O senador Rogério Carvalho (PT-SE) participou, na noite desta terça-feira (19/8), do programa GloboNews Debate, apresentado pela jornalista Julia Duailibi. O tema central da entrevista foi o tarifaço imposto pelos Estados Unidos contra o Brasil, uma medida que, segundo o parlamentar, ameaça a indústria nacional, os empregos e a própria soberania econômica do país.
Segundo Carvalho, o momento exige clareza diante do embate político de narrativas. “Existe um embate político de narrativas. De um lado, tenta-se passar a ideia de que o governo estaria provocando os Estados Unidos. Mas, na prática, o que temos visto é que o Brasil foi, de fato, agredido”, afirmou.
“Somos uma democracia, com Judiciário, Legislativo e Executivo independentes. Uma política tarifária de outro país não pode ser imposta em razão de uma decisão da Justiça brasileira. Isso é uma agressão ao Brasil”, acrescentou.
Mercosul e a posição do Senado
O senador também destacou a decisão anunciada pelo Mercosul e a posição unânime do Senado Federal contra a medida norte-americana. “Nós, senadores, de forma unânime, manifestamos que não concordamos com essas sanções — ou seja, o tarifaço imposto pelos Estados Unidos, por Donald Trump, contra o Brasil”, pontuou.
“O Brasil deveria ser visto como modelo de relação comercial: temos uma balança equilibrada, ainda que com desvantagem para nós em relação aos EUA. Eles chegaram a dizer, literalmente, que ‘não é legal’ o que o governo americano está fazendo”, revelou.
Lula e a defesa da soberania
Em outro momento, Rogério Carvalho ressaltou que o presidente Lula tem atuado com firmeza em defesa da soberania nacional. “O presidente Lula tem a responsabilidade de preservar a autoestima do povo brasileiro. Ele representa o país. Não pode se apresentar ao mundo humilhado após uma agressão como essa. Até porque, ao contrário da narrativa americana, o Brasil não tem superávit nessa relação comercial, mas sim déficit”, ressaltou.
“Portanto, os EUA usam desinformação e mentiras para justificar a sobretaxa de 50%”, completou.
Ele ainda lembrou que, diante de ataques anteriores, a postura do presidente Lula foi a de buscar alternativas pacíficas. “Na última agressão dos EUA, qual foi a resposta de Lula? ‘Não vamos retaliar. Vamos procurar novos mercados.’ Isso não é agressão — é postura de estadista”, defendeu.
O parlamentar também destacou o programa Brasil Soberano, anunciado recentemente, que prevê R$ 30 bilhões para socorrer os setores atingidos pelo tarifaço.
Eduardo Bolsonaro e conspiração contra o país
Além disso, Carvalho não poupou críticas à atuação da família Bolsonaro. Para ele, há uma tentativa deliberada de submeter os interesses do Brasil a uma pauta pessoal. “O deputado Eduardo Bolsonaro deve ser cassado. Ele abandonou o mandato e deve ser investigado por conspirar contra a soberania nacional e contra as instituições brasileiras”, denunciou.
“Há uma conspiração em curso para submeter a economia e os empregos do Brasil aos interesses de uma única família”, disparou.
Relações internacionais e riscos institucionais
O senador alertou, ainda, para o caráter institucional da agressão americana. “Quando o presidente dos Estados Unidos coloca em documento oficial que sobretaxará o Brasil por conta de uma decisão do Judiciário brasileiro que ele deseja reverter, trata-se de uma agressão institucional. Não é física, mas é uma tentativa clara de intervir no modo de funcionamento do Brasil”, comentou.
Ele comparou a situação ao atual cenário político dos EUA. “Estamos falando de um país que já foi modelo de democracia para o Ocidente e que hoje preocupa o mundo com os rumos da sua própria institucionalidade. O próprio presidente americano chegou a mandar prender juízes que o contrariaram. Imagine se isso ocorresse no Brasil”, questionou.
Defesa da democracia brasileira
Ao final da entrevista, Rogério Carvalho reforçou a importância da atuação firme das instituições brasileiras, em especial do Supremo Tribunal Federal. “Na minha opinião, o ministro Alexandre de Moraes está cumprindo seu dever: defender o Brasil, os brasileiros e a democracia. Se não houver rigor nas investigações sobre a tentativa de golpe de 2023, corremos o risco de repetir 1964”, decidiu.
“O STF foi atacado, as urnas foram questionadas, houve a invasão dos Três Poderes. Isso não é narrativa, é realidade. E precisa ser enfrentada”, concluiu.