A imposição da Lei Magnitsky contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, apelidada de “pena de morte financeira”, mostrou como toda a rede bancária, de uma forma ou de outra, está nas mãos do capital imperialista estadunidense. Por mera vontade de Trump em salvar seu capacho de estimação da cadeia, o governo dos Estados Unidos pode simplesmente impedir que qualquer brasileiro tenha um cartão bancário, até mesmo do Banco do Brasil.
Quando se impôs o tarifaço contra o Brasil, a extrema direita espalhou a fake news de que o governo Trump desligaria o país do sistema de GPS. Uma mentira, mas que poderia ser verdade, dado que o sistema de geolocalização foi desenvolvido pelos EUA para fins militares. Especialistas vieram a público, porém, para explicar que, se do ponto de vista técnico não é algo tão simples de se fazer, existem alternativas caso isso viesse a ocorrer. Quais são elas? O sistema russo GLONASS, o chinês BeiDou ou o Galileo da União Europeia.
O ataque de Trump ao país expôs de forma mais explícita a relação de dependência e subordinação do Brasil ao imperialismo estadunidense e aos demais imperialismos. A taxação das exportações é a ponta do iceberg. Da internet que usamos, cuja infraestrutura de data centers é controlada pelo capital estrangeiro, até o cafezinho que tomamos no dia a dia, passa pelo controle de grandes monopólios estrangeiros.
Tá tudo dominado
O Brasil é o maior produtor de café do mundo. Mesmo assim, vimos seu preço praticamente dobrar no último ano. Esse aumento não se deve essencialmente a nenhuma grande catástrofe climática, mas ao aumento do preço do produto no mercado internacional. Pagamos em dólar o café que produzimos aqui. E, mesmo assim, quatro grandes empresas estrangeiras dominam mais da metade do mercado nacional, demonstrando a subordinação até da burguesia nacional do agronegócio aos grandes monopólios capitalistas estrangeiros. O café Pilão, por exemplo, é da holandesa JDE Peet’s, comprada recentemente pela estadunidense Keurig Dr Pepper (KDP). Já a Três Corações tem metade de suas ações nas mãos da israelense Strauss Coffee.
Quase todos os produtos de uma cesta de mercado na esquina são de transnacionais. Um sabão em pó Omo para lavar a roupa? Um Rexona para ficar cheiroso? Todos produtos da britânica Unilever. Colgate para escovar os dentes? Da estadunidense Palmolive. Um chocolate Lacta para a sobremesa ou um Halls para tirar o mau hálito? Produtos da também estadunidense Mondelez International. Mesmo marcas tradicionais vistas como tipicamente brasileiras, como Sadia e Perdigão, ambas da gigante BRF, tem por trás fundos estrangeiros, como a Salic, da Arábia Saudita.
A maior parte da economia é, assim, dominada por grandes transnacionais capitalistas, que se instalam aqui, exploram uma mão de obra barata, gozam de toda sorte de isenções fiscais e subsídios e remetem seus lucros às matrizes. Mesmo as grandes empresas “brasileiras” de capital aberto estão, em grande parte, nas mãos de fundos de investimentos estrangeiros. Ou então grandes de fundos capitalistas imperialistas, como a gigante BlackRock dos EUA, que se infiltraram e capilarizaram seus tentáculos em praticamente todos os setores da economia, como na Embraer.
O capital estrangeiro imperialista também abocanha nacos de estatais que, num processo de privatização, abrem seu capital na bolsa, como é o caso principalmente da Petrobras. Lucram com a paridade do preço do petróleo no mercado internacional, que eleva o preço da gasolina aqui, e com dividendos bilionários que saem do país sem pagar um centavo de imposto.
O mecanismo da dívida pública
Outra principal perna da dominação imperialista no país é o mecanismo da dívida pública. Uma dívida cujos papéis estão, em grande parte, nas mãos de grandes fundos de investimento imperialistas, que lucram com uma das maiores taxas de juros do mundo num esquema criminoso de agiotagem. É justamente para manter esse sistema que o governo Lula, seguindo a política econômica dos governos anteriores, impõe o arcabouço fiscal, que desvia recursos das áreas sociais para os banqueiros estrangeiros.
Servindo como uma espécie de teto de gastos 2.0, o arcabouço impõe um regime de austeridade fiscal que coloca o pagamento de juros como prioridade absoluta em detrimento da saúde, do emprego, da educação ou de qualquer outro gasto do governo. É uma espécie de duto que draga as riquezas produzidas pela classe trabalhadora brasileira direto para os bolsos de banqueiros bilionários, os quais enriquecem sem sair do ar-condicionado de seus escritórios em Nova Iorque.
Independência pressupõe derrotar o projeto do governo Lula
Em toda a sua história, o Brasil sempre foi um país subordinado às grandes potências imperialistas. A burguesia brasileira é atavicamente covarde e luta para se manter como sócia-menor e viver das migalhas que caem do banquete de seus chefes. É por isso que um país tão rico, com um dos maiores PIBs do mundo, é ao mesmo tempo tão pobre, incapaz de garantir até mesmo saneamento básico para metade de sua população.
Hoje, o imperialismo estadunidense é amplamente hegemônico, seguido pelo imperialismo europeu e o ascendente imperialismo chinês. No entanto, ao contrário do que defende grande parte da esquerda, o imperialismo chinês não é uma alternativa para a classe trabalhadora. Não existe um “imperialismo do bem” ou menos deletério. A lógica do capital é a mesma, venha do imperialismo dos EUA, da Europa ou da China: a sua reprodução a qualquer custo, com a superexploração da mão de obra local em prol do enriquecimento de suas respectivas burguesias.
Todos os governos, principalmente nos últimos 40 anos, mantiveram e aprofundaram essa política de subordinação e entrega, ainda que de formas diferentes. A política econômica do governo Lula, neste sentido, não rompe com essa lógica. O arcabouço fiscal e a dívida são exemplos disso, como também são as PPPs (Parcerias Público-Privadas), a privatização do saneamento público, a quebra do monopólio dos Correios, a manutenção da gestão privada na Saúde e Educação, que entrega até a Educação às multinacionais. Enfrentar o imperialismo, assim, passa por enfrentar, e derrotar, a política econômica do governo Lula.
A burguesia nacional é incapaz de romper com a dominação imperialista justamente porque ganha com ela. O Brasil só será realmente dos brasileiros quando rompermos de fato com o imperialismo. Isso só será possível derrotando o projeto e a política econômica implementada pelos governos, que agora o governo Lula impõe.