“A ciência não tem pátria, o cientista tem” Louis Pasteur

Ao longo da história, a humanidade tem acumulado um vasto e diversificado acervo de saberes. Da matemática dos antigos babilônios à engenharia romana, da física quântica à medicina tradicional dos povos indígenas, cada descoberta, cada insight, cada técnica aperfeiçoada é um tijolo na construção coletiva da nossa existência. Este imenso patrimônio intelectual e cultural não é propriedade de uma nação, corporação ou cultura específica; é um legado comum, um bem de toda a humanidade. A verdadeira questão que se coloca, portanto, não é qual conhecimento é superior, mas como vamos utilizá-lo e com qual projeto de existência humana desejamos nos alinhar.

A falsa dicotomia que opõe ciência “ocidental” a saberes tradicionais, ou conhecimento técnico a conhecimento humanístico, é um reducionismo perigoso. Ela ignora a natureza complementar e sinérgica do saber. A aspirina, por exemplo, deve sua existência tanto à síntese química moderna quanto ao conhecimento tradicional do uso da casca do salgueiro. A agricultura sustentável alia a genética à sabedoria milenar de comunidades que entendem os ciclos da terra. Confrontar esses conhecimentos é empobrecer nossa capacidade de resolver problemas complexos. O desafio é integrá-los, reconhecendo que cada um oferece uma lente valiosa para compreender e interagir com o mundo.

Nesse sentido, o valor de um conhecimento não reside apenas em sua veracidade ou eficácia técnica, mas no propósito ao qual ele serve. Ele é uma ferramenta, e como qualquer ferramenta, pode ser usada para construir ou destruir. A mesma física que nos permite entender o cosmos e desenvolver tecnologias de energia limpa também foi pervertida para criar armas de destruição em massa. A engenharia que constrói hospitais e pontes também pode erguer instrumentos de opressão e vigilância. A biologia que cura doenças pode ser direcionada para a eugenia ou a manipulação ecossistêmica irresponsável.

Portanto, a escolha central que temos pela frente é ética e política. É uma escolha sobre valores. Com qual humanidade queremos nos comprometer?

Por que o Socialismo?

Podemos optar por uma trajetória que privilegie a justiça, utilizando o conhecimento para reduzir desigualdades e garantir que todos tenham acesso aos seus benefícios. Isso significa democratizar o acesso à educação científica de qualidade, ao mesmo tempo em que se protege e valoriza os saberes tradicionais contra a biopirataria e a exploração.

Podemos escolher a solidariedade, fomentando colaborações globais onde cientistas, engenheiros e detentores de conhecimentos tradicionais trabalhem lado a lado para enfrentar desafios comuns, como as mudanças climáticas, as pandemias e a fome.

Podemos eleger o bem-estar coletivo, orientando a pesquisa e a inovação para a saúde pública, para a criação de cidades mais habitáveis e para a produção de alimentos saudáveis e acessíveis, em harmonia com a natureza.

Podemos, acima de tudo, fazer da defesa da vida e da paz o princípio orientador de todo o nosso progresso. Isso implica em um rigoroso controle ético sobre tecnologias de alto risco, no desinvestimento em indústrias belicistas e no direcionamento de nossos recursos intelectuais para a cura, a preservação e a diplomacia.

A antítese desta escolha é uma existência pautada pela exploração, pela desigualdade, pela segregação do saber e pela destruição. É o uso do conhecimento para concentrar poder e riqueza, para violar direitos, para degradar ecossistemas e para fabricar instrumentos de guerra.

O patrimônio intelectual da humanidade é um farol que ilumina várias rotas possíveis. Cabe a nós, coletivamente, decidir qual destino vamos navegar. Rejeitar a oposição estéril entre diferentes formas de saber e, em vez disso, uni-las em um projeto comum é o primeiro passo. O passo seguinte, e mais crucial, é garantir que esse projeto seja fundado nos valores mais nobres que professamos. O conhecimento, em suas múltiplas formas, é a nossa herança. O que fazemos com ele é o nosso legado. Que ele seja um testemunho de nossa sabedoria, e não apenas de nossa inteligência.

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Last Update: 27/08/2025