As investigações da Polícia Federal apontam para a existência de ao menos quatro núcleos de atuação no suposto esquema de espionagem montado na Agência Brasileira de Inteligência, a Abin, sob o governo de Jair Bolsonaro. Os indícios foram enviados ao Supremo Tribunal Federal e resultaram na prisão de cinco pessoas nesta quinta-feira.
O monitoramento ilegal teve como alvos jornalistas, advogados, parlamentares e ministros do STF. Funcionários, servidores e policiais lotados na Abin teriam organizado o esquema com o objetivo de obter vantagens políticas, por meio da invasão de celulares e computadores e da produção de dossiês contra adversários.
Entre as autoridades espionadas estavam os ministros do STF Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, o presidente da Câmara, Arthur Lira, e os senadores emedebistas Alessandro Vieira e Renan Calheiros.
A ferramenta utilizada para o suposto esquema de arapongagem é a First Mile, comprada da empresa israelense Cognyte por 5,7 milhões de reais, sem licitação, ainda no governo de Michel Temer. O software permite rastrear pessoas a partir dos dados transferidos dos celulares por meio de torres de comunicação.
O primeiro núcleo, intitulado “Núcleo Alta Gestão”, tinha o objetivo de executar ações de contrainteligência e criação de relatórios que seriam divulgados para disseminação de informações falsas. O grupo seria composto por delegados da PF cedidos à Abin, onde exerciam cargos de direção, entre eles o deputado federal Alexandre Ramagem.
Também formado por policiais cedidos, o “Núcleo dos Subordinados” servia de staff da alta gestão e cumpria determinações, monitorando alvos e produzindo relatórios. Seria integrado por:
- Marcelo Araújo Bormevet, servidor e secretário de Planejamento e Gestão que trabalhava com credenciamento de segurança e pesquisa para nomeações.
- Felipe Arlotta Freitas, policial federal que ocupou a coordenação do Centro de Inteligência Nacional
- Carlos Magno de Deus Rodrigues, policial federal e ex-coordenador-geral de credenciamento de Segurança e Análise de Integridade Corporativa
- Henrique César Prado Zordan, policial federal lotado no gabinete do diretor-geral da Abin
- Alexandro Ramalho, policial federal lotado no gabinete do diretor-geral da Abin
- Luiz Felipe Barros Felix, policial federal lotado no gabinete do diretor-geral da Abin
O “Núcleo Portaria 157” teria entre seus integrantes servidores da Abin responsáveis pela realização de diligências que resultaram na tentativa de vincular parlamentares e ministros do STF a uma facção criminosa com atuação em São Paulo.
As investigações concluíram que a principal atribuição do grupo era obter informações de uma ONG que trabalha em favor de presos, a fim de vinculá-la a autoridades. Esse núcleo seria composto pelos servidores Ottoney Santos, Thiago Quinalia, Renato Araújo, Rodolfo Nascimento e Ricardo Macedo.
O último núcleo identificado pela PF, intitulado “Núcleo Tratamento de Logs”, seria integrado apenas por Bruno Faria, servidor responsável pelo tratamento dos registros do First Mile. Caberia a ele incluir no programa os números dos celulares monitorados.
Nesta quinta-feira, quatro agentes da Abin foram presos por determinação do Supremo. Foram expedidos cinco mandados de prisão preventiva e sete mandados de busca e apreensão, a serem cumpridos em Brasília, Curitiba, Juiz de Fora (MG), Salvador e São Paulo. Um dos alvos segue foragido.