
Um grupo de moradores e especialistas em mobilidade urbana levou à Prefeitura de São Paulo, nesta segunda-feira (8), uma contraproposta ao projeto de construção de um túnel na Rua Sena Madureira, na Vila Mariana, zona sul da capital. O Movimento “Não ao Túnel – Salvem a Sena Madureira” afirma que a obra, estimada em mais de R$ 500 milhões, não resolverá os congestionamentos na região e trará impactos sociais e ambientais graves.
Segundo o arquiteto Lucian De Paula, o túnel não solucionaria o gargalo viário no cruzamento da Rua Domingos de Morais com a Rua Monsenhor Manuel Vicente. “O túnel proposto não resolve o gargalo no cruzamento da Rua Domingos de Morais com a Rua Monsenhor Manuel Vicente. Será uma obra cara, que manterá o problema”, explica.
“Não é uma solução moderna para a mobilidade urbana, pois um túnel não reduz congestionamentos, ao contrário, irá concentrar e atrair mais carros para a Sena Madureira e vias do entorno. É um fenômeno chamado tráfego induzido, ou seja, estimula o uso de carro”, explica o geógrafo e especialista em mobilidade urbana, Rafael Calabria, que também é morador do local e junto com o de Paula fez os estudos técnicos para construção da contraproposta.
O movimento apresentou como alternativa a criação de um retorno pelas ruas Cunha, Mairinque e Sena Madureira, com a desapropriação de um posto de gasolina desativado. O redesenho, inspirado em intervenções feitas pela CET nas décadas de 1990 e 2000, prevê também a ampliação da Praça Lasar Segall e a instalação de novos equipamentos de uso público.

Impacto social e ambiental
De acordo com o estudo apresentado, a construção do túnel ameaça o despejo de cerca de 150 famílias da Comunidade Souza Ramos, que vive no local há mais de 70 anos. O grupo lembra que, com os recursos previstos para a obra, seria possível construir 30 km de corredores de ônibus, 2.000 km de ciclovias ou até 3.700 moradias de interesse social.
Os integrantes também apontam riscos ambientais, como o transplante de dezenas de árvores e a ameaça à nascente do córrego Embuaçu, ainda sem recuperação. “Não dá para fechar os olhos para tudo que a Prefeitura de São Paulo vem passando por cima para levar essa obra adiante. São crimes contra os direitos humanos e o meio ambiente. Um desenvolvimentismo ultrapassado como prova o nosso estudo técnico”, defende a ativista Ana Clara Costa.
Apoio político
A contraproposta recebeu apoio de parlamentares municipais e estaduais. A vereadora Luna Zarattini (PT) classificou o projeto do túnel como “não apresenta solução viária, causa despejo da comunidade Souza Ramos e danos ambientais para a cidade”.
Já a deputada estadual Mônica Seixas (PSOL) afirmou que a gestão municipal prioriza obras rodoviárias em vez de corredores de ônibus e ciclovias. “A solução apresentada pelo movimento tem que ser levada em consideração pela Prefeitura pois trata-se de um estudo feito por quem mora lá e de técnicos conhecidos e respeitados em seus meios.”
Também manifestaram apoio os vereadores Nabil Bonduki (PT), Luana Alves (PSOL), Toninho Vespoli (PSOL), Renata Falzoni (PSB), Marina Bragante (Rede), Helio Rodrigues (PT), Dheison (PT) e Janaina Paschoal (PP). Entre os deputados estaduais, assinaram apoio nomes como Márcia Lia (PT), Donato (PT), Paulo Fiorilo (PT), Marina Helou (Rede), Carlos Giannazi (PSOL) e Eduardo Suplicy (PT).
Veja uma entrevista sobre o tema exibida na TVGGN:
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