O ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência, Alexandre Ramagem, pode ter gravado uma reunião com o então presidente Jair Bolsonaro; seu ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno; e a advogada do filho dele e senador Flávio Bolsonaro; em que foi discutido o uso da Abin no caso das “rachadinhas”.
A informação consta em material elaborado pela Polícia Federal e divulgado nesta quinta-feira 11 em meio à quarta etapa da Operação Última Milha, que investiga o uso da agência de inteligência pelo bolsonarismo, em esquema que ficou conhecido como “Abin Paralela”.
O áudio é uma das provas usadas pelos agentes como justificativa para as diligências desta quinta, autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Segundo a PF, a estrutura da Abin foi usada para monitorar auditores da Receita Federal responsáveis pelo relatório que deu origem à investigação sobre o esquema de “rachadinha” de Flávio Bolsonaro quando ele era deputado estadual do Rio de Janeiro. O objetivo era “encontrar podres” sobre os auditores.
Os agentes da PF identificaram o uso da Abin em ações clandestinas classificadas como “urgentes” contra três auditores da Receita em novembro de 2020. O conteúdo do áudio, que tem mais de uma hora, não foi divulgado pela PF.
“A premissa investigativa ainda é corroborada pelo áudio de 01:08 (uma hora e oito minutos) possivelmente gravado pelo Del. Alexandre Ramagem no qual o então presidente da República Jair Bolsonaro, GSI General Heleno e possivelmente advogada do Senador Flávio Bolsonaro tratam sobre as supostas irregularidades cometidas pelos auditores da receita federal na confecção do Relatório de Inteligência Fiscal que deu causa à investigação”, apontou a PF.
Cinco mandados de prisão
O objetivo da operação desta quinta, segundo a PF, é desarticular uma organização criminosa que monitorava ilegalmente autoridades públicas, além de produzir notícias falsas, utilizando-se de sistemas da Abin.
Os investigados podem responder pelos crimes de organização criminosa, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, interceptação clandestina de comunicações e invasão de dispositivo informático alheio.
O suposto esquema teria funcionado entre 2019 e 2021, durante o período em que Alexandre Ramagem foi o diretor-geral da agência. Atualmente, ele é deputado federal e pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro pelo PL.
A Polícia Federal cumpre, nesta fase, cinco mandados de prisão preventiva e sete de busca e apreensão em Brasília (DF), Curitiba (PR), Juiz de Fora (MG), Salvador (BA) e São Paulo.
São alvos dos mandados de prisão e de busca e apreensão:
- Mateus de Carvalho Sposito;
- Richards Dyer Pozzer;
- Rogério Beraldo de Almeida;
- Marcelo Araújo Bormevet;
- Giancarlo Gomes Rodrigues.
As buscas miram:
- José Matheus Sales Gomes;
- Daniel Ribeiro Lemos.
Leia a decisão de Moraes que autorizou a operação:
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