A soberania do Irã e a resistência ao Império – O oriente médio não se rende
Em meio ao eco distante de explosões e ao silêncio tenso que se segue às guerras não declaradas, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, ergueu a voz neste domingo com uma clareza que reverbera por todo o Oriente Médio: o Irã não se renderá. Diante de milhares de iranianos e olhos atentos do mundo, Khamenei não apenas rejeitou negociações diretas com os Estados Unidos, mas desmascarou a essência das pressões ocidentais: não se trata de diplomacia, mas de dominação. Não se busca um acordo, mas a submissão da República Islâmica.
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A fala de Khamenei, proferida em um momento de extrema tensão regional, não é apenas um discurso político — é um ato de resistência. Resistência contra décadas de ingerência americana, contra sanções unilaterais, contra bombardeios coordenados com Israel e contra a tentativa incessante de moldar o mapa do Oriente Médio segundo os interesses de Washington. Após a devastadora guerra de 12 dias em junho — que custou mais de mil vidas civis e destruiu parte do patrimônio científico e militar do país —, os Estados Unidos não se limitaram a apoiar Israel: participaram ativamente dos ataques a instalações nucleares iranianas. O que restou não foi um cessar-fogo, mas um cessar-fogo informal, uma trégua precária sob a sombra de novas ameaças.
Neste cenário, a proposta americana de diálogo, mediada pelo enviado especial Steve Witkoff, revela-se como uma farsa. Como pode haver negociação entre iguais quando um lado impõe sanções, bombardeia instalações e exige capitulação como condição prévia? Khamenei tem razão: o que os EUA querem não é um acordo, mas a rendição do Irã. E isso não é apenas uma questão iraniana — é uma questão de soberania para toda a região.
O Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, insiste em tratar o Oriente Médio como um tabuleiro de xadrez imperial. Desde a retirada unilateral do acordo nuclear em 2018, sob o governo Trump, até as pressões atuais do chamado E3 (Grã-Bretanha, França e Alemanha) para acionar o mecanismo de “retorno instantâneo” de sanções, a narrativa é sempre a mesma: o Irã deve se submeter, ou será punido. Mas que credibilidade têm essas potências europeias, que falharam em cumprir suas obrigações no acordo de 2015, enquanto se curvam às sanções americanas?
A posição iraniana, por mais dura que pareça, é profundamente coerente. Como confiar em pactos internacionais quando os maiores signatários os descumprem impunemente? Como aceitar inspeções da AIEA quando suas instalações são alvo de ataques militares? A suspensão da cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica não é um ato de desafio ao mundo, mas uma resposta à agressão. É a defesa de uma nação que viu seus cientistas assassinados, suas cidades bombardeadas e sua soberania desrespeitada.
Dentro do Irã, o debate é real e intenso. Setores reformistas, como o opositor preso Mostafa Tajzadeh, defendem a reaproximação com o Ocidente como caminho para reformas internas. É uma posição compreensível, fruto de um povo exausto com o isolamento e a repressão. No entanto, Khamenei lembra com firmeza que a independência nacional não pode ser negociada por um alívio temporário de sanções. “A nação iraniana se posicionará firmemente contra tais demandas”, afirmou, em um recado claro: a soberania não se negocia.
E é aqui que reside o cerne da questão. O Irã não é apenas um Estado, é um símbolo. Símbolo de resistência ao hegemonismo americano, de autodeterminação frente ao intervencionismo ocidental, de um modelo de política externa que recusa submeter-se à ordem unipolar. Enquanto países árabes se alinham aos EUA em acordos de normalização com Israel, enquanto monarquias do Golfo trocam dignidade por armas e proteção, o Irã insiste em um caminho diferente: o da independência estratégica.
É por isso que as elites conservadoras, os líderes religiosos e grande parte da população seguem apoiando a linha de resistência. Não por fanatismo, mas por consciência histórica. Sabem que, no tabuleiro do imperialismo, concessões são interpretadas como fraqueza, e fraqueza convida à dominação.
Os europeus agora enfrentam uma escolha: continuar sendo instrumentos da política americana, ou assumir um papel autônomo de mediação baseado no respeito mútuo. Pressionar o Irã com sanções enquanto se ignora a agressão militar de Israel e dos EUA é hipocrisia. Buscar um novo ciclo de negociações exigindo que Teerã recue primeiro é arrogância. A paz só será possível quando o Ocidente reconhecer que o Oriente Médio não é uma colônia, e que nações como o Irã têm o direito inalienável de decidir seu próprio destino.
A mensagem de Khamenei é clara: o Irã não se rende. E com ele, parte significativa do mundo que ainda sonha com um sistema internacional justo, multipolar e livre de dominação. A supremacia americana pode parecer inabalável, mas a história mostra que nenhum império dura para sempre. Enquanto isso, o Irã — e o Oriente Médio — seguem em pé. Não por teimosia, mas por dignidade.