O Brasil alcançou em agosto de 2025 um feito inédito: o menor número de queimadas para o mês desde o início do monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 1998. Foram contabilizados 18.451 focos de calor, número 61% abaixo da média histórica de agosto (47.348) e 13,8% inferior ao recorde anterior, de 2013. Pela primeira vez, o país registrou menos de 20 mil focos neste período, tradicionalmente o mais crítico da temporada seca.

O contraste com anos recentes é marcante. Apenas em 2024, o Brasil somou 68.635 focos em agosto — quase quatro vezes mais do que em 2025. O recuo não é pontual: no acumulado do ano, o país soma 47.531 focos, um patamar muito inferior aos observados em 2020 e 2021, quando a crise ambiental brasileira ganhou destaque internacional.

Ações preventivas e estrutura de combate

A queda histórica está diretamente associada ao reforço das ações preventivas e da estrutura de combate. O governo contratou 4.385 brigadistas federais, o maior contingente da história, e ampliou em 75% a frota de helicópteros do Ibama. Houve ainda aportes milionários do Fundo Amazônia em Corpos de Bombeiros estaduais e expansão de recursos também para biomas fora da Amazônia, como Cerrado e Pantanal.

Além disso, novos instrumentos legais — como a Lei 15.143/2025, que agiliza a contratação de brigadistas e permite uso de aeronaves estrangeiras — reforçam a capacidade de resposta. O Decreto nº 12.189 elevando punições por incêndios e os Planos de Ação para todos os biomas até 2027 consolidam uma estrutura de médio prazo.

Ainda assim, especialistas destacam que a queda das queimadas também pode ter sido favorecida por fatores climáticos pontuais, como chuvas acima da média em algumas regiões. Isso significa que a sustentabilidade dessa tendência dependerá da continuidade das políticas e da coordenação federativa.

Cerrado em alerta: novo epicentro das queimadas

Um dado chama atenção no balanço de 2025: o Cerrado superou a Amazônia como bioma mais afetado, concentrando 47,9% dos focos. A Amazônia respondeu por 28,3% e o Pantanal teve apenas 0,4%.

Essa inversão revela um desafio estratégico. Se por um lado os investimentos concentrados na Amazônia Legal mostram eficácia, por outro a pressão sobre o Cerrado — bioma crucial para os recursos hídricos e para a agricultura — exige políticas específicas. Estados como Mato Grosso, Maranhão, Tocantins, Bahia e Pará concentram mais da metade dos registros e demandam maior presença de brigadas e fiscalização.

Impactos políticos e internacionais

No plano político, a queda nas queimadas representa uma vitória simbólica para o governo Lula. Após anos em que o Brasil foi acusado de retroceder no combate ao desmatamento e aos incêndios florestais, sob o governo Bolsonaro, os números reforçam o discurso de compromisso ambiental e fortalecem a imagem do país em negociações internacionais sobre clima.

O resultado também fortalece a posição brasileira em fóruns multilaterais, como a COP, e pode influenciar acordos comerciais com a União Europeia e outros blocos, onde cláusulas ambientais são cada vez mais determinantes.

O desafio de manter a tendência

A experiência brasileira mostra que a redução das queimadas depende de três pilares:

  • Capacidade operacional – com brigadistas treinados, aeronaves e logística;
  • Governança e coordenação – envolvendo União, estados, municípios e comunidades locais;
  • Condições climáticas – que podem tanto atenuar quanto agravar o problema.

O recorde de 2025 sugere que políticas consistentes produzem resultados concretos, mas também evidencia que a pressão migrará para biomas menos priorizados, como o Cerrado.

Sucesso conjuntural, tendência estrutural

O Brasil encerrou agosto com um marco histórico que reposiciona o país no debate ambiental global. A queda sem precedentes das queimadas reflete tanto maior investimento e coordenação governamental quanto um cenário climático relativamente favorável.

O desafio agora será transformar o sucesso conjuntural em tendência estrutural, garantindo que Cerrado, Amazônia e Pantanal sejam preservados em igual medida. Se mantida, a trajetória poderá consolidar a imagem do país como protagonista da agenda climática. Os números de 2025 não podem ser lembrados apenas como uma exceção — mas como o início de uma nova era de proteção ambiental no Brasil.

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Last Update: 02/09/2025