O império dos “incitati” e as mulas sem cabeça

Por Marcelo Zero*

Trump, nosso moderno Calígula, essa dádiva divina que a máfia imobiliária do Queens legou generosamente ao planeta, vem causando caos por onde sua fisicamente volumosa e mentalmente raquítica figura passa.

Tal como Átila, o Huno, Trump, o Maga, impede o crescimento da grama, da economia e das democracias nos lugares percorridos pela sua equipe de excitados e improvisados “incitati”, com seus afiados cascos tarifários e políticos.

Segundo o Banco Mundial, a economia global terá a década mais lenta para o crescimento econômico mundial, desde a década de 1960, à medida que os efeitos das tarifas de Donald Trump forem sentidos.

Na análise prospectiva desse banco, criado para servir aos interesses dos EUA e da Europa, quase dois terços dos países do mundo tiveram suas previsões de crescimento reduzidas, em relação ao último conjunto de previsões dessa vetusta instituição, feito há seis meses.

Japão, Europa e os próprios EUA, é claro, estão entre os países rebaixados no relatório semestral do banco.

Tais previsões, contudo, mais parecem desvarios panglossianos, ante o que está acontecendo no inferno dantesco em que se tornou a desordem distópica global.

Os extensos e profundos danos tornaram-se vergonhosamente patentes até mesmo para analistas conservadores associados ao antigo Partido Republicano, o qual foi destruído pelos coices obtusos e desordenados dos leais, porém oligofrênicos quadrúpedes.

Conforme escreveu Kori Schake, respeitada analista que serviu aos Bush, no seu artigo intitulado “Dispensable Nation” (Nação Dispensável) “America in a Post-American World”, e publicado na Foreign Affairs:

…. a errática guerra comercial de Trump, que visa igualmente rivais e aliados, abalou os mercados, assustou investidores e convenceu os parceiros de Washington de que não podem mais confiar nos Estados Unidos. Trump ameaçou a soberania de aliados e criticou publicamente seus líderes, ao mesmo tempo em que elogiava os ditadores e bandidos que os ameaçavam. A eliminação radical e peremptória da assistência externa americana pelo governo removeu uma alavanca de influência americana e transmitiu um nível de indiferença que não passará despercebido. Enquanto os amigos do país assistiam com horror e seus rivais com júbilo, os Estados Unidos passaram de indispensáveis a insuportáveis.”

De fato, o Império dos “incitati” é insuportável (unbearable).

Segundo Suetônio, Calígula apenas cogitou em nomear seu cavalo Incitatus (Impetuoso) como cônsul. Uma provocação ao Senado. Trump, porém, foi bem mais longe e realmente colocou sua manada de “incitati” nos cargos mais estratégicos do Império em célere decomposição.

Conforme o insuspeito professor Jeffrey Sachs, Peter Navarro, a pitonisa das tarifas, foi o pior estudante de economia que já passou por Harvard, cuja genialidade foi confirmada, urbi et orbi, no “dia da libertação” do grande tarifaço, arquitetado com base em obscuras fórmulas matemática e clara ignorância geográfica.

Robert F. Kennedy Jr., figura terraplanista saída diretamente das cloacas da pandemia, insiste na ofensiva contra as vacinas e a ciência e na defesa das abluções em águas contaminadas por esgoto.

Peter Brian Hegseth, triunfalmente emergido dos miasmas semióticos da Fox News, dedica-se, entre outras coisas, a recuperar o “quintal” contra a nefasta influência da China, que, ao invés de impor tarifas punitivas e descabidas contra a população morena que come pets, promove comércio, investimentos, paz e multilateralismo.

Não se sabe qual a sumidade que decidiu, entre uma e outra tragada de alfafa, punir, em 50%, a Índia, a grande opção estratégica do Império à China na Eurásia.

Mas foi um golaço geopolítico histórico. Agora, China, Índia e Rússia, além da imensa maioria dos países do Sul Global estão fortemente empenhados em contraporem-se, unidos, ao Império dos “incitati”.

Felizmente, o Império dos “incitati” não está de todo isolado. No Brasil, essa terra improvável de certos “silvérios”, ou de “silvérios” certos, os “incitati” conseguiram cegos aliados entre as atemorizantes “mulas sem cabeça”, que galopam, ainda incontidas e impunes, sempre em cio fascista, nas margens extremas e direitas das pastagens políticas e geopolíticas.

Juntos, procuram destruir o nosso país, sua economia, seus empregos, sua política externa e, sobretudo, sua democracia.

Felizmente, há Lula. Felizmente, há povo. Felizmente, há Brasil.

O País bípede e implume caminha com lucidez para a soberania e a democracia.

Os equinos relincham e a caravana passa. Vai passar. Isso é certo.

*Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais.

Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Last Update: 02/09/2025