
As quedas sempre foram vistas como um dos maiores riscos para a saúde de idosos. Mas os dados mais recentes mostram uma tendência preocupante: nunca tantos americanos acima dos 65 anos morreram em consequência delas.
Em 2023, mais de 41 mil idosos morreram após quedas nos Estados Unidos, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). O número representa um aumento expressivo em relação às últimas décadas. Entre pessoas com mais de 85 anos, a taxa de mortalidade triplicou desde 1990.
Pesquisadores apontam o uso crescente de medicamentos prescritos como um dos principais fatores por trás do aumento. Entre eles estão benzodiazepínicos, opioides, antidepressivos, gabapentina e alguns remédios cardíacos e anti-histamínicos — todos associados a sonolência, tontura e perda de equilíbrio.
Essas drogas formam a categoria conhecida como FRIDs (“medicamentos que aumentam o risco de quedas”). “Os idosos são medicados em excesso, muitas vezes com substâncias inadequadas”, afirma o epidemiologista Thomas Farley, professor da Universidade Tulane.
Foi o que aconteceu com Earl Vickers, 69, engenheiro aposentado da Califórnia. Depois de anos sofrendo quedas frequentes, descobriu que seu remédio contra o câncer de próstata, a enzalutamida, tinha entre os efeitos colaterais justamente o risco aumentado de fraturas. Ao interromper o tratamento em 2022, nunca mais caiu.
Divergências
Embora muitos especialistas concordem que os medicamentos desempenham papel importante, outros lembram que há fatores adicionais, como fragilidade física, visão comprometida, uso de álcool e ambientes inseguros dentro de casa.
O geriatra Thomas Gill, da Universidade de Yale, lembra ainda que mudanças na forma como as mortes são registradas podem influenciar os números. “No passado, quedas eram vistas como parte natural do envelhecimento. Hoje, são mais frequentemente apontadas como causa oficial de óbito”, afirma.
Além disso, o aumento da expectativa de vida faz com que idosos mais frágeis sobrevivam por mais tempo, tornando-os mais vulneráveis a quedas fatais.
Mesmo com divergências, cresce entre médicos e instituições a defesa da chamada “desprescrição” — a revisão dos tratamentos para suspender medicamentos cujo risco supera os benefícios.
Segundo o geriatra Michael Steinman, da Universidade da Califórnia, alguns fármacos podem elevar em até 75% o risco de quedas em idosos. O desafio, diz ele, é que é fácil iniciar o uso, mas difícil interromper, já que pacientes e médicos muitas vezes relutam em abrir mão de soluções rápidas para dor, insônia ou ansiedade.
Os Critérios de Beers, referência internacional sobre medicamentos inadequados para idosos, recomendam alternativas como terapia cognitivo-comportamental para insônia e exercícios físicos para o controle da dor.
“É fundamental que pacientes e cuidadores perguntem a seus médicos: ‘Algum dos meus remédios aumenta meu risco de cair? Existe alternativa?’”, aconselha Steinman.
Problema crescente
Apesar de programas nacionais de prevenção, como o STEADI do CDC, e recomendações para exercícios e fisioterapia, os índices continuam a subir.
“O que vemos é um problema grave, que pode piorar se não enfrentarmos a questão dos medicamentos em excesso”, alerta o psiquiatra geriátrico Donovan Maust, da Universidade de Michigan.
Enquanto isso, famílias e profissionais de saúde buscam o equilíbrio entre os benefícios dos tratamentos e os riscos ocultos que podem transformar uma simples queda em tragédia.
*Com informações do The New York Times.
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