Irã deve começar a importar gás russo pelo Azerbaijão em breve e reforça integração estratégica com Moscou
O embaixador do Irã na Rússia, Kazem Jalali, afirmou no último dia 25 de agosto que as importações de gás russo via Azerbaijão devem ter início “em um futuro próximo”, assim que as negociações sobre preços forem concluídas. A declaração foi dada à agência russa TASS e reforça o avanço de uma aliança energética e comercial que tem ganhado força diante das sanções ocidentais contra Teerã e Moscou.
Segundo Jalali, o diálogo com a gigante russa Gazprom está em fase final. “Quase todas as questões foram resolvidas, mas precisamos chegar a uma linguagem comum sobre os preços. Assim que isso for acordado, tudo estará operacional”, explicou o diplomata.
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Expansão da cooperação financeira
Além da parceria no setor energético, o Irã também busca ampliar a integração bancária com a Rússia. O embaixador revelou que, até o fim de 2025, o país pretende expandir o uso doméstico do sistema de cartões Mir, criado pela Rússia como alternativa a redes internacionais bloqueadas por sanções. Para Teerã, a medida representa um passo a mais na construção de uma infraestrutura financeira menos dependente do Ocidente.
Críticas a Israel e ao Ocidente
Durante a entrevista, Jalali também abordou a situação no Oriente Médio, condenando a postura de Israel e o apoio que, segundo ele, as potências ocidentais oferecem a Tel Aviv. O diplomata acusou o governo israelense de conduzir uma “guerra por procuração” em nome de países ocidentais e classificou os ataques contra civis palestinos em Gaza como “crimes contra a humanidade”.
Ele ainda enviou um recado sobre a prontidão militar de Teerã. “O Irã não é Gaza. Se formos atacados, reagiremos seriamente”, declarou, em referência às tensões de junho envolvendo a aliança entre Estados Unidos e Israel.
Ferrovia estratégica e integração comercial
O fortalecimento da relação entre Irã e Rússia não se restringe ao setor energético. No início de agosto, durante uma cúpula da União Econômica Eurasiática (UEE) no Quirguistão, os dois países anunciaram que vão acelerar as obras da ferrovia Rasht–Astara, considerada essencial para a conclusão do Corredor Internacional de Transporte Norte-Sul.
Esse corredor ferroviário é visto como um eixo logístico estratégico, conectando a Rússia ao Golfo Pérsico e à Índia, e reduzindo a dependência de rotas comerciais controladas por países ocidentais. O governo russo já comprometeu € 1,3 bilhão (cerca de US$ 1,5 bilhão) para a obra, que é tratada como prioridade em Teerã.
De acordo com autoridades iranianas, a ferrovia, somada ao plano de importação de gás e à cooperação no sistema bancário, simboliza uma aproximação estratégica irreversível entre os dois países, cada vez mais alinhados sob a pressão das sanções internacionais.
Perspectiva de visita de Putin a Teerã
O analista Hazal Yalin, especialista em relações Rússia-Turquia e autor de três livros sobre política russa, lembrou em junho que os preparativos para uma possível visita de Estado do presidente Vladimir Putin a Teerã demonstram o empenho de ambos os governos em consolidar formalmente essa parceria.
Embora a viagem ainda não tenha sido confirmada, Yalin destacou que os sinais de convergência já são claros: o ingresso do Irã no BRICS, sua adesão à União Econômica Eurasiática e a assinatura de um pacto de cooperação estratégica com Moscou. Para o especialista, esses movimentos indicam que a integração econômica e de segurança de longo prazo entre os dois países já está em andamento.
Nova arquitetura de alianças
No entendimento de Teerã, a aproximação com Moscou responde a uma necessidade de sobrevivência diante do isolamento diplomático e econômico imposto por Washington e aliados europeus. Ao mesmo tempo, para a Rússia, a parceria abre novos canais de escoamento comercial e fortalece o esforço de construir uma rede de alianças alternativas às estruturas dominadas pelo Ocidente.
Seja pelo gás, pelo sistema bancário ou pela ferrovia estratégica, Irã e Rússia parecem cada vez mais determinados a consolidar um eixo de cooperação que promete alterar o equilíbrio geopolítico da região e desafiar a hegemonia das potências ocidentais.