Diálogos obtidos pela Polícia Federal nos celulares de Jair Bolsonaro (PL) sugerem que o ex-presidente considerava pedir asilo político à Argentina, comandada pelo ultradireitista Javier Milei, em meio ao avanço da ação penal sobre a tentativa de golpe. As conversas constam de um relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal nesta quarta-feira 20, no qual a PF indiciou Jair e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
O documento direcionado a Milei estava em um arquivo intitulado “Carta JAIR MESSIAS BOLSONARO”. O material, de 33 páginas, reproduz um pedido de asilo político salvo no telefone do ex-presidente em 10 de fevereiro de 2024, dois dias após a deflagração da Operação Tempus Veritatis, que mirou Bolsonaro e aliados da trama golpista.
A carta começa com a citação bíblica João 8:32, “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, usada por Bolsonaro desde a campanha eleitoral de 2018 como uma espécie de slogan, e menciona tratados internacionais como a Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1969 e a Declaração Universal de Direitos Humanos da ONU.
“De início, devo dizer que sou, em meu país de origem, perseguido por motivos e por delitos essencialmente políticos. No âmbito de tal perseguição, recentemente, fui alvo de diversas medidas cautelares. Para decretação de tais medidas foram mencionados os delitos dos Arts. 359-I e 359-M do Código Penal brasileiro”, afirma um trecho do arquivo reproduzido no relatório da PF.
Para a corporação, embora se trate de um “único documento em formato editável, sem data e assinatura, seu teor revela que o réu, desde a deflagração da operação Tempus Veritatis, planejou atos para fugir do país, com o objetivo de impedir a aplicação de lei penal”. O arquivo teria sido criado digitalmente por um usuário denominado “Fernanda Bolsonaro”.
Os investigadores acreditam se tratar da esposa do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Fernanda Antunes Figueira Bolsonaro. O material foi editado pela última vez em 12 de fevereiro de 2024. Após receber o relatório da PF, o ministro Alexandre de Moraes mandou a defesa de Bolsonaro se manifestar sobre os achados da investigação em até 48 horas.
Na representação ao Supremo, a PF afirmou haver indícios de que Eduardo e o pai cometeram crimes de coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado democrático de Direito. A manifestação ocorreu no inquérito que apura a atuação do deputado nos Estados Unidos. Ele está no país desde março para articular sanções contra o Brasil.