O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, retirou o sigilo do inquérito da Polícia Federal sobre as joias recebidas como presentes pelo governo brasileiro, mas que foram apropriadas indevidamente por Jair Bolsonaro e depois vendidas. O ex-presidente foi indiciado pelos crimes de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. As penas, somadas, podem chegar a 25 anos de prisão.

Outros 11 suspeitos são investigados, entre eles Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia, Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação Social, Frederick Wassef, advogado do ex-presidente, e Júlio César Vieira Gomes, ex-secretário da Receita Federal.

Esse último confirmou à PF ter conversado com Bolsonaro em duas ocasiões para agilizar a liberação de joias presenteadas pela Arábia Saudita e apreendidas na Alfândega do Aeroporto de Guarulhos. Da marca suíça Chopard, o kit formado por relógio, par de brincos, anel e colar prateado foi recebido por Albuquerque e chegou ao Brasil na mochila de um de seus assessores, Marcos Soeira, também indiciado.

Segundo a PF, Bolsonaro e seus comparsas teriam desviado do acervo público itens avaliados em 6,8 milhões de reais. É uma estimativa parcial. Ainda não foi concluída a perícia de todas as peças e algumas joias continuam desaparecidas, como duas esculturas douradas, um coqueiro e um barco, presenteadas pelo Reino do Bahrein. Elas foram levadas para Orlando, nos EUA, em avião presidencial no fim de 2022, quando Bolsonaro fugiu do País para não participar da posse de Lula.

Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e seu pai, o general Mauro Lourena Cid, tentaram vender as duas peças em Nova York, mas tiveram dificuldade de encontrar interessados, pois as esculturas não eram feitas de ouro. Em mensagens trocadas por celular, Cid júnior chegou a lamentar a viagem perdida: “Não valem nada. Não é nem banhado, é latão”. Esses itens foram desviados do patrimônio público sem ter sido registrados no acervo.

Após a revelação dos detalhes sórdidos da trama, Bolsonaro limitou-se a ironizar o erro da PF sobre o valor periciado das joias – o relatório enviado ao STF mencionava 25 milhões de reais, mas a corporação, depois, retificou para 6,8 milhões. “Aguardemos muitas outras correções. A última será aquela dizendo que todas as joias ‘desviadas’ estão na Caixa Econômica Federal, acervo ou PF, inclusive as armas de fogo”, escreveu na rede social X.

Casos de família

O vereador Carlos Bolsonaro não conseguiu disfarçar a mágoa ao ver o pai posando para uma foto com a filha do deputado federal Nikolas Ferreira, do PL. “Legal o cara fazer isso com sua filha e com a minha não!”, escreveu nos comentários do retrato compartilhado no Instagram. Logo depois, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro não perdeu a oportunidade de enviar uma indireta ao problemático enteado: “Que Deus livre e guarde a nossa Aurora de toda inveja e maldade”. Ciumento, Carlos atribui à madrasta, com quem tem péssima relação, o distanciamento do patriarca, que teria visitado poucas vezes a neta, com 1 ano e 5 meses de idade.

Crime organizado/ Rota do Rio

Operação em cinco estados prende suspeitos de lavar dinheiro para o CV e a Família do Norte

A Polícia Civil do Rio de Janeiro deflagrou, na terça-feira 9, a segunda fase da operação Rota do Rio, que busca desarticular um megaesquema de lavagem de dinheiro usado por facções criminosas que atuam no estado, e também no Amazonas, Paraná e São Paulo. Os agentes saíram a campo para cumprir 26 mandados de prisão nessas localidades e em Santa Catarina.

De acordo com os investigadores, o esquema envolvia depósitos bancários em contas de laranjas e de empresas localizadas em regiões fronteiriças da Amazônia, uma forma de ocultar a origem ilícita do dinheiro obtido pelo Comando Vermelho e pela Família do Norte com o narcotráfico. Em dois anos, essa rede teria movimentado ao menos 126 milhões de reais.

