Nas últimas semanas, tivemos bons debates internos e textos importantes sobre a formação teórica no Partido. Concordo com os camaradas que destacaram que a Escola João Amazonas e a Fundação Maurício Grabois são patrimônios políticos inestimáveis, com um currículo sólido e bibliografia marxista-leninista — Marx, Engels, Lênin, Gramsci, Losurdo — que orienta nossa linha e nossos cursos. Esse acervo é conquista coletiva e parte fundamental da identidade do PCdoB.
Mas a luta de ideias não acontece apenas na escolha de autores e textos-base. Ela atravessa também a forma, a linguagem, os conceitos e a maneira como transmitimos e aplicamos o marxismo-leninismo na formação da militância. E é aqui que vejo um problema que não é de semântica, mas de linha política: as tentativas recorrentes de conciliar o marxismo com categorias, jargões e concepções vindas do pós-modernismo, do identitarismo e de correntes reformistas.
Essa infiltração não é acidental. Ela se manifesta na redação de materiais, na forma de expor conceitos, na substituição de categorias marxistas por termos “neutros” ou “mais palatáveis” a setores que não compartilham do nosso projeto revolucionário. Quando isso acontece, ainda que a bibliografia formal siga sólida, a essência do método se dilui e a centralidade da luta de classes vai sendo deslocada.
Um exemplo claro é o uso recorrente, sem mediação crítica, da figura e das ideias de Paulo Freire. É preciso dizer com franqueza: a pedagogia freireana tem base idealista, ancorada na fenomenologia hegeliana e no existencialismo, e não parte da concepção materialista da história. Quando comunistas adotam Freire como referência formativa, não para criticá-lo, mas para “dialogar” com setores progressistas resistentes à pedagogia histórico-crítica ou à concepção marxista-leninista de educação, estamos fazendo uma escolha política. Essa escolha pode parecer estratégica no curto prazo, mas tem um preço: reforça na militância categorias estranhas ao marxismo, harmoniza contradições de classe e enfraquece a compreensão da educação como parte da luta pela superação do capitalismo.
Não se trata de negar a necessidade de diálogo com outros campos progressistas, mas de reconhecer que esse diálogo só é verdadeiramente revolucionário se for feito a partir da nossa concepção de mundo, sem concessões que distorçam o método. A história do movimento comunista mostra que quando a formação teórica cede ao ecletismo, perde-se a clareza estratégica e abre-se caminho para o taticismo vazio ou para adaptações ao inimigo de classe.
Por isso, quando falamos em fortalecer a formação marxista-leninista, não podemos nos limitar a garantir uma boa bibliografia ou cursos de qualidade. Precisamos assegurar que o conteúdo seja transmitido com rigor metodológico, que a linguagem reflita nossas categorias e que as referências externas sejam apresentadas a partir de uma análise materialista — inclusive para que a militância aprenda a reconhecer e enfrentar concepções idealistas e reformistas.
A formação é um dos instrumentos centrais da nossa luta de ideias. É nela que armamos a militância para compreender a realidade como totalidade, identificar o núcleo das contradições e intervir politicamente com estratégia socialista. Essa tarefa exige vigilância ideológica constante, tanto no conteúdo quanto na forma. Porque, no fim, a disputa pela hegemonia não acontece apenas no que dizemos, mas em como dizemos — e, principalmente, a partir de onde dizemos.
Se queremos um PCdoB capaz de conduzir a luta revolucionária no Brasil, precisamos garantir que cada curso, cada texto e cada material formativo sejam expressão viva e coerente do marxismo-leninismo, sem conciliações que comprometam nossa linha. Esse é o desafio que temos pela frente: transformar a base sólida que já construímos em prática formativa que não apenas resista, mas avance na luta de classes do século XXI.