A pressão crescente do Ocidente sobre os países do Sul Global atingiu um ponto de ruptura. As sanções, tarifas e chantagens diplomáticas aplicadas por Washington e seus aliados tiveram um efeito inesperado: em vez de dividir, uniram os países que compõem os Brics. A resposta coordenada mostra que o mundo está diante de uma virada histórica.

O confisco que mudou tudo

Em 2022, o Ocidente congelou cerca de US$ 300 bilhões das reservas cambiais da Rússia. O ato foi visto como um choque por todo o Sul Global. Na prática, ficou claro que nenhum ativo depositado em jurisdições ocidentais estava seguro. Esse foi o estopim para a aceleração da desdolarização — um movimento que, até então, caminhava lentamente.

A medida abriu os olhos de países como China, Índia e Brasil. Se as reservas de uma potência como a Rússia poderiam ser confiscadas de forma arbitrária, o que dizer das nações mais vulneráveis? O recado estava dado: manter ativos e depender do sistema financeiro controlado pelos EUA e pela Europa era um risco existencial.

Tarifas, chantagens e hipocrisia

Donald Trump já havia inaugurado a era das guerras tarifárias contra a China, e seus sucessores mantiveram o mesmo rumo. Washington impôs tarifas pesadas sobre produtos chineses, ao que Pequim respondeu com medidas recíprocas. A mensagem foi clara: a China não aceitaria ser tratada como colônia comercial.

A Índia também virou alvo. Os EUA aplicaram tarifas de 25% sobre o petróleo russo que Nova Délhi importava — sendo que antes haviam incentivado justamente essa compra, como forma de estabilizar o mercado global. A contradição escancarou o cinismo da política externa norte-americana.

O Brasil foi ainda mais atacado. Washington impôs tarifas de 50% sobre seus produtos. A resposta de Brasília foi firme: em conversas com os líderes dos Brics, o presidente brasileiro deixou claro que não aceitaria calado essa punição.

A África do Sul, por sua vez, foi alvo de uma campanha política. O Departamento de Estado publicou um relatório acusando o país de violações contra minorias raciais. Pretória reagiu de imediato, classificando o texto como “irônico” vindo de uma nação marcada por racismo estrutural.

No mesmo período, a Otan chegou a ameaçar Índia, China e Brasil, exigindo que pressionassem Moscou sobre a guerra na Ucrânia sob risco de sanções. A União Europeia também cobrou que a Índia deixasse de importar petróleo russo, mas seguia comprando energia de Moscou para abastecer suas próprias economias. A hipocrisia ficou evidente.

A resposta dos Brics

Diante dessa ofensiva, os Brics começaram a agir de forma coordenada. Ajit Doval, conselheiro de segurança nacional da Índia, viajou de surpresa a Moscou para se reunir com Vladimir Putin. Pouco depois, Narendra Modi telefonou para Lula, enquanto Putin falava com Cyril Ramaphosa. Em menos de 24 horas, o presidente russo conversou diretamente com Modi, Xi Jinping e Ramaphosa, alinhando estratégias.

A movimentação não parou por aí. O chanceler chinês Wang Yi realizou sua primeira visita à Índia em anos, num gesto de aproximação em plena pressão dos EUA. Paralelamente, o chanceler indiano Subrahmanyam Jaishankar esteve em Moscou com Serguei Lavrov, discutindo a ampliação do comércio bilateral.

Esses movimentos revelam um fato incontornável: as tentativas de Donald Trump e de seus aliados de isolar os Brics tiveram efeito contrário. Hoje, Índia, China, Rússia, Brasil e África do Sul estão mais unidos do que nunca, atuando não apenas para proteger seus interesses imediatos, mas para construir uma nova ordem internacional.

O congelamento de reservas, a guerra tarifária e a chantagem política mostraram que a dependência do dólar e a submissão às instituições ocidentais já não são opções seguras. Em resposta, o Sul Global acelera sua integração, buscando rotas próprias de comércio, financiamento e cooperação tecnológica.

Estamos diante de um divisor de águas. O imperialismo norte-americano, em sua arrogância, acabou fortalecendo aquilo que mais temia: um bloco de países soberanos, articulados e conscientes de seu papel na transição para um mundo multipolar.

Com informações da Sputnik India.

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Last Update: 21/08/2025