Bianca Brehm, do Coletivo Rebeldia e militante do PSTU – Curitiba (PR)

Betta Alves, uma das poucas docentes negras do curso de psicologia, foi demitida sem aviso prévio após denunciar um caso de racismo na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), onde lecionava.

A professora começou a receber ataques de alunas logo após a liberação das notas de uma resenha crítica sobre o livro “O normal e o patológico”, de George Canguilhem. Dos trabalhos entregues, 54% foram identificados como plágio pelo próprio sistema da PUC-PR. Ao confrontar as alunas sobre o plágio, os ataques começaram.

Diante o fato, quatro alunas teriam dito que ela deveria “se colocar no seu lugar”. Nos dias seguintes, os ataques pioraram, ocorrendo inclusive em locais mais públicos de área comum, como os corredores. As alunas estariam reclamando de terem sido flagradas em plágio por “uma professora assim”. A professora ainda relata que a chacota continuou em sua aula com falas do tipo “isso que dá a gente ter professor assim”.

Betta procurou a coordenação do curso que a orientou que falasse com a ouvidoria da instituição, isso foi feito em maio. Somente em setembro, praticamente 4 meses após a denúncia, a professora foi ouvida.

O desligamento ocorreu em dezembro de 2024, três dias antes do fim de seu contrato de trabalho. As denúncias institucionais foram arquivadas e Betta sofreu um silenciamento da instituição durante um momento muito delicado de tratamento de saúde (câncer). A PUC-PR por meio de uma nota no site da instituição disse que Betta Alves foi “acolhida no corpo docente da PUC-PR com respeito, integração e compromisso institucional”.

A violência sofrida por Betta não é um caso isolado, se trata de uma das inúmeras denúncias de racismo dentro da instituição, ora cometidas por alunos, ora por professores e que encontra na Universidade um local de omissão e impunidade.

O racismo não diz respeito apenas à ofensa direta, ele também acontece na falta de proteção, no silêncio, na não responsabilização da violência.

Racismo não é respeito, é crime inafiançável e imprescritível. Temos um país formado em sua maioria por pessoas negras, de 55,5% segundo o Censo do IBGE – 2022. A herança racista cumpre papel fundamental, oprimindo as pessoas negras no país com mais pessoas negras fora do continente africano. Intimidando a presença de pessoas pretas, em universidades e meios acadêmicos. Betta, por denunciar o racismo que sofreu, foi punida com a demissão. Disfarçado de que “o prazo estava quase no fim pra fechar o contrato”.

Justiça por Betta

Visto isso, o movimento estudantil está se organizando para lutar por justiça por Betta e por todos os estudantes que sofreram algum tipo de violência na instituição. Já ocorreu um ato dentro do campus no último dia 4, assim como uma assembleia geral dos estudantes no mesmo dia com pauta única. Continuam havendo reuniões de mobilização. Nessas reuniões foi encaminhado uma panfletagem para que mais pessoas saibam do caso. A panfletagem ocorreu no dia 13 pela manhã dentro do campus. Porém a panfletagem que aconteceria a noite. teve de ocorrer nas entradas da universidade, ao lado de fora, pois as pessoas que participaram da panfletagem foram barradas pela segurança.

Pedimos a readmissão da professora, políticas de permanência estudantil e por uma uma reunião com o reitor para que os estudantes e a comunidade acadêmica possam serem ouvidos.

O racismo, assim como as demais opressões, cumprem o papel de dividir a nossa classe. A verdadeira divisão que realmente existe no mundo é entre pobres e ricos. Entre quem vai ter o que comer e quem passará fome. Quem vai ter luxo e conforto e quem vai dormir ao relento. Assim como entre quem tem de trabalhar para sobreviver e quem não tem nem ideia do que é um único dia de trabalho.

O racismo “aparece” para dificultar a identificação coletiva dos trabalhadores e das pessoas pobres. Servindo como atenuante para explorar ainda mais profundamente um setor da classe.

Por isso, independente de gênero, idade, etnia, nacionalidade, sexualidade ou qualquer outro fator é imprescindível que toda a classe trabalhadora e desempregada lute contra o racismo. É uma tarefa imediata.

Esse sistema, o capitalismo, reduz a vida das pessoas, muitas vezes, a porcaria de um pedaço de papel, que é o dinheiro. Os ricos e bilionários não precisam nem sonhar em se preocupar com tais questões para a sua própria sobrevivência. É preciso construir uma nova sociedade, sem exploração e sem opressão, uma sociedade socialista. Que seja organizada e construída coletivamente com valores morais que realmente atendam a nossa classe. Porém, para chegar a tanto, é preciso acabar com as opressões desde já.

O silêncio também é posicionamento. Não basta ser contra tudo isso e não fazer o possível de mobilização por justiça. Não basta ser contra o racismo, é preciso ser antirracista todos os dias. Se junte nessa luta contra o racismo, exigindo respeito a todos os pretos e pretas dentro e fora da universidade.

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Last Update: 19/08/2025