João Pedro Stedile do MST. Foto: MST

Por Renato Martins*
Para Página do MST

Na última quinta-feira (4), João Pedro Stedile retornou à Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Desta vez ele veio por videoconferência, para participar do Ciclo de Debates: “Rumo à COP 30. Antes que seja tarde”.

Há pouco tempo João Pedro esteve conosco para celebrar o “Centenário da Coluna Prestes”, em Foz do Iguaçu. Na ocasião, ele falou sobre os 100 anos de luta pela Reforma Agrária no Brasil. A seu modo, rendeu homenagem a Luiz Carlos Prestes e à Olga Benário, militante comunista assassinada pelos nazistas. O auditório Martina então ficou lotado como não se via há tempos.

Nesta quinta (4), ele regressou para falar da crise climática e da agroecologia. E começou apontando os crimes ambientais praticados pelo empresariado contra o meio ambiente. Sem meias palavras, foi direto ao ponto: “a chamada crise ambiental”, disse, “não é outra coisa senão expressão da crise do capitalismo mundial”. E isto acontece independentemente da vontade deste ou daquele empresário individual, ponderou.

Para reverter a lei da queda tendencial da taxa de lucro na agricultura, causada por variações na composição do capital (mais trabalho morto e menos trabalho vivo) o burguês ataca com redobrada voracidade os recursos naturais. Para isso, transforma em valor de troca tudo o que pode: as águas, os minérios, a floresta…Assim como fez na lei 601, para privatizar a propriedade das terras em 1850, a burguesia instituiu agora a privatização das florestas, das águas, da vida.

Com o acirramento da crise capitalista, tudo é convertido em mercadoria. O capitalista se volta contra a natureza e contra o trabalhador rural com fúria feroz. Assim, o saque aos recursos naturais e a superexploração do trabalho se multiplicam e são levados ao paroxismo. E quem paga a conta? A natureza, é claro! Conclusão: o agro não é, nunca foi e nunca será pop. O agro é tóxico! Para alcançar tal desiderato, o burguês recorre ao agrotóxico, contamina as águas e os alimentos, pratica a pecuária extensiva, multiplica as minas a céu aberto e, com a ajuda do estado, privatiza recursos naturais, vende reservas ambientais, invade territórios indígenas, queima e destrói. Os desastres se sucedem. Vide Brumadinho. Vide Mariana. E os custos financeiros produzidos por esses desastres são elevadíssimos, da ordem de 60 a 80 bilhões de reais. E advinha quem paga a conta ao fim e ao cabo? Você, o meio ambiente e todos os seres vivos desse combalido planeta.

Mina de extração de Ferro Carajás. Foto: T photography / Shutterstock.com

Exposto ao saque desmesurado e insaciável, o meio ambiente está implorando por socorro. Estão aí os eventos extremos que vieram para ficar. Reiterando as palavras de Boff, João Pedro nos alerta: “escutem os cientistas do IPCC (painel científico de mudança climática da ONU). O planeta Terra está entrando em colapso. As secas prolongadas, as chuvas torrenciais, os ventos enfurecidos que não existiam no Brasil e agora se tornaram corriqueiros são sintomas disso”, afirma. Com riqueza de exemplos, João Pedro discorre sobre a complexidade ambiental do país. Percorre o território nacional. Comenta desastres ecológicos daqui e dali. Observa o desastre.

Mas aponta alternativas. Cita o exemplo de Sebastião Salgado no reflorestamento da fazenda da família onde plantou mais de 5 milhões de árvores. Um gigante.

João Pedro converteu-se, seguramente, no mais preparado intelectual orgânico que o campesinato mundial jamais produziu. Seu DNA marxista não o impede de contrariar Marx. Afirma, por exemplo, que o campesinato nunca foi o saco de batatas, fragmentário e fragmentado, criticado no 18 Brumário de Luiz Bonaparte, disposto a apoiar a primeira liderança inescrupulosa e populista que lhe ofereça algumas migalhas. “Suas raízes estão entranhadas no feudalismo, há cinco mil anos atrás; com os povos incas do altiplano, sobreviveram ao capitalismo comercial e industrial e seu circo de horrores. Chegamos ao século 21 como guardiões da terra, conscientes de nosso papel histórico como classe”, declara o dirigente.

Recomendo que assistam sua palestra, disponível no canal do Ilaesp no YouTube (https://www.youtube.com/watch?v=86LYr4x0Ts8). Em meio à miséria da filosofia, contrariando o pensamento único e a mesmice emburrecedora, João Pedro se agiganta. É um orgulho dos movimentos populares daqui, da América Latina e do mundo. Os verdadeiros patriotas deveriam se orgulhar dele.

Escute-mo-lo pois. Ao encerrar sua participação, Stedile apontou novos rumos e sugeriu alternativas: desmatamento zero, produção de alimentos saudáveis, agricultura familiar, políticas públicas, reflorestamento nas áreas degradantes pela soja e monoculturas. “Plantemos árvores, milhões de árvores”, conclama, “como fazem na China”. Cultivemos árvores nas margens das estradas, nas universidades federais, na UNILA…

Enfim, foi mais uma noite memorável de preparação dos nossos alunos para que compreendam o processo da COP30. Que volte sempre, João Pedro Stedile. As capivaras – como são carinhosamente chamados os estudantes da Unila – te admiram e te respeitam imensamente. Se tudo der certo, nos veremos na Cúpula dos Povos, entre 10 a 16 de novembro próximo, em Belém do Pará. Até breve, companheiro!

*Professor da UNILA.

**Editado por Solange Engelmann

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Last Update: 09/09/2025