Soberania nacional em foco, por José Manoel Ferreira Gonçalves
Brasil reafirma suas cores e sua soberania
Na noite anterior ao início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, o auditório histórico do Clube de Engenharia do Brasil, no Rio de Janeiro, tornou-se palco de uma das mais expressivas demonstrações de mobilização da sociedade civil dos últimos anos. Fundado em 1880, o clube — o mais antigo do país — reuniu profissionais de diversas áreas, líderes políticos e ex-ministros para lançar um manifesto em defesa da soberania nacional.
A força simbólica do evento se evidenciou não apenas pela data, mas pela intensa participação popular: o auditório lotado exigiu a abertura de dois andares adicionais, com transmissão simultânea pela internet. O mesmo espaço que um dia recebeu Albert Einstein agora se enchia de vozes comprometidas com o futuro do Brasil.
Engenharia brasileira e soberania nacional
A soberania ecoava em cada fala, gesto e símbolo presentes no encontro. Ao som comovente do hino nacional, cantado de pé por todos os presentes, evidenciava-se a urgência de resgatar o orgulho nacional diante das ameaças externas e das fragilidades internas.
O manifesto não se restringiu à defesa simbólica do país. Trouxe um olhar profundo sobre os efeitos devastadores da Operação Lava Jato sobre a engenharia nacional. Empresas estratégicas, antes responsáveis por obras monumentais dentro e fora do Brasil, foram desmanteladas. Com elas, perdeu-se um capital tecnológico e humano construído ao longo de décadas.
Esse retrocesso, segundo os organizadores do ato, fragiliza a capacidade do país de ser autônomo em áreas fundamentais como energia, infraestrutura e tecnologia — pilares de qualquer nação soberana. A recuperação da engenharia brasileira, portanto, não é apenas uma questão técnica, mas essencialmente política e estratégica.
Frente ampla pela soberania nacional
O encontro não foi apenas um grito de alerta: foi um ensaio de rearticulação. O lançamento de uma Assembleia Permanente pela Soberania Nacional propõe um
espaço contínuo de debate e ação coordenada. O gesto sinaliza a disposição de setores importantes da sociedade civil de não apenas resistirem, mas atuarem proativamente na reconstrução do projeto nacional.
A presença de nomes de peso, oriundos de diferentes áreas e regiões, deu corpo à ideia de que a defesa da soberania vai muito além de partidos ou categorias
profissionais. Trata-se de um valor republicano que une gerações e segmentos distintos em torno de um ideal comum: o Brasil como protagonista de sua própria história.
Um novo ciclo pode estar nascendo
A soberania em foco aparece novamente como eixo norteador desse movimento. A defesa da soberania nacional não pode ser vista como discurso vazio ou retórico. Em
tempos de alinhamentos geopolíticos complexos e ataques à democracia, o resgate da engenharia e a revalorização do conhecimento técnico-científico se tornam essenciais.
Se este ato for, de fato, o prenúncio de uma nova articulação nacional, que una
engenheiros, juristas, educadores e cidadãos em geral, o país poderá vislumbrar um novo ciclo. Um ciclo em que o desenvolvimento econômico caminhe lado a lado com a autonomia e a justiça social.
*José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, escritor e advogado, com uma destacada trajetória na defesa de áreas cruciais como transporte, sustentabilidade, habitação, educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública. Ele é o fundador e presidente da FerroFrente e da Associação Água Viva. Em 2018, fundou e passou a coordenar o Movimento Engenheiros pela Democracia (EPD), criado a partir da convicção de que a engenharia, como base material do desenvolvimento nacional, deve estar a serviço da democracia, da ética e da justiça social.
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