Primeira parte
Seja lá o que isso represente simbolicamente aos objetivos desse texto para a Tribuna de debates do XVI Congresso do Partido Comunista do Brasil – PCdoB, começo a escrevê-lo no dia que se comemora 202 anos da Adesão da Província do Grão-Pará à Independência, com sua importância e decorrência, e 130 anos do Museu Emílio Goeldi, renomada instituição científica da Amazônia, sediada aqui em Belém, cidade que reflete em sua geografia e na sua população a história de ciclos econômicos e de lutas políticas como a Cabanagem. Sem dúvida, Belém pelas suas características e localização é emblemática para receber um dos maiores eventos multilaterais do mundo: a COP30. Coincidentemente, para variar, nessa data realiza-se a tão esperada reunião entre Putin e Trump, no Alaska, que inicia o processo de rendição da OTAN na guerra da Ucrânia. Para completar notícias alvissareiras foi marcado o julgamento pelo STF de Jair Bolsonaro com sua trupe golpista, e deu entrada no conselho de ética da Câmara Federal quatro pedidos de cassação de mandato do traidor da pátria Dudu Bananinha.
O XVI Congresso do PCdoB, como expressa suas teses e os atuais acontecimentos, realiza-se em momento histórico de agudização de contradições e prenúncios de mudanças mais profundas, sob crises e conflitos de intensidades, duração e direcionamentos imprevisíveis. A ascensão de um fascista ao governo dos EUA vem acelerando o isolamento do império, em decadência, aumentando ainda mais seu grau de agressividade no campo financeiro- econômico-militar em detrimento da cada vez menor capacidade de persuasão e atração político-ideológica. A Europa enfraquecida e abandonada à sorte, reage tibiamente ora se rendendo de joelhos em acordos vergonhosos com os EUA ora preparando-se para a guerra santa contra a “ameaçadora” Rússia. O Ocidente ainda se une em alianças cada vez mais precárias. As consequências nefastas da altíssima concentração de riquezas, da exponencial exploração do trabalho, das escorchantes medidas neoliberais, inviabilizando as nações, pressionam e não encontram respostas nos combalidos organismos internacionais, sem serventia ao império, indicando a necessidade de transição e ajuste a uma nova correlação de forças para o concerto das nações e real governança mundial.
Na lógica Ocidental baseada no capitalismo, sem respostas aos problemas da humanidade, avança a pobreza e a miséria, disseminando a barbárie para a imensa maioria da população mundial. Tudo o que os povos produzem de riqueza e inteligência queima na fogueira do lucro máximo para um punhado de rentistas que vivem nababescamente em descarado contraste com a situação da imensa maioria da população mundial. Vai-se forjando um conjunto de caldeirões de insatisfeitos, de famélicos, de oprimidos, de desesperanças, de tudo ou nada, que tende a explodir em caos ou encontrar caminhos de solução. Hoje, o poder das grandes mídias controladas pelo império ditando comportamentos, mantendo um domínio com mentiras e obscurantismo não consegue esconder de todo as práticas de rapina e as mazelas consequentes. Cada vez fica mais visível a incoerência entre o discurso e a ação; todas as justificativas são globalmente desmentidas. No rastro dessa saga de bandeira norte-americana e seus aliados, encontram-se genocídios a céu aberto como o do povo palestino praticado pelos sio-nazistas de Israel indignando todo o mundo; todo tipo de desrespeito aos direitos humanos; invasão e destruição de nações; de pilhagens, boicotes e embargos criminosos aos povos. Vai-se construindo com mais força um sentimento anti-imperialista entre os países periféricos.
À lógica do rentismo repõe-se com cada vez mais força o contrapondo da lógica do desenvolvimento social em países que reagiram com alguma autonomia aos ditames do capital fictício e do dólar. Em todos, o papel do Estado foi determinante no caminho da industrialização, com investimento em ciência e tecnologia, aproveitando o potencial interno e as contradições externas; fugindo do neocolonialismo imposto na divisão internacional do trabalho. O reposicionamento capitalista da Rússia com seu poderio bélico-nuclear, o crescimento econômico da Índia com seu poderoso mercado interno, a ascensão do Vietnã e a destacada presença da China socialista, enquanto novo carro-chefe do desenvolvimento social e polo de aglutinação dos países periféricos vêm remodelando a geopolítica mundial através do Brics ampliado e outras integrações regionais como alternativa de relações mais soberanas e solidárias entre os povos. Esse contraponto que inaugura o Sul Global distinto do Mundo Ocidental exaspera o centro imperialista, que busca atingir de todas as formas os países aliados com o intuito de isolar a China. Assim foi com o cerco da Otan à Rússia., que resultou na guerra da Ucrânia, e os ataques tarifários sofridos pelo Brasil e pela Índia.
Nessa disputa, sem a correlação de forças do tempo da “guerra fria”; sem a forte pressão econômica e ideológica do pós-queda do muro de Berlim; com os EUA, a UE e o Japão resolvendo suas crises; sem menosprezar o império sempre agressivo e reativo, a China socialista vai se firmando como referência política e econômica de solução aos graves problemas enfrentados pelos países dependentes. Com a nova Rota da Seda (Cinturão e Rota) investe em infraestrutura e comércio em mais de cem nações que aderiram, estimulando a produção, com geração de emprego e renda. Essa pujança chinesa vem de uma economia planificada, desmascarando a “eficiência” do liberalismo; dirigida para o bem-estar social e o desenvolvimento cultural do povo chinês; reafirmando a importância do poder político e da hegemonia ideológica para as tarefas de construção do socialismo. Essa atual conformação geopolítica já não é mais uma mera disputa dentro do sistema ainda hegemônico; na verdade, retoma-se em novo patamar a disputa de paradigmas com a exitosa experiência de construção do socialismo na China.
Se afirmamos que a China com sua experiência alenta uma perspectiva promissora à humanidade, ao mesmo tempo, devemos aprender com a mesma os métodos. De início, evitando os seguidismos, os ajustes automáticos ou a frustrante ideia de farol; por sua vez assimilando que a ciência revolucionária (marxista-leninista) é sempre aplicada na realidade concreta que se diferencia de país a país; que para realizar a luta anti-imperialista é preciso fortalecer a nação de forma soberana em todos os aspectos, trabalhando todas as contradições e as potencialidades; mas para garantir o processo que leve ao Socialismo, perante determinada correlação de forças, faz-se necessário estar no poder forças político-sociais que inicie o processo e mantenham o rumo até o fim, isto é, o Partido do proletariado e seus aliados. Por outro lado, na atualidade, a derrota do imperialismo, assim como, evitar as reincidências, exige a radicalização da multilateralidade, a formação de fortes polos anti-imperialistas de cunho regional. Ao mesmo tempo, forjar uma nova governabilidade mundial com base na cooperação.