Jair Bolsonaro movimentou R$ 44,3 milhões entre março de 2023 e junho de 2025. A indicação foi feita pela Polícia Federal (PF) no inquérito contra o ex-presidente e Eduardo Bolsonaro, investigados pela tentativa de obstrução do julgamento da trama golpista. O inquérito resultou no indiciamento de ambos na última quarta-feira (20) e também revela a elaboração de uma tentativa de fuga do pai, que está em prisão domiciliar, para a Argentina.
O alto valor recebido pelo ex-presidente foi demonstrado pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e chamou a atenção dos investigadores, que observam indícios de lavagem de dinheiro.
Entre março de 2023 e fevereiro de 2024, Jair Bolsonaro recebeu R$ 30,6 milhões. Depois, recebeu mais R$ 1,7 milhão entre fevereiro e agosto de 2024, R$ 900 mil entre agosto e dezembro do ano passado e outros R$ 11,1 milhões entre dezembro e junho de 2025, perfazendo o total de R$ 44,3 milhões recebidos.
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No primeiro período considerado (entre março de 2023 e fevereiro de 2024) R$ 19,3 milhões (em 1.214.254 lançamentos) foram recebidos via ferramenta Pix.
Parte desse dinheiro também foi repassado pelo Partido Liberal (PL). Durante todo o período considerado, o partido enviou R$ 1,1 milhão ao ex-presidente.
Movimentações atípicas
Entre 1º de março de 2023 e 7 de fevereiro de 2024, datas em que houve a maior movimentação financeira, a PF, com base em dados do Coaf, demonstra que quase o mesmo montante de dinheiro que entrou nas contas saiu delas: R$ 30.576.801,36 em créditos e R$ 30.595.430,71 em débitos.
A origem dos recursos não é contestada. É de conhecimento geral que houve campanhas bolsonaristas para arrecadação de recursos com a justificativa de pagamento de advogados e multas.
No entanto, a PF entende que foram realizadas mais de 50 comunicações de movimentações atípicas de recursos, envolvendo a família Bolsonaro (Jair, Michelle e Eduardo), entre outras pessoas.
A investigação aponta que as movimentações de valores “apresentam indícios de possíveis práticas de lavagem de dinheiro ou outros ilícitos”.
Em maio de 2025, Jair Bolsonaro enviou a Eduardo R$ 2 milhões como forma de manter o filho nos Estados Unidos. A iniciativa, assumida em depoimentos públicos, resultou em articulações do deputado federal licenciado contra a soberania brasileira, que passam pelo tarifaço dos EUA e sanções pela Lei Magnitsky.
Fora esse montante, a PF indica que outros depósitos foram encaminhados a Eduardo, R$ 30 mil em março e R$ 40 mil em abril.
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Além desses valores menores, ainda há outros R$ 2 milhões repassados a Michelle Bolsonaro em 4 de junho desse ano. No dia 5 de junho, Bolsonaro prestou depoimento à Polícia Federal, quando admitiu que havia enviado dinheiro para o filho “não passar dificuldade nos EUA”.
O valor transferido para a esposa não foi revelado naquele momento e teria como finalidade ficar com recursos disponíveis caso suas contas fossem bloqueadas, entende a PF.
A prática de usar as esposas como “laranjas” parece comum. Eduardo também repassou dinheiro para sua companheira, Heloísa, conforme o relatório. Os repasses a ela, segundo a PF, também visaram contornar eventuais bloqueios. Para isso, a família Bolsonaro tentou “dissimular a origem e o destino de recursos financeiros, com o intuito de financiamento e suporte das atividades de natureza ilícita do parlamentar, licenciado no exterior.”