Embaixador classifica tarifaço de Trump contra o Brasil como medida política e não comercial

O embaixador Celso Amorim, assessor-chefe da Assessoria Especial da Presidência da República, afirmou nessa quarta-feira (20/8), durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, que o tarifaço de 50% promovido pelo governo norte-americano contra os produtos brasileiros não possui justificativa comercial. Segundo ele, trecho da carta do presidente Donald Trump, que aponta como motivo da sanção o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe no STF, explicita que a medida é meramente política e representa uma tentativa de intromissão indevida na soberania nacional.

“Me chamou atenção que a tarifa imposta ao Brasil, ao contrário de outros países (também taxados), não tenha justificativas comerciais. Os dois primeiros parágrafos da Carta do Trump justificando o tarifaço de 50% sobre nossos produtos exportados para aquele país, trata de questões políticas domésticas. Mesmo na área comercial, a explicação de que a relação comercial com o Brasil é injusta com os Estados Unidos, não corresponde à verdade porque há muitos anos temos déficit comercial com os norte-americanos”, afirmou Amorim.

Traidor da Pátria

O líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ), lembrou que o tarifaço só ocorreu por influência do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) que, em vez de exercer seu mandato no Brasil, há meses mora nos Estados Unidos e conspira contra os interesses brasileiros junto a autoridades norte-americanas.

“Ele (Eduardo Bolsonaro), confessou em várias entrevistas que discutiu, sim, com autoridades norte-americanas sobre o tarifaço. Alguns falam em exagero pena de 40 anos (para os golpistas). Vocês que gostam tanto dos Estados Unidos, sabe o que acontece lá quando tem traição contra a pátria dessa forma? Depende de estado para estado, mas até pelotão de fuzilamento tem. Agora eu pergunto: o que Eduardo Bolsonaro está fazendo nesse momento da história? Traindo o Brasil”, explicou.

O líder petista revelou que apresentou um projeto de lei para incluir no ordenamento jurídico brasileiro o crime de traição à pátria.

Opinião de outros petistas        

Durante a reunião, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder da Maioria na Câmara, elogiou a trajetória de Celso Amorim na diplomacia brasileira. Ele lembrou que, em 2009, Amorim foi escolhido pela revista Foreign Policy como “o melhor chanceler do mundo”. Sobre o tarifaço, Chinaglia disse que é inacreditável que na carta de Trump justificando a medida, o ex-presidente Jair Bolsonaro tenha sido classificado como “líder respeitado em todo o mundo”, e que o julgamento contra ele “não deveria estar ocorrendo” e deveria “acabar imediatamente”.

“Ele (Trump) interfere na política interna (do Brasil) e tenta dar uma ordem ao presidente da República quando diz que o julgamento deve parar imediatamente. Para o bolsonarismo, que diz vivermos sob uma ditadura do judiciário, proponho um raciocínio absurdo: Se o Lula decidisse fechar à força o STF, ele seria um democrata por acabar com uma hipotética ditadura? Essa é uma equação que os bolsonaristas deveriam refletir”, argumentou.

 

O deputado Rui Falcão (PT-SP) destacou que o tarifaço de Trump e sua tentativa de se intrometer em assuntos internos revelam o desprezo que o atual governo norte-americano  tem pela democracia.

“O secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, que foi apresentador da FOX News (canal de TV apoiador de Trump) antes de ganhar o cargo, ele que tem várias acusações de assédio sexual, disse que os Estados Unidos pensam em ‘reconquistar o seu quintal’ (se referindo à América Latina). E o Brasil, como país soberano, é um obstáculo a essa pretensão”, afirmou.

Alvo é Lula

Já o deputado Flávio Nogueira (PT-PI) lembrou que o bolsonarismo não tem compromisso com a democracia e tenta, de todas as formas, inviabilizar o Governo Lula com apoio norte-americano.

“O cerne da questão é o Lula. Estão repetindo a mesma cantilena de Carlos Lacerda contra Getúlio Vargas. ‘O Lula não deve ser candidato à Presidência. Se for candidato, não deve ser eleito. Eleito, não pode tomar posse. Empossado, devemos recorrer a revolução para impedi-lo governar’. É isso que estão fazendo”, afirmou.

Sobre críticas de bolsonaristas em relação a uma suposta falta de empenho do governo brasileiro em negociar redução das tarifas impostas pelos EUA, o deputado Welter (PT-PR) destacou que, apesar de serem injustas, o presidente Lula tem demonstrado paciência ao buscar solução do impasse pela via diplomática.

“A diplomacia (do governo Lula) é não aplicar a reciprocidade, que nós autorizamos em lei aqui (em votação no parlamento). Quer mais sinal verde para demonstrar a capacidade de negociação do presidente Lula e sua equipe? Outra prova da capacidade de negociação deste governo foi a abertura de mais de 400 mercado para produtos brasileiros”, ressaltou.

 

Héber Carvalho

 

 

 

 

 

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Last Update: 21/08/2025