O risco de investimentos na Argentina disparou após o escândalo do vazamento de áudios sobre cobrança de propinas na distribuição de medicamentos para pessoas com deficiência.
O episódio atinge em cheio o governo Javier Milei, já que a voz atribuída ao ex-diretor da Andis, Diego Spagnuolo, mencionou a irmã do presidente, Karina Milei, como beneficiária do esquema.
Spagnuolo foi destituído e, dias depois, seu celular e documentos de sócios da Drogaria Suizo Argentina foram apreendidos pela polícia. A crise política se refletiu no mercado: o Embi, índice do JP Morgan que mede o risco de calote, chegou a 850 pontos-base, o maior nível em mais de quatro meses, acumulando alta de 34% em 2025.
Às vésperas das eleições legislativas na Província de Buenos Aires, a instabilidade política cresce. O escândalo surge após derrotas de Milei no Congresso, como a derrubada de vetos a reajustes para universidades e benefícios a pessoas com deficiência, o que pressiona ainda mais seu plano de corte de gastos. O Banco Central, por sua vez, elevou o dólar oficial a 1.360 pesos, alta de 3,5% em uma semana.
Os efeitos também aparecem na confiança popular: levantamento da Universidade Torcuato Di Tella apontou queda de 13,9% no índice de confiança do consumidor em agosto, o pior nível em um ano. A confiança no governo também recuou 13,6% em relação a julho, com maiores perdas em Buenos Aires e região metropolitana.
Após quase uma semana de silêncio, Milei classificou as acusações como “mentirosas” e disse que seu ex-funcionário responderá na Justiça. Antes dessa fala, ações e títulos argentinos já haviam recuado até 10%, e o S&P Merval registrou a pior queda do ano, acumulando perdas de até 6% em dólares.
A consultoria Invecq destaca que a economia argentina, após crescer até fevereiro de 2025, estagnou e não voltou a superar aquele patamar. Juros em dois dígitos e novas exigências para bancos encarecem o crédito e limitam a recuperação.
