
Aos 17 anos, a estudante Hannah Cairo virou manchete mundial ao resolver um enigma matemático que intrigava especialistas havia quatro décadas. O feito, considerado improvável para alguém que sequer concluiu o ensino médio, foi publicado em 10 de fevereiro, deixando a comunidade científica em choque e admiração. Com informações do Estadão.
Filha de um desenvolvedor de software, Cairo cresceu em Nassau, nas Bahamas, educada em casa ao lado dos irmãos. Autodidata, iniciou os estudos de matemática na Khan Academy e, aos 11 anos, já dominava cálculo. Aos 14, havia concluído o equivalente a um currículo universitário avançado, estudando livros de pós-graduação e recebendo orientação pontual de professores como Martin Magid (Wellesley College) e Amir Aazami (Clark University).
Apesar do talento, a rotina de ensino domiciliar lhe parecia sufocante. “Havia uma mesmice inescapável… A matemática era outro mundo que eu podia explorar”, disse, lembrando o isolamento causado pela pandemia que transformou os números em refúgio e libertação.
Em 2021, com o isolamento social causado pela Covid-19, a família ficou em Chicago, onde Hannah participou dos Círculos de Matemática de Chicago. Depois, ingressou em um programa de verão do Berkeley Math Circle, listando disciplinas que somavam um diploma completo de graduação — feito aos 14 anos. Para a fundadora do programa, Zvezdelina Stankova, “Hannah está vários níveis à frente”.
Ainda insegura sobre seu real talento, Hannah continuou avançando. Em 2023, após mudança para a Califórnia, ingressou em cursos de pós-graduação em Berkeley. Foi ali, em uma disciplina ministrada por Ruixiang Zhang, que encontrou o problema que mudaria sua trajetória: a conjectura de Mizohata-Takeuchi. Proposta nos anos 1980, a hipótese tentava descrever padrões de energia em funções matemáticas. Cairo demonstrou, com simplicidade e precisão, que a conjectura estava errada.
“Não me lembro de ter visto nada parecido”, admitiu Itamar Oliveira, da Universidade de Birmingham, que tentava provar a validade da conjectura havia dois anos. Já o escocês Tony Carbery, pesquisador do tema há décadas, descreveu o trabalho como “extraordinário”.
O feito não apenas desmontou uma suposição histórica, como também alterou os rumos de outras questões da análise harmônica, incluindo a conjectura de Stein. Para Oliveira, “o artigo de Cairo é um exemplo de como conjecturas elegantes podem falhar de formas inesperadas”.

Sem diploma do ensino médio ou graduação, Hannah desafiou barreiras burocráticas. Rejeitada por seis programas de doutorado, acabou aceita pela Universidade de Maryland, onde começará sua trajetória acadêmica formal no outono. O PhD será, ironicamente, seu primeiro diploma.
Humilde, curiosa e de fala calma, Cairo resume sua motivação: “A matemática era outro mundo que eu podia acessar a qualquer momento apenas pensando nela. Esse processo me ajudou a vê-la de forma diferente de muitas pessoas.”