoengano de que torcem por um praticante da moderação na direita. Mesmo sabendo que ele não é nada disso.

Tarcísio é até agora o único nome capaz de enfrentar Lula, e isso é o que importa aos jornalões, à velha direita, a antigos tucanos e aos que ainda se consideram de centro. Não importa se deixou de ser moderado, o que é apenas uma pauta para editoriais.

Mas uma dúvida os atormenta. Com que Tarcísio eles poderão contar, sabendo que, se eleito, seria tutelado por seu criador, mesmo que de dentro da cadeia, como fazem alguns chefes do crime organizado?

Globo, Folha e Estadão dão pistas de que, se Tarcísio voltar a ser um moderado, se dispõem a se submeter a Tarcísio, sabendo que estarão, na verdade, se submetendo ao comando maior de um chefão preso.

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Last Update: 09/09/2025