
Por Marcely Vieira*
Da Página do MST
O assentado Moacir Vieira, mais conhecido como Lobão, que vive no Assentamento Pau de Arara, no município de Água Branca, cidade que faz divisa com Pernambuco no Alto Sertão de Alagoas, é um dos feirantes que vende obras artesanais produzidas por ele e por toda a sua família: redes, mantas, colchas e tapetes feitos à mão.
Lobão saiu do estado de São Paulo e veio diretamente para o Nordeste brasileiro atrás de trabalho no campo, chegando na cidade de Caraibeiras (PE), conhecida como “A Cidade da Rede”. Foi nesse município que conheceu o artesanato em fios e então se encantou por essa arte.
Após um tempo conheceu a sua esposa que pratica o mesmo ofício no artesanato e eles começaram a se incentivar, com o passar dos anos a família cresceu, e todos passaram a ajudar nas demandas de produção das peças.

Logo a produção é realizada de forma comunitária e familiar, por ele, esposa e seus dois filhos, além de muitos parentes próximos que se dispõem a ajudar. É um verdadeiro trabalho à mão familiar que passa de geração a geração.
“Acordamos cedinho, às cinco da manhã para produzir as peças que demora muito tempo”, explicou o processo de trabalho. O processo é de fio a mão, com uma bobina de fio, e tem o momento em que eles se utilizam de uma máquina de tear a mão que facilita na agilidade do trabalho.
Vindo para o Nordeste, foi que Lobão, há 16 anos atrás, conheceu o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) com um amigo que apresentou o assentamento em que ele, a sua família e mais 22 assentados vivem atualmente. Lobão relata que foram para o local de bicicleta numa viagem que durou duas horas e até hoje vive no local.
Apesar de sua família ter conseguido um lar para morar e trabalhar ele ressaltou alguns desafios de sua vivência no assentamento. “O acesso ainda é muito difícil, pois não tem estrada até lá; quando chove, uma raridade, a estrutura não sustenta e o espaço fica repleto de lama”, comentou.
O assentado ainda destaca que esse limite dificulta, por exemplo, o acesso à escola para os jovens da comunidade, que precisam de transporte para chegar até o local de estudo.
Lobão e sua família tem como fonte de sustento também a agricultura e a criação de animais. Em seu lote ele planta entre algumas sementes o feijão e o milho, principalmente. O assentado cria bode em abundância pelo motivo de ser um animal predominante no Sertão.
O investimento na plantação é fraco, pois há a dependência da chegada do inverno para eles conseguirem plantar. Entretanto, nesse ano de 2025 a estação chuvosa veio tardiamente, acontecendo somente no final deste mês de agosto o que atrasou toda a produção no período.
“Essa ainda é uma luta muito urgente para todos nós na região. Lutamos pela terra, mas também seguimos lutando por água”, explicou.
Outro trabalho realizado por Lobão e sua família é a plantação de árvores, que ele considera uma ação muito importante para o planeta. Com a participação no MST ele ressaltou a importância da Reforma Agrária, “esse é um projeto para todos nós, é um movimento que abrange todos nós”.

Moacir, depois de se familiarizar com o MST passou a levar sua produção para diversas atividades em Alagoas e para Brasil inteiro. “Já vim outros anos para a Feira em Maceió e sigo sendo o único a trazer esse tipo de material para comercialização, um orgulho para nós. É uma alegria poder levar essa arte para outros locais e poder representar nosso Movimento”, comentou.
Lobão é um dos 150 feirantes presentes na Feira da Reforma Agrária que acontece até o próximo sábado (6) na Praça da Faculdade, reunindo entre produção de alimentos, o espaço também tem ampla comercialização de artesanato dos mais variados tipos, sua barraca está localizada ao lado do palco principal da Feira.
*Comunicação da Feira