
Soberania brasileira e eleiçoes presidenciais de 2026
por Gustavo Tapioca
O cerco internacional contra a democracia brasileira ganha novos capítulos a cada dia. Nesta terça-feira, 19, o Brasil 247 revelou que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o blogueiro bolsonarista Paulo Figueiredo já têm data marcada para iniciar uma ofensiva política contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Segundo reportagem, a dupla desembarcará na Europa em 12 de setembro, justamente no dia em que termina o julgamento de Jair Bolsonaro no inquérito do golpe.
Trata-se de um ato de traição explícita, no qual dois brasileiros se articulam no exterior para atacar as instituições do próprio país, ecoando a estratégia de Donald Trump e da extrema-direita internacional. Eduardo e Paulo não agem como opositores políticos legítimos, mas como cúmplices de um projeto golpista que busca subjugar o Brasil aos interesses dos Estados Unidos..
É nesse contexto que ganha força a reflexão de Frei Betto, em artigo publicado recentemente no Diário do Centro do Mundo: “Seremos tão ingênuos a ponto de acreditar que Eduardo Bolsonaro teve poder suficiente para convencer Trump a abrir uma guerra econômica contra o Brasil, e ainda exigir como botim a anulação de todos os processos contra seu pai?” Mais do que uma provocação, a pergunta é um alerta sobre os verdadeiros interesses que movem a ofensiva norte-americana contra o Brasil.
Eduardo é uma peça menor na extrema-direita internacional
Frei Betto ironiza a narrativa de que Eduardo Bolsonaro teria convencido Trump a impor tarifas e sanções contra o Brasil. Para ele, essa versão é ingênua. Eduardo não passa de uma peça menor num tabuleiro muito maior, em que a extrema-direita internacional se articula para enfraquecer democracias e consolidar agendas autoritárias.
Trump não age por lealdade ao clã Bolsonaro, mas porque enxerga no Brasil um risco geopolítico. Um país soberano, democrático e ativo no cenário internacional, capaz de liderar o Sul Global e de fortalecer sua posição nos BRICS+.
Soberba imperial versus soberania nacional
Um dos pontos mais graves é a chantagem associada às medidas impostas por Trump. Ou seja, a exigência de que fossem anulados os processos que pesam sobre Jair Bolsonaro. Tal condição não se trata de proteção a um aliado, mas de ingerência direta sobre as instituições brasileiras. Caso fosse aceita, essa imposição teria desmoralizado o Supremo Tribunal Federal e enfraquecido a democracia nacional. É a expressão da soberba imperial, que insiste em tratar o Brasil como território tutelado.
Ao contrapor “soberba” e “soberania”, Frei Betto vai além de uma metáfora. A soberba é a arrogância histórica dos Estados Unidos, que se comportam como donos do destino das nações latino-americanas. A soberania é o direito de o Brasil definir seu futuro sem tutela externa. Essa disputa é recorrente na história brasileira e revela que não estamos diante de um fenômeno novo, mas da atualização de um velho padrão de intervenção.

O fio histórico da ingerência norte-americana
O fio histórico da ingerência norte-americana mostra que essa lógica se repete em diferentes momentos da nossa história. Em 1964, para citar apenas um exemplo entre vários, o golpe militar que derrubou João Goulart contou com apoio explícito de Washington antes, durante e depois do golpe.
A chamada Operação Brother Sam posicionou navios da Marinha norte-americana na costa brasileira para garantir a queda do presidente, abrindo caminho para um regime que sequestrou, torturou, matou e sumiu com os corpos dos assassinados pela tortura — os “desaparecidos” que ousaram se rebelar contra uma ditadura sanguinária, sobretudo após o AI 5, o golpe no golpe promulgado em 13 de dezembro de 1968, quatro anos após o golpe de 1964. Uma tragédia que durou 21 anos até a redemocratização em 1985.
