Em entrevista ao Portal Vermelho, Luciana Santos, presidenta nacional do PCdoB e ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, destacou pontos centrais do Projeto de Resolução que será discutido no 16º Congresso do partido, em outubro: a defesa da soberania, o Projeto Nacional de Desenvolvimento e a construção de uma frente ampla para isolar a extrema direita em 2026.
Nesta segunda-feira (25), no Recife, Luciana Santos participa, junto a outras lideranças nacionais, da quinta mesa do Ciclo de Debates que aprofunda o documento do PCdoB. Com o tema “Conjuntura desafiadora às forças progressistas e democráticas”, o painel contará também com a presença de José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil; Pedro Campos (PSB-PE), deputado federal e líder da bancada do partido na Câmara; e Simone Tebet, ministra do Planejamento e Orçamento.
Leia a entrevista em que Luciana Santos detalha os desafios e as estratégias do PCdoB para o fortalecimento das forças democráticas e progressistas.
Vermelho: O Projeto de Resolução do PCdoB afirma que a frente ampla é decisiva em 2026 para isolar a extrema direita. Como avalia o equilíbrio entre ampliar alianças e, ao mesmo tempo, reforçar a identidade do partido, numa frente que vá além do pacto eleitoral?
Luciana Santos: Esse desafio é permanente na atividade partidária dos comunistas desde a década de 1930 na Europa (com a ação do grande líder búlgaro Georgi Dimitrov, 1882-1949) e no Brasil. Experiências semelhantes se repetiram na conquista da independência de países da Ásia e da África, no processo de descolonização iniciado a partir do final da Segunda Guerra Mundial, como na China (1949), Vietnã (1945) e República Democrática Popular da Coreia (1945). Só grandes frentes nacionais foram capazes de derrotar inimigos mais fortes. Na relação dialética entre estratégia e tática, nossa habilidade política consiste em lutar para alargar a Frente Ampla e reunir forças suficientes para enfrentar uma direita frequentemente superior em recursos militares e políticos. Em 2026, a correlação de forças já nos antecipa inimigos poderosos: a reeleição de Lula terá de enfrentar o bolsonarismo aliado ao império estadunidense sob a liderança de Donald Trump.
A questão de como ampliar a frente de resistência política e, ao mesmo tempo, afirmar a identidade partidária do PCdoB é desafiadora, pois nosso lugar político se define pela capacidade de formular e defender mudanças estruturais exigidas pelo Brasil – em especial na luta pela soberania diante dos ataques do imperialismo. Esse esforço requer forte mobilização da militância comunista, sustentada por uma campanha de propaganda e comunicação que valorize nosso programa partidário, além de uma inserção sólida nas bases militantes e nos movimentos sociais em luta contra a direita neofascista.
A bandeira da soberania nacional e o Projeto Nacional de Desenvolvimento seriam o catalisador desse processo de retomada da união das forças democráticas e progressistas?
Sem dúvida, essa é uma orientação justa e adequada ao momento atual. Pesquisas do Instituto Quaest indicam que estamos no caminho certo, com o fortalecimento do governo Lula, fruto da resistência aos ataques dos Estados Unidos — em conluio com bolsonaristas — à nossa soberania, assim como às instituições, como o Supremo Tribunal Federal, e às autoridades que defendem direitos no Brasil, como o Programa Mais Médicos, que levou saúde a regiões desassistidas. Historicamente, os comunistas defendem a mais ampla frente política possível, buscando conquistar setores do centro e da centro-direita para proteger o país contra interesses particulares que ameaçam sua soberania e desenvolvimento.
As recentes ameaças de Donald Trump à soberania brasileira podem ter impacto direto no debate interno. Esse cenário externo pode fortalecer ou dificultar a articulação de um projeto nacional de desenvolvimento que una amplas forças contra a extrema direita?
As ameaças e ações do governo Trump provocam abalos na economia, com quebras de empresas e aumento do desemprego. Ao mesmo tempo, estimulam a busca de novos mercados por exportadores brasileiros em países parceiros, como China, Vietnã, Índia, Rússia e demais nações articuladas pelos Brics, aumentando a autonomia comercial e reduzindo a dependência dos EUA. Esse fenômeno também se aplica às esferas da ciência, tecnologia e inovação, nas quais trabalhamos para elevar a cooperação internacional e, ao mesmo tempo, repatriar pesquisadores que saíram do país durante os governos Temer e Bolsonaro.
O documento destaca que não basta a disputa institucional: o partido precisa também organizar e mobilizar o povo. Como retomar o protagonismo entre os trabalhadores, nas periferias, nos sindicatos e na juventude?
No Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, contribuímos com políticas públicas que fortalecem a capacidade industrial, como o programa pela Nova Indústria Brasileira (NIB), impulsionando crescimento e desenvolvimento. A luta institucional sozinha não é suficiente. É preciso fortalecer uma ampla rede de bases do partido nos centros vitais da luta de classes, construir um plano nacional de desenvolvimento e promover reformas estruturais para elevar nossa ação a outro patamar. Paralelamente, seguimos fortalecendo o movimento de massas entre a juventude e os trabalhadores, com apoio da CTB e da Contag, mobilizando mulheres por meio da UBM e CMB, fortalecendo movimentos antirracismo e apoiando estudantes e jovens através de suas entidades, como UNE, Ubes, UJS e JPL.
Serviço
Mesa 5 – Conjuntura desafiadora às forças progressistas e democráticas
Recife (PE)
Segunda-feira, 25 de agosto
19h
Transmissão ao vivo pela TV Grabois