Se a família Bolsonaro apostava no desgaste do presidente Luiz Inácio Lula da Silva diante das investidas de Donald Trump contra o Brasil, pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (20), mostra que o tiro tem saído pela culatra: a maioria dos brasileiros condena a atitude do presidente estadunidense e apoia a posição adotada por Lula.
Segundo o levantamento, 71% consideram que Trump errou ao impor tarifas ao Brasil como forma de pressionar as instituições pelo fim do processo contra Jair Bolsonaro (PL), réu por tentativa de golpe de Estado.
Ao mesmo tempo, 48% opinaram que Lula e o PT agiram corretamente em defesa do país; já 28% acreditam que Bolsonaro e aliados acertaram na posição adotada, enquanto 15% acham que nenhum dos dois lados têm razão.
Os ataques dos EUA contra o Brasil passaram a ser conhecidos por mais gente, ainda segundo a pesquisa: se antes eram 66% os que diziam saber a respeito, o percentual vai a 84% agora.
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Quando questionados sobre as motivações de Lula ao tomar atitudes em defesa do Brasil e da soberania nacional, 49% apontam que ele agiu em defesa do país, contra 41% que dizem que ele estaria se aproveitando da situação para sua promoção pessoal.
Por outro lado, a extrema direita vem perdendo com a posição entreguista e de afronta contra o próprio país. “Parece cada vez mais evidente que o clã Bolsonaro sai desgastado deste episódio: 69% dos brasileiros acreditam que Eduardo defende apenas os interesses da própria família nos EUA, enquanto só 23% veem nele a defesa dos interesses do Brasil”, pondera Felipe Nunes, diretor da Quaest, pelas redes sociais.
Lula ainda obteve melhor desempenho na comparação entre quem agiu melhor no episódio envolvendo o tarifaço: o presidente teve 44% de positivo contra 46% de negativo (10% não souberam ou quiseram responder), diferença de dois pontos entre as duas avaliações, ocupando a primeira posição.
Já na ponta oposta, tanto Jair quanto Eduardo Bolsonaro tiveram 24% de resposta positiva, ante 55% negativa (21% NS/NR) cada um, perfazendo 31 pontos de diferença.
A pesquisa também destaca que 51% avaliam que Trump agiu por motivação política ao impor as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros; outros 23% acham que ele fez isso em defesa dos interesses dos EUA e 2% por motivos pessoais; 22% não souberam ou quiseram responder.
Outro ponto importante é que 77% acreditam que as tarifas vão prejudicar a vida da população brasileira. “Num cenário tão polarizado, chama atenção o fato de que todos os segmentos da sociedade (do lulista ao bolsonarista), concordem com essa avaliação”, diz Nunes.
Percepção geral sobre o governo
O embate de Trump contra o Brasil é um dos aspectos que explicam a melhora na aprovação geral de Lula, que passou de 43% em julho para 46% agora, enquanto a desaprovação caiu de 53% para 51%.
No Nordeste, a aprovação saltou de 53% para 60% — enquanto a opinião oposta saiu de 44% para 37%. Nas demais regiões, também houve melhora na aprovação, porém, tal posicionamento ainda fica abaixo da desaprovação. No Sudeste, são 55% que aprovam contra 42% que desaprovam; no Sul, os índices são de 61% a 38% e no Centro-Oeste/Norte, 53% a 44%.
Quando adotado o recorte por renda, a pesquisa mostra que a avaliação positiva aumentou no segmento de renda mais baixa, onde saiu de 46% para 55% (aumento de nove pontos percentuais), enquanto a aprovação caiu de 49% para 40%. O polo oposto, dos que recebem mais de cinco salários mínimos, segue sendo o que mais rechaça o governo: 60% a 39%.
Para Felipe Nunes, o principal fator a explicar a melhora na percepção do governo está nos preços dos alimentos. “Depois de mais de um ano e meio, a parcela de brasileiros que percebe alta no preço dos alimentos caiu para perto de 60%. Esse alívio no bolso impulsionou a popularidade do governo, sobretudo entre os mais pobres”, explicou.
Para ele, “a sensação de melhora nos preços dos alimentos vem sendo sentida em todas as regiões do país desde o começo do ano. Mas agora, sem as crises do Pix e do INSS, produzem efeitos mais acentuados e percebidos na popularidade do governo”.