Ramagem e Bolsonaro nos bons tempos de picaretagem

O relatório da Polícia Federal que fundamentou a quarta fase da Operação “Última Milha” revela que Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), gravou clandestinamente uma reunião com o então presidente Jair Bolsonaro e o então ministro, o general anão Augusto Heleno.

Por que Ramagem não destruiu a gravação? Deslize? Burro ele não é. Poderia usar como chantagem? Essas questões levantam suspeitas sobre suas intenções e possíveis desdobramentos legais e políticos. Foi traição, dizem aliados de Jair Bolsonaro. Os dias de Ramagem como candidato bolsonarista à prefeitura do Rio de Janeiro estão contados.

Na conversa, foi debatido um plano para abrir procedimentos contra os auditores responsáveis pelo documento da Receita Federal que embasou a investigação das rachadinhas contra o senador Flávio Bolsonaro. O caso envolvia desvios de salários de funcionários do gabinete do filho de Jair Bolsonaro quando era deputado na Assembleia Legislativa do Rio.

Alexandre Ramagem apresentou e Jair Bolsonaro aprovou uma estratégia para encerrar a investigação que mirava o senador. O relatório da PF destaca que a reunião discutiu “supostas irregularidades cometidas pelos auditores da Receita Federal na confecção do Relatório de Inteligência”.

A gravação feita por Ramagem, que durou 01:08 (uma hora e oito minutos), corrobora a premissa investigativa. Nela, o então presidente Jair Bolsonaro, o general Heleno do GSI e possivelmente a advogada do senador Flávio Bolsonaro falam sobre as irregularidades cometidas pelos auditores da Receita na confecção do Relatório de Inteligência Fiscal que deu origem à investigação.

No vídeo gravado por Ramagem, “é possível identificar a atuação do Del. Alexandre Ramagem indicando, em suma, que seria necessário a instauração de procedimento administrativo contra os auditores da Receita com o objetivo de anular a investigação, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos”.

A gravação revela que o policial federal Marcelo Araújo Bormevet e o subtenente do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, alvos da operação desta quinta-feira, participaram de ações clandestinas para “achar podres e relações políticas” dos auditores da Receita que confeccionaram o relatório de inteligência usado na investigação envolvendo Flávio. Os auditores mirados eram Christiano José Paes Leme Botelho, Cleber Homem da Silva e José Pereira de Barros Neto.

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Última Atualização: 11/07/2024