As eleições para a diretoria do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, gestão 2025-2028, entraram na reta final. A votação, que começou no último domingo (24) e segue até sexta-feira (29), mobiliza trabalhadores de todas as linhas do Metrô (1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha, 4-Amarela, 5-Lilás e 15-Prata), com urnas itinerantes circulando em áreas, turnos e escalas.
Quatro chapas disputam a direção, em um processo considerado equilibrado. A Chapa 1 – Unidade Metroviária, liderada por Wagner Fajardo e composta por CTB e CUT, aparece entre as favoritas. A expectativa é de uma disputa acirrada, com possibilidade de segundo turno caso nenhuma das chapas alcance mais de 50% dos votos válidos.
A Chapa 2, que representa a atual gestão, enfrenta dificuldades devido ao desgaste da administração. Já as chapas 3 e 4, embora façam discurso de oposição, têm integrantes que são dirigentes do sindicato – e que, portanto, não representam a mudança necessária para a categoria.
Em entrevista ao Portal Vermelho, Fajardo, ex-coordenador-geral da entidade, destacou que a eleição acontece em um momento de forte ataque ao transporte público. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) agravou a política privatista e neoliberal que já estava em curso dos governos do PSDB.
“Essa talvez seja a eleição mais importante que estamos realizando na categoria”, afirma Fajardo. “Atravessamos atravessando um momento muito grave na empresa, de um desmonte muito grande, promovido pelo governo Tarcísio.”
Resgate
A Unidade Metroviária traz a experiência de participação nas lutas políticas da categoria, na construção do acordo coletivo que hoje o sindicato tem com a empresa e grande parte dos direitos consagrados, conquistados em épocas em que a corrente da CTB presidiu o sindicato. Para Fajardo, a principal missão de Chapa 1 é retomar a proximidade com os metroviários.

“Temos um sindicato muito enfraquecido, dividido e distante da categoria”, denuncia. “Essa eleição está sendo encarada como uma eleição de resgate: resgate do histórico de luta, de resistência e de organização da categoria em torno do sindicato. Um sindicato que conversa, que está com os trabalhadores nos momentos de maior dificuldade.”
Fajardo lembrou ainda que sua candidatura carrega a trajetória de lideranças históricas, como os ex-presidentes do sindicato Wagner Gomes, Pedro Agostinelli (Boquinha), Onofre Gonçalves, Flávio Godoy, Paulo Otávio de Azevedo Júnior (fundador da entidade, ainda na ditadura) e Cláudio Spicciatti. “São figuras que sempre marcaram a vida da categoria pela representatividade e responsabilidade com a luta”, frisou.
Críticas à atual gestão
O líder da Chapa 1 não poupou críticas à diretoria atual, que se fragmentou em três chapas diferentes (2, 3 e 4) por não conseguir manter coesão em torno de posições sobre o governo federal e o governo Tarcísio de Freitas. “A última eleição foi vencida por um arranjo de forças antagônicas, que se uniram apenas para derrotar nossa chapa. Essa aliança se mostrou frágil, sem consistência ideológica ou unidade, e resultou num sindicato sem rumo em meio ao pior ataque privatista da história do Metrô”, afirmou.
Segundo ele, as divisões internas da atual diretoria — que reúne diferentes correntes do PSOL, PSTU e Conlutas — enfraqueceram a atuação do sindicato. “Outras chapas enxergam o sindicato como instrumento para fortalecer suas correntes políticas, e não a categoria. Essa visão sectária acaba servindo, muitas vezes, ao jogo da própria direita”, criticou.
Privatização e terceirização no centro da disputa
Entre os principais desafios, Fajardo cita o combate às privatizações e terceirizações promovidas pelo governo estadual. “O objetivo central da nossa luta tem que ser conter e barrar esse processo de terceirização. Isso significa precarização do trabalho, queda da qualidade do serviço e desmonte do conhecimento acumulado pela categoria. É meio caminho para a privatização”, alertou.
Ele também fez referência às batalhas enfrentadas em outros estados. “O metrô de Recife e o do Rio Grande do Sul estão na mira da privatização. Nossa luta é nacional, porque conter esses processos em outros estados fortalece a resistência em São Paulo”, afirmou.
Independentemente do resultado eleitoral, os metroviários terão pela frente temas considerados decisivos: defesa do transporte público de qualidade; revisão das escalas de manutenção e segurança; reivindicação de PPR (Programa de Participação nos Resultados) igualitário; ampliação do diálogo com a base e fortalecimento das reuniões setoriais.
Democracia sindical e participação online
Outro ponto defendido pela Chapa 1, que conta com militantes do PCdoB, PT, PSB e independentes, é a ampliação da participação por meios digitais. “Desde a pandemia, as assembleias online foram fundamentais para aumentar a adesão da categoria. Alguns grupos tentaram suspender esse sistema, mas a categoria rechaçou. Quanto maior a participação, mais forte fica o sindicato”, disse Fajardo. Ele criticou o fato de outras chapas não terem aceitado a realização da eleição de forma online, o que demonstra “contradição entre discurso e prática” em relação à democratização das decisões sindicais.