Na guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que já se arrasta por eternos 3 anos, muita carnificina há ainda por vir, apesar das atrocidades já cometidas tanto pelo presidente da Rússia, Vladimir Vladimirovich Putin, quanto por Volodymyr Olexandrovytch Zelensky, presidente da Ucrânia.

E considerando a matança tal como ela opera também nesta guerra, com o deliberado ataque, de ambos os lados: a alvos civis, o que tem se tornado prática costumeira e, portanto, método de extermínio gradual de populações inteiras em conflitos armados recentes pode-se suspeitar,inclusive, que este conflito está longe de terminar.

De acordo com o site ONU News, até agora 12,3 mil civis morreram, dos quais 650 vítimas foram crianças.

Ou seja, em 3 anos de guerra entre Rússia e Ucrânia,e a quantidade de mortos já equivale a população de um país como o Vaticano (o menor país do mundo, 0,44 km² e 990 habitantes, localizado em Roma, na Itália) ou de países como Tuvulu (900 km² e 9.646 habitantes, localizado na Oceania) e Nauru (21 km² e 11.947 habitantes, também localizado na Oceania).

Mas, as vítimas da guerra não são apenas civis, entre eles deve-se acrescentar ainda os soldados, que também sendo seres humanos, têm suas vidas ceifadas diariamente.

De acordo com o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (de Washington), já há 250 mil soldados russos mortos e entre 60 e 100 mil óbitos de soldados ucranianos. Se considerar-se a estas baixas os feridos, tem-se, então, 700 mil soldados russos feridos e 300 mil soldados ucranianos machucados, portanto, quase 1 milhão de soldados russos e aproximadamente 400 mil soldados ucranianos, todos, vítimas da guerra.

O que, desde o início do conflito em 2022 dá uma média, entre mortos e feridos, de 1.000 soldados russos por dia e baixa diária de 400 soldados ucranianos.

Com isso, se somarmos o número de civis mortos com a quantidade de soldados russos e ucranianos que expiraram, totaliza-se até agora, aproximadamente, 362 mil vítimas equivalente, então, a metade do número de habitantes de países como Suriname ( menor país da América do Sul, 163.820 km² e 632 mil habitantes).

No entanto, se acrescentar-se aos civis e soldados russos e ucranianos que morreram, os soldados que sendo feridos também são vítimas desta guerra, então, o número de baixa sobe para 1,362 milhão de pessoas, o que equivale, agora, ao dobro dos habitantes do Suriname ou a população de um país como a Estônia (localizado no norte da Europa, 45.339 km² e aproximadamente 1,380 milhão de habitantes).

E mais.Se considerarmos que os esforços de paz têm sido infrutíferos ( pelo menos até aqui) e se esta escala de matança não aumentar, mas for mantida pelos próximos 3 anos, então, serão 2,760 milhões de óbitos e, portanto, comparável aos 3,203 milhões de pessoas que,hoje,é a população de Porto Rico (Estados Unidos).

Mas, então, qual é o X da questão? Por que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia somente aumenta o número de vítimas? Por que esta matança de pessoas, civis e soldados, não chega ao fim?

O X da questão é a ideia de soberania, ou seja, o direito de um Estado não subordinar-se à vontade de outro.

E,aqui, é preciso dizer que, por detrás das cortinas do palco deste conflito, ocultam-se as reais engrenagens que movem e motivam a guerra: a expansão para o leste da Europa, da zona de influência norte-americana, por meio da Organização do Tratado Atlântico Norte(OTAN).

A OTAN, que é uma aliança militar de apoio mútuo entre os países-membros no caso de uma agressão armada, foi criada em 1949, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) visando impedir o avanço para a Europa Ocidental da União das Republicas Socialistas Soviéticas (URSS).

No entanto, com a queda da URSS, a OTAN passa a atuar como representante dos interesses norte-americano visando ampliar, na Europa, a esfera de influência estadunidense, a fim de inviabilizar o aparecimento de um novo rival no cenário geopolítico mundial, motivo pelo qual, não só o ingresso da Rússia na OTAN é interditado, mas também países do Leste Europeu são estimulados a tornarem-se membros da OTAN, despertando apreensão da Rússia quando países que lhe fazem fronteira (como é também o caso da Ucrânia) manifestam está vontade, pois, ao tornarem-se membros de uma aliança militar podem disponibilizar seu território não para fins de defesa, mas de ataque, se decidirem servir pela proximidade fronteiriça, por exemplo, de base militar para lançamento de mísseis em território russo.

