
O Brasil dos “partidocratas”
por Elias Tavares
No Brasil de hoje, um dos cargos mais poderosos não está no Executivo nem no Legislativo. Está fora das urnas: é o posto de presidente de partido. Sem mandato, sem tribuna, mas com a caneta que libera milhões de reais e define quem será candidato, o dirigente partidário se tornou a figura central da engrenagem política nacional.
Valdemar Costa Neto é o exemplo mais evidente. Um político que renunciou ao Congresso para não ser cassado no escândalo do Mensalão, mas que hoje, à frente do PL, comanda a maior bancada da Câmara e administra cifras gigantescas do fundo partidário e do fundo eleitoral. Apenas no primeiro semestre de 2025, o PL recebeu mais de R$ 95 milhões em fundo partidário, além de repasses extras de multas eleitorais. Somado a isso, no último ciclo eleitoral, o partido liderou também a fatia do fundo eleitoral, que beirou os R$ 5 bilhões distribuídos entre as legendas. É um poder objetivo, mensurável, que transforma o presidente do partido em um verdadeiro chefe político nacional.
E Valdemar não está sozinho nesse tabuleiro. Gilberto Kassab, presidente do PSD, mostra como a articulação e a estratégia valem tanto quanto o caixa. O PSD foi o partido que mais elegeu prefeitos em 2024, consolidando uma capilaridade que nenhum outro dirigente conseguiu nos últimos anos. Kassab, sem mandato, é hoje ouvido por governadores, ministros e até presidenciáveis, porque sabe usar o peso institucional do partido para se colocar como árbitro das alianças.
Esse poder tem uma lógica simples: o dinheiro e a lei. O fundo partidário e o fundo eleitoral são distribuídos conforme o tamanho da bancada na Câmara dos Deputados. Ou seja, quanto mais deputados federais o partido elege, mais recursos controla. E quem decide para onde vai esse dinheiro? O presidente do partido. É ele quem escolhe onde investir, quem financiar, e até onde cortar. No Brasil, isso significa decidir o futuro político de centenas de candidaturas.
“Esses dirigentes são hoje arquitetos da política brasileira. Eles não apenas influenciam, eles definem”, costuma dizer quem observa de perto. Em um sistema em que a fidelidade eleitoral é volátil, o que garante poder real é o controle dos recursos e a capacidade de costurar alianças. É por isso que, em 2026, os nomes de Valdemar Costa Neto e Gilberto Kassab serão tão ou mais relevantes que muitos presidenciáveis.
O que está em jogo é claro: em um país onde os partidos são os donos do dinheiro e da máquina, o partidocrata é o verdadeiro chefe de Estado paralelo. Não governa, mas manda. Não legisla, mas decide. Sem mandato, mas com o destino de candidatos e alianças na ponta da caneta.
Elias Tavares é cientista político, com pós-graduação em marketing eleitoral e formação em gestão de partidos políticos. Atua na análise do sistema político brasileiro, com ênfase em comunicação eleitoral, estrutura partidária e estratégias de campanha. Tem se dedicado à produção de conteúdo analítico sobre os desafios institucionais do país, o funcionamento do Congresso Nacional e o comportamento do eleitorado. Sua abordagem une rigor técnico, linguagem acessível e compromisso com o debate público qualificado.
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