“Os meses e os dias são viajantes da eternidade. Assim como o ano que passa e o ano que vem. Para aqueles que se deixam flutuar a bordo de barcos ou envelhecem conduzindo cavalos, todos os dias são viagem e a sua casa é o espaço sem fim. Dos homens do passado, muitos morreram em plena rota. A mim mesmo, desde há anos, me perseguem pensamentos de vagabundo, mal vejo uma nuvem arrastada pelo vento.”
Matsuo Bashô

O genocídio ao qual assistimos em Gaza não surgiu do nada.

Israel, colônia virtual dos Estados Unidos da América no Oriente Médio, apenas tem seguido as instruções da metrópole: os colonos estadunidenses, desde sua chegada à América, massacraram 55 milhões de indígenas, os povos originários. Esse número macabro supera em cinco vezes o holocausto nazista, em que pereceram 11 milhões de pessoas em campos de concentração — sendo 6 milhões de judeus e 5 milhões de comunistas, socialistas, homossexuais, roms, Testemunhas de Jeová etc.

Importante notar que o próprio Hitler se inspirou nas técnicas e legislações estadunidenses de extermínio em massa para utilizá-las posteriormente na Alemanha, a partir de 1933.

Portanto, não seria de esperar que o desgoverno de ultradireita de Israel as copiasse e seguisse?

No entanto, a pátria do Tio Sam faz-se passar por campeã da democracia, sendo, provavelmente, o caso mais bem-sucedido de hegemonia cultural — repetindo uma mentira à exaustão até que se transformasse em verdade. Neste caso, foi a extrema-direita estadunidense que bebeu na fonte putrida do ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels, o qual cunhou a máxima: “à força de ser repetida, uma inverdade termina por impor-se.”

Na Terra das Palmeiras, a nossa Pindorama, não é isso que faz o agro também? Tenta fazer-nos crer que carrega o país nas costas, quando o contrário é verdadeiro. Basta ver o valor milionário dos Planos Safra que o subsidiam e a proposta de anistia às dívidas milionárias que se considera na Câmara atualmente. A inadimplência desses incompetentes golpistas é tal que ameaça até o Banco do Brasil, em cujas tetas mamam há duzentos anos.

Porém, não podemos nos render às lógicas mafiosas. Por mais que se tente criar consenso, hegemonia em torno delas, a imprensa internacional parece dominada pela omertà.

Um exemplo evidente: coautora dos crimes por que fora condenado Jeffrey Epstein, Ghislaine Maxwell foi removida de penitenciária de segurança máxima, como requeria o crime de tráfico de menores pelo qual fora condenada, para prisão de segurança mínima — totalmente ao arrepio da lei. Ato contínuo, na semana passada declarou que jamais vira Donald Trump, frequentador do bordel de Epstein, em atos moralmente desabonadores.

Pois bem, em nenhum momento a “grande” imprensa internacional ligou os pontos, valendo recordar que Ghislaine é herdeira do maior proprietário de jornais na Inglaterra, Robert Maxwell. Espírito de corpo? Solidariedade entre bilionários? Pacto de silêncio da extrema-direita internacional? Todas as hipóteses anteriores, provavelmente.

Buscar raízes é sempre trabalho árduo, mas não ingrato.

No Brasil, discute-se (a esquerda inclusive) sobre a questão evangélica. A detenção do pastor evangélico Silas Malafaia apenas acirrou o debate. Os áudios dele com o genocida Jair Bolsonaro são estarrecedores, pelo nível político, humano e religioso. O autodenominado pastor consegue, em poucos e sórdidos palavrões, conspurcar a política, a humanidade e a religiosidade, a um só tempo.

Entretanto, cabe indagar: os setores progressistas esforçam-se em compreender o fenômeno evangélico ou o religioso de forma mais ampla? Tratam-se de perguntas simples, mas que não são amplamente colocadas.

Por exemplo, nas periferias, quais espaços existem de socialização para as mulheres? Para os homens, ao menos há a possibilidade de se juntarem em um bar, com as consequências que isso pode acarretar. Para as mulheres, nem esse risco de socialização alcoólica existe. Por que não tratamos dessa evidente misoginia social?

Vale observar que, para a Igreja Católica, essa questão se coloca de forma ainda mais dramática, pois está ainda mais ausente das periferias do que as igrejas evangélicas. Pior: além da estrutura misógina, em que só os homens podem ser presbíteros, padres, a Igreja Católica agarra-se, cada dia mais, a conceitos excludentes de homossexualidade, aborto, distanciamento político etc.

A desaparição de Francisco tornou essa trajetória ainda mais trágica. Basta ouvir as homilias dos padres jovens para entender que o ocaso da Igreja Católica, retrasado pelo Papa argentino, talvez não venha pelo inverno nuclear ou pelas mudanças climáticas, mas pelos próprios seminaristas — imbuídos da ideologia suicida de Bento XVI de que menos é mais, em desrespeito a qualquer noção razoável de democracia, igualdade de gênero ou feminismo. Para citar apenas alguns anátemas daqueles saudosos das missas em latim, de costas para os fiéis.

Em Cruzar fronteiras: uma urgência para a ética teológica (Editora Santuário), Fabrício Veliq acentua:

“Contudo, esquecemo-nos, constantemente, de ouvir o nosso tempo, ouvir o que a sociedade tem falado para nós, quais perguntas têm sido feitas e quais questões têm sido inquietantes para a nossa geração. Como estamos, muitas vezes, tão preocupados em falar, não são raras as vezes em que damos respostas a perguntas não feitas, como se já soubéssemos todas as questões da humanidade e bastasse buscar no manual de teologia moral mais próximo a resposta para alguma questão.”

Para novos tempos, nova moral. Para novos desafios, uma ética renovada.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 25/08/2025