Pantanal em chamas

Só na primeira semana de julho, as queimadas no Pantanal devastaram 61.250 hectares do bioma. A área equivale a duas vezes o tamanho da capital mineira, Belo Horizonte. Em meio à tragédia, ao menos uma notícia positiva: a ministra do Meio Ambiente e das Mudanças Climáticas, Marina Silva, anunciou, na quarta-feira 10, que os brigadistas conseguiram debelar 30 focos de incêndios, 55% dos 54 registrados. “O fato de estarem extintos não significa que não devem continuar sendo monitorados. A gente não para de fazer o monitoramento”, afirmou a ministra. Atualmente, 830 profissionais do governo federal atuam para controlar as queimadas na região, com três bases de operação, 15 aeronaves e 15 embarcações.

Populismo penal/ Decisão cara e ineficiente

Um relatório do Conselho Nacional de Justiça concluiu que o fim das saídas temporárias de presos, as chamadas saidinhas, será inócuo no combate à criminalidade e que a justificativa para a aprovação da Lei 14.836/2024 não “encontra amparo em evidências”. Em maio, o Congresso derrubou o veto parcial do presidente Lula e manteve a proibição do benefício. Segundo o CNJ, apenas 4% dos detentos não retornam aos presídios após as saidinhas, fato que não traz “qualquer consequência negativa à segurança pública”.

EUA/ Tic-tac, tic-tac…

Joe Biden corre contra o tempo para provar ser capaz de governar o país

O presidente resiste como pode, mas está cada vez mais insuportável a pressão para desistir da candidatura à reeleição, após o embaraçoso debate com Donald Trump no fim de junho. De nada adiantou o esforço de Joe Biden para fazer um discurso enérgico na terça-feira 9, na celebração dos 75 anos da Otan. Entrosado com o teleprompter, prometeu deter o avanço das tropas de Vladimir ­Putin na Ucrânia sem gaguejar nem tropeçar nas palavras, mas a mídia continua a alimentar especulações sobre sua saúde mental.

Perseguição implacável

A Rússia emitiu um mandado de prisão para Yulia Navalnaya, viúva do dissidente político Alexei Navalny, após ela ser condenada a dois meses de cárcere sob a alegação de envolvimento com um “grupo extremista”, rótulo frequentemente atribuído a opositores do governo. O mandado foi emitido à revelia por um tribunal de Moscou na terça-feira 9, cinco meses após Alexei morrer em uma colônia penal russa no Ártico. Yulia responsabilizou o presidente russo, Vladimir Putin, pela morte de seu marido e prometeu dar continuidade ao seu ativismo. “Quando vocês escreverem sobre isso, por favor, não se esqueçam de mencionar o principal: Putin é um assassino e um criminoso de guerra”, pediu a viúva na rede social X. Atualmente, ela vive no exílio, em local não revelado, com os dois filhos do casal.

Mercosul/ Novo integrante

Reunião de cúpula sela a incorporação da Bolívia ao bloco econômico

A 64ª reunião de cúpula do Mercosul, realizada em Assunção, na segunda-feira 8, selou a incorporação da Bolívia como sexto membro pleno do bloco, também integrado por Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela – esse último suspenso. Dias antes, na sexta-feira 5, o presidente Luís Arce promulgou a lei aprovada no Congresso que referendava a adesão do país, com 12,2 milhões de habitantes e PIB de 4,67 trilhões de dólares.

No encontro, Arce agradeceu aos países do Mercosul que se manifestaram contra a tentativa de golpe ocorrida no país duas semanas antes. “O perigo de encurtar o meu mandato de forma alguma não desapareceu, mas tampouco retrocedeu 1 milímetro a firmeza do nosso povo e do governo na defesa da democracia”.

Em sua infantil cruzada contra o “socialismo”, o argentino Javier Milei não compareceu à reunião. “Quem perde é quem não vem”, criticou Lula, que no dia seguinte viajou para a Bolívia para discutir acordos bilaterais. “Trabalhamos na execução e consolidação de uma ampla agenda que abrange temas estratégicos, como a integração física, hídrica, energética e tecnológica, além do reforço do intercâmbio comercial em benefício dos nossos povos”, resumiu o presidente boliviano.

Publicado na edição n° 1319 de CartaCapital, em 17 de julho de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’

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Última Atualização: 11/07/2024