Em cerimônia realizada no Palácio do Planalto, o Brasil e a Nigéria assinaram uma série de memorandos de entendimento que marcam uma nova etapa nas relações bilaterais entre os dois países nesta segunda-feira (25).

A visita oficial do presidente nigeriano, Bola Tinubu, a Brasília resultou em acordos estratégicos nas áreas de aviação civil, formação diplomática, ciência e tecnologia, agricultura, defesa, comércio e cooperação política.

Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Bola Tinubu destacaram o simbolismo e o potencial prático do reencontro entre os dois países. A Nigéria, maior economia da África e país mais populoso do continente, foi por anos o principal parceiro comercial africano do Brasil, relação que havia se enfraquecido na última década.

Acordos

Durante a cerimônia, foram firmados cinco novos memorandos de entendimento. Um deles estabelece serviços aéreos diretos entre Lagos e São Paulo, operados pela companhia aérea nigeriana AirPeace. A medida visa ampliar o fluxo de pessoas e negócios entre os países.

Outro acordo cria um programa de cooperação para formação de diplomatas, promovendo a capacitação técnica dos serviços exteriores de ambos os países. Um terceiro memorando estabelece um canal de consultas políticas regulares entre os Ministérios das Relações Exteriores, com foco em temas bilaterais, regionais e globais de interesse comum.

Na área de ciência e tecnologia, os países firmaram parceria para colaboração em setores como biotecnologia, bioeconomia, ciência oceânica, energia, transformação digital e desenvolvimento espacial. A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil, Luciana Santos, e o ministro nigeriano Utiojofre Nade, destacaram a importância do intercâmbio de conhecimento entre os países.

Também foi assinado um acordo entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco de Agricultura da Nigéria, com o objetivo de fomentar investimentos conjuntos e ampliar o comércio agrícola.

“É o retorno do Brasil à África”

Em discurso carregado de simbolismo histórico e compromisso político, o presidente Lula afirmou que a visita de Tinubu “marca o retorno definitivo do Brasil ao continente africano”. Ele ressaltou que, após um período de distanciamento diplomático, é hora de reconstruir laços com base na solidariedade, cooperação técnica e respeito mútuo.

“O Brasil tem noção do que significa a nossa história, a nossa cultura, o nosso jeito de ser, a nossa cor, a nossa alegria, a nossa música com os 350 anos de escravidão a que o povo negro africano foi submetido aqui no Brasil. E a única forma de a gente pagar não pode ser mensurada em dinheiro, tem que ser mensurada em solidariedade, tem que ser mensurada em alinhamento político, econômico, cultural, porque o Brasil tem que ajudar a África transferindo tecnologia, transferindo conhecimento, tudo aquilo que a gente aprendeu aqui no Brasil que deu certo, sobretudo na área agrícola, o Brasil tem obrigação de ajudar o continente africano a ter o mesmo desenvolvimento que nós tivemos aqui”, afirmou o presidente brasileiro.

Lula também destacou a aprovação de um voo direto entre Lagos e São Paulo e defendeu a entrada da Nigéria no G20, reconhecendo o papel geopolítico do país africano nos BRICS e em fóruns multilaterais.

Energia e indústria

O presidente Bola Tinubu reiterou a importância da parceria estratégica com o Brasil. Segundo ele, “a África é a nova fronteira do desenvolvimento”, e cabe ao Brasil abraçar esse potencial com investimentos em tecnologia, indústria, soberania alimentar e infraestrutura.

Tinubu destacou a relevância de incluir a Petrobras nas oportunidades de exploração energética na Nigéria, que possui um dos maiores repositórios de gás natural do mundo.

“Eu não vejo porquê o ramo da indústria de medicamentos genéricos, que o Brasil já faz há muito tempo, e tem muita especialidade no assunto, por que então não pode ser fabricado no Brasil? Eu não vejo porquê não. A superioridade tecnológica do Brasil não é compartilhada com a África. Nós nos certificamos que somente juntos podemos realmente desenvolver nossas economias para ajudar nossa soberania. Concluímos em vários assuntos, como transferência de tecnologia”, afirmou.

O presidente nigeriano também elogiou as reformas econômicas em curso em seu país e se mostrou otimista com a retomada do crescimento, enfatizando a importância da transparência, do combate à corrupção e da estabilidade fiscal.

Relações multilaterais

Em 2024, o comércio entre Brasil e Nigéria movimentou cerca de US$ 2 bilhões, com destaque para a exportação de açúcar e melaço e importação de adubos e fertilizantes. Os governos reafirmaram o compromisso de ampliar essa balança comercial e fortalecer investimentos em setores estratégicos.

A Nigéria foi também uma das primeiras nações a apoiar a candidatura brasileira à Secretaria-Geral da Interpol e tem cooperado em fóruns internacionais pela reforma do Conselho de Segurança da ONU, além de ter papel ativo nas pautas climáticas e ambientais.

A parceria se estende ao combate às mudanças climáticas. Lula convidou oficialmente a Nigéria a apoiar o “Fundo Florestas Tropicais para Sempre”, que será lançado pelo Brasil durante a COP30, a ser realizada em Belém, em 2025. Ambos os líderes defenderam maior representatividade das nações do Sul Global nas instituições internacionais.

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Last Update: 25/08/2025