Os presidentes da China e da Rússia criticaram os Estados Unidos e o Ocidente nesta segunda-feira 1º durante uma reunião de cúpula na cidade chinesa de Tianjin, que busca promover uma governança mundial alternativa, com Pequim como o centro das relações regionais.
O presidente chinês, Xi Jinping, criticou o “comportamento intimidador” de alguns países, em uma referência velada aos Estados Unidos, durante o encontro de cúpula da Organização para Cooperação de Xangai (OCX).
Na presença de líderes como o russo Vladimir Putin e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, Xi pediu uma oposição “à mentalidade da Guerra Fria” e defendeu o multilateralismo, as Nações Unidas e a Organização Mundial do Comércio.
“Devemos defender um mundo multipolar justo e ordenado, e uma globalização econômica inclusiva”, declarou o presidente chinês, que tem tido confrontos comerciais com os Estados Unidos ao longo do ano.
A reunião de cúpula de dois dias conta com a participação dos países do bloco: China, Índia, Rússia, Paquistão, Irã, Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Uzbequistão e Belarus, além de outras 16 nações afiliadas como observadoras.
China e Rússia mencionaram a OCX, que representa quase metade da população mundial e 23,5% do PIB do planeta, como uma alternativa à Otan.
‘Sempre perspicazes’
Putin defendeu a ofensiva de seu país na Ucrânia e culpou o Ocidente por provocar o conflito, que começou há três anos e meio e deixou dezenas de milhares de mortos.
“Esta crise não foi provocada pelo ataque russo na Ucrânia, e sim o resultado de um golpe de Estado na Ucrânia, que foi apoiado e provocado pelo Ocidente”, declarou Putin.
“A segunda razão desta crise são as constantes tentativas do Ocidente de levar a Ucrânia à Otan”, acrescentou.
O presidente russo, que deve passar grande parte da terça-feira com Xi Jinping, reuniu-se nesta segunda com Modi, que escreveu no X que “as conversas com ele são sempre perspicazes”.
O chefe de Governo da Índia elogiou a “parceria estratégica especial e privilegiada” com a Rússia e destacou que os dois países sempre permaneceram unidos, “mesmo nas situações mais difíceis”.
Ao comentar a guerra na Ucrânia, Modi declarou que deseja que as partes “terminem o conflito o mais rápido possível e encontrem uma paz estável”.
A cúpula acontece poucos dias após a Índia ter sido afetada por um forte aumento das tarifas dos Estados Unidos sobre seus produtos, como punição por comprar petróleo russo.
Putin também se reuniu nesta segunda-feira com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e agradeceu pelo papel de Ancara como mediador no conflito com a Ucrânia.
Por ocasião da visita do presidente russo à China, Kiev instou Pequim a se mostrar “mais ativa no restabelecimento da paz na Ucrânia”.
Muitos aliados da Ucrânia acusam a China de apoiar a Rússia no conflito. O gigante asiático invoca sua neutralidade e considera que os países ocidentais prolongam as hostilidades ao armar a Ucrânia.
Pressões sobre o Irã
Outro encontro importante será a reunião entre o presidente russo e seu homólogo iraniano, Masoud Pezeshkian, no momento em que Teerã enfrenta pressões da Europa para cumprir com suas obrigações nucleares internacionais.
A OCX condenou os bombardeios de Israel e dos Estados Unidos contra o Irã em junho, segundo uma declaração divulgada pela agência Xinhua.
Os Estados-membros também denunciaram “atos que provocam vítimas civis e um desastre humanitário em Gaza, pedem um cessar-fogo completo e duradouro e um acesso irrestrito para a ajuda humanitária”.
A cúpula da OCX começou no domingo e muitos líderes presentes também comparecerão a um imenso desfile militar na quarta-feira (3) em Pequim para celebrar o 80º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial.
Nesse desfile estará presente o líder norte-coreano, Kim Jong Un, que entrou na madrugada de terça-feira na China em um trem vindo de seu país, informou a agência sul-coreana de notícias Yonhap, citando a rádio estatal norte-coreana.