
O tarifaço imposto a diversos mercados pelo presidente norte-americano Donald Trump já começa a encarecer o dia-a-dia da população, mas o impacto também deve atingir o Brasil.
“Inflação vai vir aqui nem que seja pela bagunça pura e simplesmente”, disse a economista Monica de Bolle, em entrevista à TV GGN nesta terça-feira [confira o link abaixo].
Para ela, a política econômica de Trump – baseada em tarifas, improvisos e disputas geopolíticas – tem criado um ambiente de incerteza que empurra preços e dificulta o planejamento de consumidores e empresas.
“Você vê todas as coisas mais caras, e tem muito aumento de preço ainda por vir”, relatou, ao comentar a alta da carne no país.
O que são as tarifas de Trump
A pesquisadora sênior do Instituto Peterson de Economia Internacional explica que, na prática, as tarifas de importação impostas por Trump funcionam como um imposto sobre vendas.
“Sempre bate no consumidor. Não existe esse negócio de que ‘a gente vai aumentar a tarifa e o consumidor não vai sentir’. Isso não existe”.
O efeito mais imediato seria o aumento nos preços dos itens importados, mas a realidade é mais complexa. Mônica de Bolle explica que algumas empresas podem buscar novos fornecedores, estocar mercadorias ou repassar aumentos aos poucos. Mesmo assim, os efeitos se espalham pela cadeia e a inflação aparece.
“O problema é a desordem. Os Estados Unidos estão usando tarifas para tudo: objetivos econômicos, comerciais, geopolíticos, até de segurança nacional. Estão sendo aplicadas a torto e a direito, inclusive de forma injusta ao Brasil. No final das contas, a inflação vem de toda maneira. Se não é pelo preço direto, é pela incerteza. É uma bagunça generalizada de política econômica sem estratégia como nunca se viu. Quando você tem bagunça — e o Brasil sabe bem disso — bagunça econômica vira inflação”.

O papel perdido dos EUA no pós-guerra
O atual cenário de instabilidade leva a uma reflexão mais ampla sobre o papel dos Estados Unidos na economia global.
Monica lembra que, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os EUA assumiram a função de “garantidor global” da ordem econômica internacional.
Por meio de instituições criadas a partir do acordo de Bretton Woods, como FMI e Banco Mundial, os Estados Unidos não apenas lideraram a construção das regras internacionais, mas também ofereceram previsibilidade diante de riscos econômicos e geopolíticos.
Desta forma, pode-se dizer que a organização econômica global foi feita para que se dependa dos EUA, e eles foram muito favorecidos no papel de garantidor global. Contudo, esse papel está sendo desmontado com Donald Trump no poder
“Ao retirar essa função, o mundo fica muito mais complicado. A institucionalidade que existia não existe mais. Décadas de benefícios vão embora e, com o tempo, os custos dessa decisão vão aparecer”, explica Monica de Bolle.
Para a pesquisadora, Trump está “efetivamente provocando um dano ao papel geopolítico dos Estados Unidos, que terá consequências econômicas muito graves. E ninguém está olhando para isso“.
Enquanto isso, o caos imposto pela Casa Branca fez com que think tanks e centros de pesquisa passassem a fazer apenas análises pontuais, já que uma leitura macroeconômica de mais consistência se tornou impossível. “As pessoas aqui estão completamente perdidas. Ninguém sabe muito bem o que pensar sobre nada”.