A Lava Jato e o Departamento de Justiça dos EUA
Nos anos 1990, o governo norte-americano voltou a pressionar o Brasil por meio de planos de abertura de mercado e de privatizações em larga escala, enfraquecendo empresas estatais estratégicas.
Mais recentemente, entre 2014 e 2021, a Operação Lava Jato foi conduzida em estreita colaboração com o Departamento de Justiça dos EUA, levando à destruição de setores inteiros da economia nacional.
Agora, em 2025, a ofensiva reaparece sob a forma de tarifas impostas por Donald Trump, associadas a chantagens diplomáticas e tentativas de pressionar o Judiciário brasileiro.
Eduardo e Paulo: cúmplices do golpismo
A viagem marcada à Europa reforça o papel de Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo como agentes do fascismo global e da extrema-direita internacional. Ao conspirarem contra o STF, atacarem em solo estrangeiro Alexandre de Moraes, outros ministros do STF, o ministro da Saúde Alexandre Padilha e profissionais da OPAS/OMS ligados ao programa Mais Mádico, ambos se comportam como verdadeiros traidores da pátria, dispostos a usar articulações internacionais para enfraquecer a democracia brasileira.
Eduardo, longe de ser um articulador autônomo, é apenas um peão da rede global da extrema-direita de Steve Bannon, seu amigo pessoal nos EUA, que acha “Eduardo Bolsonaro uma das pessoas mais importantes no nosso movimento ao redor do mundo e será presidente do Brasil num futuro não tão distante”.
Essas declarações foram feitas durante almoço nos Estados Unidos, ao lado de Eduardo, promovido por Bannon durante as comemorações de posse de Trump como presidente. Também estiveram presentes figuras como Jason Miller, conselheiro da campanha de Trump, e a eurodeputada Marion Le Pin, sobrinha e representante da ultradireitista francesa Marine Le Pin. E mais. Bannon elogiou não só Eduardo como também seu pai Jair Bolsonaro com o título de “lutadores pela liberdade no Brasil e na América do Sul”.
A situação de Eduardo como traidor da pátria ainda é mais complicada do que a de Paulo Figueiredo por se tratar de um ainda deputado federal licenciado, que fugiu para os Estados Unidos para agir abertamente contra o Brasil. Por ironia, ele foi eleito por S.Paulo, o estado brasileiro que mais sofreu com as sanções econômicas impostas pelo tarifaço de Trump, que ele, os Bolsonaros e a extrema-direita brasileira aplaudiram com entusiasmo.
Eleição presidencias de 2026
O alerta de Frei Betto é claro. Reduzir essa trama a uma manobra de Eduardo Bolsonaro é cair na armadilha da ingenuidade. O verdadeiro alvo é o Brasil, sua democracia, seu Judiciário, sua inserção internacional e seu futuro como potência independente.
Trump mira o Brasil não por Bolsonaro, mas por Lula, pelo Supremo Tribunal Federal, pelo BRICS+, pela aproximação com a China e pela possibilidade de um projeto de desenvolvimento autônomo. A disputa, portanto, é entre soberba e soberania. A soberba imperial, que insiste em tutelar países do Sul Global, e a soberania brasileira, que precisa se afirmar diante das pressões externas.
Nesse contexto, o resultado das eleções de 2026 assume um caráter crucial com dois caminhos nítidos em combate. É hora de escolher entre a continuidade da luta pela soberania ou a sujeição completa à soberba norte-americana. Frei Betto insiste e aconselha a seus leitores e seguidores a optar por “continuar o combate para desmascarar a chantagem geopolítica por trás da ofensiva de Trump e da extrema-direita nacional e internacional contra o Brasil ou sucumbir à tutela das vontades imperialistas.”
Não há meio termo, nem terceira via.
Gustavo Tapioca é jornalista formado pela UFBa e MA pela Universidade de Wisconsin. Ex-diretor de Redação do Jornal da Bahia. Assessor de Comunicação da Telebrás, Oficial de Comunicação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do IICA/OEA. Autor de Meninos do Rio Vermelho, publicado pela Fundação Jorge Amado.
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