Deste modo, penso, Putin, de forma premeditada, prolonga a guerra porque, assim, visa adiar o ingresso da Ucrânia como membro da OTAN postergando, então, sua condição de mero país associado, ao mesmo tempo que, a vitória na guerra deve dar-se o mais lentamente possível, pois, quando a vitória completa for consumada ( a Rússia detém 1/3 do território da Ucrânia), isto permitirá o controle do território ucraniano e tal domínio impossibilitará o uso dele para fins de atentar contra a soberania da Rússia.

Deste modo, a lógica da guerra em curso, não deixa dúvidas: apesar de necessária a paz é impossível enquanto Rússia, Ucrânia e OTAN não negociarem os termos das concessões que devem, obrigatoriamente, estarem dispostos a aceitar para cessar a guerra. Mas, a Rússia, a Ucrânia e a OTAN estarão, realmente, dispostos a aceitar fazerem concessões?

Se a Ucrânia renunciasse a tornar-se país-membro da OTAN, talvez, está decisão pudesse cooperar para um cessar-fogo imediato, porém, o desejo de ingresso na aliança militar deu-se,justamente,em função do temor da Ucrânia de ser invadida pela Rússia.

A OTAN poderia cooperar pela paz, mas isto significaria acatar a vontade de Putin de impedir a entrada da Ucrânia na OTAN, no entanto, a OTAN adota o ingresso de países sem restrições, uma vez que, as adesões ampliam a esfera de influência norte-americana na Europa e Leste europeu. Será que a OTAN estaria disposta a limitar sua esfera de influência para cessar o conflito entre Rússia e Ucrânia?, quando esta guerra é, ela mesma, da perspectiva da OTAN, uma movimentação por busca de maior abrangência da esfera de influência estadunidense.

A Rússia poderia cooperar para por termo ao conflito, mas isto implicaria em aceitar a Ucrânia como país-membro da OTAN, bem como conformar-se com a expansão para o Leste europeu da aliança militar e, com isso, renunciar à soberania russa, uma vez que, o receio de uma ameaça a seu território se tornaria cada vez mais concreta pela proximidade fronteiriça de alguns países-membros atraídos para a esfera de influência dos EUA. Será que a Rússia estaria disposta a abrir mão de sua soberania? para instituir a paz na região.

Os motivos e as motivações da guerra entre Rússia e Ucrânia e OTAN (nos bastidores) evidenciam um impasse indissolúvel,pois, nem Rússia, nem Ucrânia, nem OTAN podem, isoladamente, cooperar para a instauração da paz sem ferir de morte seus próprios interesses, quer em defesa de sua própria soberania ( Rússia e Ucrânia), quer em defesa da maior amplitude de sua esfera de influência (OTAN).

Com isso, as aparições públicas de Trump, Putin e Zelensky costurando acordos, aqui e ali, para a resolução do conflito bélico são,na verdade, apenas teatro, uma simulação encenada para tentar convencer a opinião pública que esforços de paz estão, verdadeiramente, sendo feitos, quando, de fato, a guerra prospera e segue adiante sem prazo para terminar.

E enquanto, Rússia, Ucrânia e OTAN estão cada vez mais distantes de um entendimento, apesar de toda a alta tecnologia que, aliás, desmente a justificativa hipócrita do caráter acidental do bombardeio a alvos não-militares, então, fica evidenciada a crueldade de mais uma guerra, pois, converte-se as vidas, as pessoas, a população, enfim, em meros números para serem contabilizados no catálogo das supostas boas e nobres intenções dos detentores do poder que procrastinam a resolução do conflito pela recusa deliberada em aceitar que política, no fundo, é negociação e em uma negociação sempre há renúncias mútuas que precisam ser feitas às outras partes envolvidas na busca por consensos duradouros.

Logo, as partes envolvidas na guerra: Rússia, Ucrânia e OTAN, devem, simultaneamente, renunciar a alguns aspectos de seus interesses.E esclareço:

● A OTAN deve renunciar a sua pretensão expansionista no Leste europeu

● A Ucrânia, sem abrir mão de sua soberania deve, porém, renunciar em ser país-membro da aliança militar.

● A Rússia, sem violar sua soberania deve dar garantias à Ucrânia que não adotará uma política expansionista e irá, assim, renunciar a qualquer pretensão de domínio sobre o território ucraniano.

Ou estas renúncias ocorrem ou além desta guerra se prolongar pode se alastrar e incendiar o mundo generalizando seu alcance com o ingresso de outros países no teatro da guerra e enveredando assim, por um caminho sem volta rumo à Terceira Guerra Mundial.

Daí porque lembro de uma frase atribuída a Albert Einstein “Não sei como será a Terceira Guerra Mundial, mas sei como será a Quarta: com paus e pedras”.

Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro

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Last Update: 01/09/2025