
A Polícia Civil de São Paulo investiga a atuação de uma milícia formada por policiais militares (PMs) e guardas civis municipais (GCMs) em parceria com o Comando Vermelho (CV). A prisão do cabo José Casimiro de Lima Júnior, em Limeira, na última semana, reforçou as suspeitas de que agentes públicos estariam a serviço da maior facção carioca, que vem expandindo seus tentáculos pelo interior paulista, conforme informações do Metrópoles.
Segundo investigadores, o espaço para essa expansão surgiu após o Primeiro Comando da Capital (PCC) abandonar territórios considerados de baixo interesse comercial, abrindo caminho para facções rivais dominarem o tráfico de drogas nessas áreas.
Prisão de PM expõe ligações criminosas
O cabo José Casimiro, de 44 anos, foi preso no dia 27 de agosto ao chegar para trabalhar na 5ª Companhia do 36º Batalhão do Interior. Durante a operação, a polícia também cumpriu mandados de busca em sua residência, onde apreendeu celulares, cartões bancários e munições. Ele foi indiciado por tentativa de homicídio, tráfico e associação ao tráfico de drogas, falsificação de sinal identificador de veículo e prevaricação.
De acordo com as investigações, Casimiro estaria ligado ao PM Carlos Alexandre dos Santos, conhecido como Bicho, apontado como “principal executor e articulador” da milícia. O cabo foi flagrado entrando com um carro clonado no condomínio onde Bicho possuía um imóvel, após uma tentativa de homicídio frustrada. Fotos compartilhadas em redes sociais confirmam a ligação entre os dois.
A investigação aponta ainda que a milícia utilizava veículos clonados para cometer assassinatos e, posteriormente, queimava ou abandonava os carros para eliminar provas. Casimiro foi levado ao Presídio Militar Romão Gomes, em São Paulo, onde segue preso preventivamente.
Na audiência de custódia, realizada em 28 de agosto, a defesa do cabo José Casimiro classificou a prisão como “ilegal”. O advogado Lucas Alvarenga alegou que seu cliente é réu primário, servidor público e possui residência fixa.
“A prisão dele baseia-se somente na menção de um vulgo, que aparece duas vezes no decorrer de toda a investigação, que é ‘Bigode’ ou ‘Bigodeira’”, disse. Os argumentos, no entanto, não convenceram a Justiça, e a prisão foi mantida.
Quem é o “Bicho”?
Preso desde fevereiro, o PM Carlos Alexandre dos Santos, o Bicho, liderava um grupo formado por criminosos de carreira, GCMs e integrantes de facções regionais, como o Bando do Magrelo, rival do PCC em Rio Claro. Ele é acusado de comandar homicídios, tráfico de drogas e armas, além de planejar o assassinato de policiais honestos.
Na Operação Hitman, deflagrada em maio, parte de sua milícia foi presa em São Paulo e no Sul do país. Mandados de busca e apreensão foram cumpridos inclusive na viatura que ele utilizava e no armário do batalhão em Limeira, onde foi encontrado um celular considerado peça-chave na investigação.

O papel dos guardas civis
As investigações também apontam o envolvimento de GCMs na estrutura criminosa. O guarda Denis Davi de Lima, por exemplo, teria usado seu acesso ao Centro de Operações Integradas (COI) para apagar registros de veículos clonados e repassar informações estratégicas ao tráfico.
Segundo a Polícia Civil, ele era protegido pelo comandante da GCM de Araras, Daniel Ponessi Alves, que foi flagrado, após a quebra de sigilo telemático, alertando os criminosos sobre operações policiais. Outro investigado é o subinspetor Anilton dos Santos, o Tijolo, acusado de receber propina da facção para garantir a fluidez do tráfico.
Ponessi respondia ao processo em liberdade, enquanto Tijolo seguia foragido até a última atualização. As defesas não foram localizadas.
Roubo de armas e “Rota Caipira”
A investigação descobriu que o grupo chefiado por Bicho articulava roubos de armas para revendê-las ao Comando Vermelho. Em novembro de 2023, criminosos invadiram o apartamento de um GCM em Araras, renderam ele e a esposa e roubaram fuzis, pistolas, munições, joias e eletrônicos. A Polícia Civil afirma que o assalto foi encomendado pela milícia.
O objetivo da facção, segundo os investigadores, era expandir o controle sobre a chamada “Rota Caipira”, usada para escoar armas e, principalmente, cocaína vinda da Bolívia e Colômbia.
Documentos da Polícia Civil concluem que os PMs e GCMs envolvidos estão “alinhados aos interesses expansionistas” do CV para alterar o domínio geocriminal do interior paulista, considerado estratégico para o tráfico.